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Campanha pede apoio para os pescadores artesanais do Pantanal
Por Assessoria de Imprensa do Projeto Bichos do Pantanal
02/12/2014 - 19:40

Foto: Assessoria de imprensa do Projeto Bichos do Pantanal

Uma campanha de financiamento coletivo busca apoio para que os pescadores do Pantanal de Cáceres consigam adquirir uma máquina de gelo para a Colônia Z2, no Mato Grosso.
 
A proposta foi lançada esta semana pelo Projeto Bichos do Pantanal e pode ser acessada na plataforma de Crowdfundingkickante pelo endereço: http://www.kickante.com.br/sustentar
 
A iniciativa é uma forma de ajudar o grupo a manter as suas tradições seculares de pescaria no Pantanal e também de preservar o conhecimentoque eles detém sobre a natureza única desse ecossistema.
 
A colônia de Pescadores de Cáceres, a Z2 é formada por 811 profissionais e integra uma das comunidades mais antigas dessa região isolada do país.
 
Por meio da pesca artesanal eles sustentam, em coexistência harmônica com o meio ambiente, cerca de quatro mil pessoas a partir da relação direta com o rio Paraguai e os ciclos que moldaram o Pantanal há milhões de anos.
 
Apesar da importância da atividade, por falta de condições adequadas de estocagem e gelo, muitas vezes esses profissionais acabam perdendo grande parte do pescado, fruto de semanas de trabalho. A falta de gelo para estocar os peixes de forma satisfatória ocorre porque a maioria não tem condições de arcar com o combustível das embarcações para percorrer as longas distâncias entre a cidade até os locais de pescaria onde acampam por dias seguidos e vivem de forma coletiva.    
 
A necessidade de permanecerem dias seguindo os cardumes em busca de melhores pontos para a pescaria é outra das razões que levam ospescadores artesanais do Pantanal a terem que permanecer por até dois, ou três meses, longe de suas casas, acampados em áreas remotas a 200 quilômetros da cidade mais próxima.  Ir para a cidade apenas para comprar gelo acaba se tornando uma tarefa quase impossível, uma vez que a remuneração desses pescadores dificilmente ultrapassa dois salários mínimos ao longo do ano.
 
Por lei, os pescadores profissionais de Cáceres só podem trabalhar de forma tradicional, ou seja: apenas com o anzol e sem redes.  A pesca profissional na região é altamente regulamentada e fiscalizada, e existem medidas mínimas de tamanho para todas as espécies de peixes poderem ser comercializadas.
 
A atividade também é limitada pelo tempo da natureza. Durante quatro meses do ano, os pescadores profissionais são proibidos de pescar para vender, pois os peixes estão no período de reprodução, conhecido como defeso ou piracema.
 
O foco da campanha é apoiá-los para instalar uma máquina de gelo na Colônia Z2, de Cáceres.  A ideia é apoiar os 811 pescadores tradicionais de Cáceres em prol da continuidade dessa profissão que agrega uma grande saber sobre a fauna, flora e os ciclos do Pantanal.
 
“A máquina de gelo é uma forma de podermos atender os 811 pescadores da colônia e também melhorar a nossa forma de estocagem”, afirma Elza Bastos Pereira, presidente da associação de pescadores da colônia Z2, que tem uma produção mensal de cerca de 50 mil quilos de peixes. “Assim os pescadores vão conseguir manter os peixes bem acondicionados nos acampamentos e trazê-los ainda frescos para vender nas cidades, sem risco de perderem a produção”.
 
As técnicas dos pescadores da região do Alto Pantanal, no Mato Grosso, são seculares. Muitos ainda praticam a “pesca de batida”, herdada dos índios Guatós, também conhecidos como os Índios Canoeiros, que habitavam todo o Pantanal, antes da chegada dos europeus no século XVII.

“Essa é uma pesca de espreita, serve para pegar pacu. Você monta o anzol bem raso, na altura de 30 centímetros e pendurado em uma árvore, daí coloca uma fruta, que pode ser laranjinha ou marmelada, e espera o pacu pegar. Só que para isso temos que ficar escondidos no mato, quando ele fisga, a gente puxa”, explica Virgílio Silva, pescador profissional de 65 anos, especialista em pescar esse peixe da família dos caracídeos (a mesma da piranha), que é uma das espécies comerciais mais apreciadas no Pantanal.
 
O conhecimento que os pescadores detém sobre os rios e a fauna da região é fruto de uma cultura secular e transmitida de forma oral.  “Eu aprendi a pescar com os velhos pescadores que viviam nesse rio, como seu Camito, Emílio, São Sebastião e Manoel Delucke”, diz Silva. 

“Nem barco com motor tinham. Chegavam aqui embaixo, nos acampamentos, remando em canoa de um só pau”, explica se referindo a tradicional canoa feita a partir da escultura de único tronco de árvore.
 
O fim da cultura ribeirinha no Pantanal pode ser, além de uma grande perda cultural, o extermínio de um saber ancestral sobre os ciclos que envolvem a sobrevivência harmônica no Pantanal.

“Eles possuem muitas informações importantes para a ciência sobre as plantas medicinais, as plantas usadas na pescaria e particularidades ainda não registradas sobre os peixes e animais da região”, afirma Claumir Muniz, pesquisador de ictiologia do Projeto Bichos do Pantanal e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
 
A iniciativa desta campanha é mais uma ação do  Projeto Bichos do Pantanal, realizado pelo Instituto Sustentar com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
 
O Projeto busca promover o desenvolvimento local, gerar desenvolvimento e empoderamento das comunidades tradicionais do Pantanal, além de atuar com pesquisas para preservação e conservação de espécies da fauna. A ideia é apoiar os saberes locais e viabilizar as necessidades dos pescadores como uma forma de preservação do Pantanal.
 
“O peixe pescado pelos pescadores do rio Paraguai não é apenas um produto, algo que possa ser igualado ao peixe de tanque, vendido em supermercados. Esse peixe é pescado de forma tradicional e agrega em si todo um modo de vida ribeirinho. Ao ajudarmos os pescadores da região estamos garantido a continuidade desse conhecimento, que é uma verdadeira biblioteca viva para compreendermos melhor a natureza e os ciclos do Pantanal”, afirma Jussara Utsch, coordenadora do Projeto Bichos do Pantanal.
 
“Acreditamos que é impossível preservar a natureza sem ajudarmos os povos que vivem em contato direto com o meio ambiente a terem uma sobrevivência digna”, conclui Douglas Trent, pesquisador-chefe do Projeto Bichos do Pantanal.
 
Sobre o Pantanal de Cáceres:

Essa é uma das áreas mais singulares do Complexo do Pantanal, localizada dentro do região do Alto Pantanal, onde estão as cabeceiras dos rios que formam esse ecossistema.

 

Projeto Bichos do Pantanal lança Crowdfunding em prol de pescadores do Pantanal, no Mato Grosso

O Pantanal de Cáceres  também está localizado próximo de um ponto de transição com a Bacia Amazônica, essa proximidade entre duas importantes bacias hidrográficas (Amazônica e do Prata) é uma das características que tornam a região do Pantanal de Cáceres um ponto único para a conservação ambiental.
 
Sobre o Bichos do Pantanal: Realizado pelo Instituto Sustentar, uma organização sem fins lucrativos, o Projeto Bichos do Pantanal atua em Cáceres, no Mato Grosso, com foco em três pilares de ação: a conservação da biodiversidade, a educação ambiental e a geração de renda para a comunidade local.

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