Maioria dos acidentes com animais na pista ocorre no Pantanal, diz PRF-MT
Por G1 e Diário de Cáceres
30/07/2012 - 16:23
Mais de 69 acidentes foram registrados de janeiro a julho deste ano nas rodovias federais de Mato Grossoenvolvendo animais que tentam atravessar a pista e são atropelados. Destes, 37 ocorreram nas BRs 070 e 174, que ficam justamente na região do Pantanal mato-grossense, conforme informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Existem cinco rodovias federais que cortam o estado.
De acordo com a PRF, muitos desses acidentes envolvem animais silvestres. “Os acidentes ocorrem porque os animais tentam atravessar a rodovia e, na maioria das vezes, os motoristas não conseguem frear a tempo”, explicou ao G1 o inspetor Mário Assis, que trabalha em Cáceres, cidade a 220 km de Cuiabá e que fica na região do Pantanal. A polícia também informou que de 1º de janeiro a 4 de julho duas pessoas morreram em acidentes desse tipo.(G1/MT)
Em junho de 2011, a jornalista Clarice Navarro Diório já havia alertado sobre o problema, na matéria abaixo transcrita:
Aumenta o índice de animais silvestres mortos por atropelamento nas rodovias federais da região
Em um trecho de 57 quilômetros da rodovia federal 174, que liga Mato Grosso a Rondônia, no percurso entre Cáceres ao trevo do Cacho (acesso a Mirassol D´Oeste), a reportagem encontrou, na manhã do último sábado, 11, um total de 18 animais silvestres mortos por atropelamento.
O patrulheiro da Polícia Rodoviária Federal do posto de Cáceres, Wilson Souza Santos, que é formado em Biologia, chegou a fazer um estudo sobre este tipo de ocorrência. “Como fiz o curso de Biologia, me interessei pelo assunto, pois a profissão de patrulheiro me faz deparar com este quadro todos os dias”. Segundo ele, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), chegou a manter contato, se interessando pelo estudo, “mas foi um único contato”.
A região de Cáceres tem uma fauna rica em animais silvestres. Como a rodovia BR-174 corta trechos pantanosos, os animais acabam morrendo atropelados quando tentam atravessar a pista. Há trechos mais críticos, especificamente entre os quilômetros 16 e 21, na região do Pé de Anta. E nos 31 km de Cáceres ao Caramujo, nos pontilhões de vazantes, na época de cheia, quando a água sobre e os animais não conseguem atravessas por baixo das pontes. Além da ameaça à preservação de várias espécies, existe o perigo de acidentes com vítimas. A PRF já registrou acidentes com mortes devido a animais na pista.
A solução, segundo o patrulheiro Wilson, seria a adotada em estradas parques: criar passagens subterrâneas e cercar as laterais das pistas onde a ocorrência de atropelamentos é maior. Além disso, aumentar a sinalização e, mais ainda, realizar um trabalho de educação ambiental.
No trecho citado, as espécies que mais morrem são o lobete, a capivara e o tatu, mas a reportagem encontrou também um jabuti. Já na extensão de 80 km da BR-070, que liga Cáceres a San Mathias, na Bolívia, a ocorrência maior é do atropelamento de jacarés. O inspetor-chefe da PRF em Cáceres, Nei Pedroso de Barros afirma que em muitos casos, é a maldade dos motoristas que causa a morte do animal, pois ele sabe que não vai danificar seu carro ao passar por cima de um jacaré, então nem ao menos tenta desviar.
O estudo feito pelo patrulheiro Wilson foi desenvolvido ao longo de sete meses de pesquisa, no ano de 2001. Neste período, foram contados 456 animais mortos, sendo que mais da metade-52,41%,eram mamíferos. O patrulheiro esclarece que dados mais atualizados carecem de pesquisa, “mas certamente não houve diminuição destes números, pois a frota automobilística somente aumentou de 2001 para cá.”
“A maior incidência – diz ele-é mesmo de tatus, sendo o galinha 33 ocorrências e o peba (ou tatu cascudo ou tatu peludo) 17, seguido do jacaré 24, lobete 19 e capivara 18. Se considerarmos que de setembro de 2000 a abril de 2001 tem 242 dias, naquele trecho e naquela época havia uma média de 1,88 animais atropelados e mortos por dia. Mas este é o índice de mortos instantaneamente no local, pois não temos como aferir os que são feridos e vêm a óbito noutra depois”. Há ainda o registro de atropelamentos de aves (17,32%), possivelmente ao se alimentarem na rodovia ou mesmo atravessarem de um lado para o outro; 16,00 de répteis e 14,25% de anfíbios. A grande maioria dos atropelamentos desse
táxon ocorreram no período chuvoso, época reprodutiva. O maior índice de
atropelamentos ocorreu no mês de janeiro, pico da estação chuvosa, onde
as maiorias das áreas marginais estão alagadas, portanto, os animais utilizam
as rodovias como refúgio. Algumas espécies foram mais freqüentes: sapo, teiú, sucuri e anu preto.
Com um volume de tráfego diário (VTD) de 5.500 veículos nas rodovias BR-070 e 174, sendo 50% deles de carretas, a maioria dos bichos é atropelada por veículos pesados. Há também o perigo de acidentes envolvendo eqüinos e bovinos. O trecho das duas rodovias é ladeado por fazendas. Cercas danificadas permitem que os animais escapem, sejam atropelados e causem acidentes sérios. No último final de semana, a PRF registrou um acidente que envolveu três motoqueiros que praticavam um “racha” na BR-070, próximo ao Portal Temático, perto da entrada de Cáceres. Eles atropelaram uma vaca e houve feridos graves, com fraturas expostas.
No final de abril deste ano, uma ocorrência mais rara foi registrada na BR-070. Um filhote de onça pintada foi atropelado, próximo ao Portal Temático, a um quilômetro do perímetro urbano da cidade. O atropelamento ocorreu à noite e o felino foi encontrado de manhã por moradores do assentamento Facão. Ambientalistas afirmam que desmatamentos e queimadas também colaboram no aumento do índice de atropelamentos e mortes de animais da fauna pantaneira.