A partir de um anestésico para animais, jovens cuiabanos estão se rendendo ao barato dado pela ‘Super K’, a droga sintética do momento. Apesar de desconhecida pela Polícia Civil de Mato Grosso, ela já é presente em boa parte do mundo. Com base na Ketamina, também conhecida como quetamina ou cetamina, a droga oferece um efeito analgésico e amnésico, mas o uso indiscriminado pode oferecer muitos riscos, e, em casos isolados, a morte.
Desde os anos 70, a Ketamina já era utilizada em festas de música eletrônica da Inglaterra, assim como o ecstasy, o LSD (conhecidas também como bala e doce) e outras.
Aos 24 anos, Júnior (nome fictício) consome a droga ao menos uma vez na semana, quando sai para a noitada. Ele experimentou a ‘Super K’ em São Paulo. Mas recentemente veio a Cuiabá comprar o produto.
“Sempre usei bala [ecstasy], doce [LSD] e lança [perfume]. Quando me apresentaram a K, me falaram que o efeito era o mesmo, só que mais intenso. Eu experimentei e virei fã”, disse o jovem, sem se dar conta dos riscos.
Alucinações, movimentos leves, sensação de pisar nas nuvens e com a alma fora do corpo. Foram essas as reações que o jovem descreveu sentir ao cheirar a substância, que pode ser encontrada em pó ou líquida.
Quando só tem acesso à forma líquida da droga, o processo se torna mais caseiro. “Em casa, quando eu evaporo o líquido, se formam pequenas raspas, como um pó. Depois é só cheirar. É mais trabalhoso, mas vale a pena”.
Conforme ele, em São Paulo, por terem o conhecimento do uso da substância como droga, o valor chegou a dobrar em diversos estabelecimentos.
“Em Cuiabá só é vendida com receita em casas especializadas. Dei um jeito e consegui comprar. Mas isso eu não posso contar como foi, pois envolvem outras pessoas. Comprei dentro da legalidade, posso dizer”, explicou.
De fato, a compra da ketamina é complexa. Sem se identificar, a reportagem procurou as lojas especializadas em produtos veterinários e tentou comprar um frasco de 20 mililitros - sem sucesso.
Das 10 lojas procuradas, apenas três tinham uma dose para ser vendida, mas nenhuma cedeu à ausência de uma receita assinada por um veterinário.
O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária, Verton Silva Marques, disse ao Diário que já tinha conhecimento do uso da substância como droga alucinógena.
Por isso, a fiscalização do conselho se tornou mais dura em relação à venda do produto. “Tanto é que a venda só é autorizada com a apresentação de uma receita assinada por um veterinário. Fora que, em todas as lojas que vendem esse produto, é necessário ter um profissional da área atuando na frente”, explico.
PROIBIÇÃO - Uma veterinária que preferiu não ser identificada contou que ainda como estudante, em uma universidade particular da cidade, a substância chegou a ser proibida, pois os frascos estavam desaparecendo.
Verton Silva Marques, do CRMV, relatou que já havia tomado conhecimento da situação, tanto que a fiscalização do conselho passou a atuar com um livro de controle. “Não só nas faculdades, mas também nas clínicas, o controle aponta quanto do medicamento entrou, quanto foi usado e o quanto sobrou”.
O presidente alertou para o uso da droga, segundo ele, pode causar graves danos para o usuário. “Inalando ou cheirando, é tudo muito grave. Pode causar convulsões, desmaios, vômito, além de parada cardíaca e respiratória”.
O veterinário ainda ressaltou que a mistura da substância com demais drogas e com o álcool, pode potencializar os efeitos colaterais.
Sobre isso, Júnior alegou que não teme. Segundo ele, apesar de usar, sabe dos perigos e evita entrar na ‘K hole’, conhecido também como o buraco, ou o fundo do poço.
A Reportagem procurou a coordenação das faculdades de Medicina Veterinária de Cuiabá, mas não obteve retorno.
Conforme a delegada Alana Cardoso, ex-titular da Delegacia de Entorpecentes de Mato Grosso, não há conhecimento do uso da droga aqui.
Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Civil afirmou não existir nenhuma ocorrência envolvendo a droga.