Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Ouça tudo, filtre, e siga seu caminho.
Por por Cristhiane Ortiz
01/11/2018 - 15:10

Foto: arquivo

 O mundo tem pressa, as pessoas se cansaram de ouvir, todos desejam falar, e ouvir tornou-se raridade. Quando alguém diz sentir alguma dor, apressamos a mostrar que a nossa dor é maior. Ninguém tem paciência de ouvir ninguém!

Hoje ouvi num jornal na televisão que as livrarias estão fechando suas portas no Brasil, o dono de uma rede de livrarias disse que para gostar de ler, é preciso saber ouvir, e as pessoas hoje não têm tempo(vontade) de ouvir, pois para ouvir o outro é necessário se dispor, é preciso se entregar, estar desarmado, e todos parecem estar em defesa, não querem ficar vulneráveis, receptivos, pelo contrário basta uma palavra mal colocada, ou mal interpretada, é motivo para ataques virulentos, à prova disso foi a eleição para eleger o novo presidente, as pessoas se digladiando o tempo todo, amizades se desfazendo, troca de ofensas, como se o mais importante fosse atacar quem se posicionava diferentemente e não defender seu ponto de vista.

A polarização se instaurou, em todos os assuntos, e na política atingiu o seu ápice com ataques e ofensas, fez emergir o que se passa no íntimo, brotar a flor da pele o sentido animalesco que existe em nós. E nos confirmar, saber que quando falamos do outro mostramos muito mais de nós! A verdade é que fomos obrigados a conviver e aceitar as crenças e valores que as pessoas têm a respeito de tudo.

Segundo o filósofo Leandro Karnal, doutor em história social pela USP, cada um tem uma visão, uma perspectiva diferente, e como deve ser o debate de ideias, é no contraditório, garantem os advogados, que se faz a justiça, não haveria julgamento se não houvesse um advogado de defesa e um promotor, não haveria julgamento se não houvesse duas posições distintas, o julgamento pode se tornar justo exatamente porque as pessoas pensam de formas distintas, apenas nos fascismos a igualdade é vista como um objetivo acima de todos.

O professor Karnal diz: ouçam tudo, entendam tudo, escolham o que aceitar, o que rejeitar, como sempre digo não tenham gurus, debatam livremente, discordem livremente, isso se chama conhecimento! Ele observa que existem diferentes formas de comunicações, reflete que as pessoas não estão mais próximas ou mais distantes, por causa da internet, o mundo não era melhor sem a internet, ou agora pior com a internet.

Entendo que, talvez sejamos nós que tenhamos mudado, o mundo evoluiu, com certeza, agora temos um “mundo líquido” como definiu Balman, as relações também se tornaram líquidas, e se desfazem como fumaça no ar, ao menor problema, tudo é descartável, não somente os objetos, que parecem feitos para não durar, mas os relacionamentos de amizade, ou afetivos, também são frágeis, e perecíveis. O evidente é que o mundo mudou, e as pessoas também, “decifrar o mundo exige fazer as melhores perguntas”, e de fato podemos nos equivocar diante de determinadas situações, como também percebemos as intenções das pessoas pelas perguntas que nos fazem, através das perguntas antevemos o que desejam de nós, e cabe-nos reagir, ou resignarmos, no entanto, você quer deixar uma pessoa desagradável frustrada? Fazer com ela engula o próprio veneno? Sorria, não seja reativa, não responda, caso perceba suas intenções. Sei que não é fácil, eu mesma, tenho dificuldade, dá vontade de dizer aquele velho vai se lascar! Às vezes é necessário, para que ela entenda que passou dos limites.

Portanto, devemos abandonar o vício da necessidade de aprovação do outro. O espírita André Luiz ponderou que: não se deforme ou se descaracterize para tentar "caber" no espaço apertado do pensamento que o outro tem em relação a você. Não vale a pena, e nunca conseguiremos agradá-los. A carência emocional faz com que tenhamos a necessidade de agradar um grupo ou alguém para suprir a sensação de solidão, mas a grande verdade da vida é que somos todos sós, por isso projetamos em coisas, e pessoas e quase sempre acabamos nos frustrando, por despejar no outro a responsabilidade de adequação, e personificação, quando deveríamos alimentar perspectivas e não expectativas, assim não nos frustraríamos tanto! E eventualmente, aprender a apreciar o que temos de positivo em nós, e em nossas vidas, sem nos equipararmos a nada e a ninguém, cada um de nós tem seu tempo e limitações, onde você possui dificuldade o outro pode ser excelente, e vice versa.

Precisamos é reavaliar o que de fato é essencial para nós, como as pessoas que nos acrescentam afetivamente, e nos fazem acreditar em nosso potencial. Largar mão das que não perdem a oportunidade de destilar um veneno, uma ironia, de tentar estragar a sua alegria, e de minar sua disposição. Infelizmente, esse tipo é comum! Sabiamente Antonie de Saint- Exupéry, já profetizou no livro O pequeno Príncipe, que “é preciso suportar duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas”, enquanto o “paraíso” não chega, bora aproveitar a paisagem e desfrutar da companhia dos que se propõem atravessar contigo os atalhos e pontes.” Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o.”

 

Cristhiane Ortiz Lima é graduada em Letras na Universidade do Estado de Mato Grosso. Mestranda em Linguística na Universidade do Estado de Mato Grosso.

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