Vazio, lembranças e exemplos
Por por Clarice Helena
14/08/2012 - 01:08
Saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa. Como será que se chama em outros idiomas? Domingo. Dia dos Pais. No fundo sabemos que é uma data comercial, mas mexe com a gente. Eu não tenho mais meu pai comigo há seis anos, mas sua partida dói como sempre doeu. Queria falar com ele. Dar o abraço e o parabéns. Eu adorava ficar olhando meu pai. A serenidade na velhice. O tom sábio, a medida certa. A voz pausada, as conversas inteligentes.Ele gostava de ler, nos presenteava com livros...e sua sensibilidade trazia junto om o livro, o brinquedo esperado. A primeira bicicleta...uma 'monareta' cor laranja...O caminho indicado, sempre seguro. Meu pai não era de afagos, e hoje penso que eu poderia ter abraçado mais, beijado mais sua face, dito mais vezes "bença,pai" antes de dormir. Eu achava, no meu amor de filha, que ele nunca iria embora. Mas ele foi e eu fiquei perdida, Para quem telefonar e contar do progresso de cada filho, para quem contar as travessuras da primeira bisneta? Não conseguia entender que ele havia cumprido sua missão. E como cumpriu bem, pois só me deixou bons exemplos. E a saudade, este vazio que nada preenche...lembro dos bombons 'sonho de valsa', dos sorvetes, do seu amor aos cachorros, de suas brincadeiras com os netos. Todos os netos ganhavam pipas. Todos ganhavam amor. Incondicional. Hoje sou avó. E ainda me sinto órfã. As vezes me perco no caminho, entre tantos afazeres, tantas responsabilidades...bate o medo, a insegurança. O que fazer? Aí vem um sopro suave, como um carinho, e eu sei que é chegada a hora de forçar a memória. O que o senhor me diria, pai? E então, com o coração, eu ouço seus conselhos, e encontro novamente o rumo, e sigo agradecendo a Deus por ter tido o pai que tive (e tenho vivo na minha lembrança e no coração).tão vivo que muitas vezes , especialmente às refeições, vejo em meus filhos os gostos culinários e os gestos do me pai. Mariana adora comer sanduíches elaborados, azeitona preta e palmito. Daniel não fica sem leite. Lívia gosta de pastel...de palmito. No fim das contas, percebo que a lembrança traz de volta quem amamos. Feliz dia, pai. Todos os dias. E me abençoe sempre, por favor, pois ainda preciso segurar em sua mão. Te amo como sempre te amei.Hoje assino "clarice Helena", como o senhor me chamava...