A vida da mulher é planejada segundo um roteiro ainda do século 20. Se já namora: quando ficará noiva?Se já é noiva: quando casará? Se já é casada: quando terá filhos? Se já tem filho: quando terá o segundo filho? Dentro de, no máximo, três semanas vou chegar a última pergunta do roteiro básico. E espero, sinceramente, que seja a última.
Não, não segui o roteiro por ideologia desde a infância. Não dava três beijinhos para casar, abria guarda-chuva dentro de casa e nunca achei ruim que varressem os meus pés. Simplesmente achei um cara, aos 27 anos, que me fez querer viver cada um desses rituais da vida. Portanto, não sirvo de exemplo. Aliás, meu roteiro, até então, era engrossar os 14% das brasileiras que não querem ter filhos.
Tão perto do dia das mães e assunto de hoje é justamente abrir mão “do que realmente completa uma mulher”. A TV já começa a pipocar com propagandas para a venda de produtos para o segundo momento comercial mais importante do ano e que só perde para o natal. Enquanto isso existem milhares de mulheres por aí (inclusive parte de quem produz as propagandas) mais focadas na carreira do que em viver a experiência da maternidade.
Não são, necessariamente, gays. Não vão mudar de ideia no futuro. Não são egoístas e não escondem dos parceiros a opção de vida que fizeram. Simplesmente preferem ocupar o tempo com outras atividades. Muitas adoram crianças. São ótimas tias, topam ficar de babá para cobrir uma amiga e para o fim da vida já algumas já programaram uma mudança suave para um asilo.
Nada mais desagradável do que interrogar uma mulher com mais de 30 anos que vive um relacionamento estável e não tem filhos. Parece que ela tem uma doença e tem gente que chega a verbalizar isso: você não pode ter filhos? Pensa em adotar?
Já se colocaram no lugar desta mulher que é indagada dentro da família, do ambiente profissional e muitas vezes pelos próprios amigos?
Deve ser massacrante receber aquele olhar de desaprovação e de desajuste de conduta. Pior ainda deve ser receber o testemunho que vem a seguir: ter filhos foi a melhor decisão que já tomei, pois só assim conheci o amor verdadeiro.
Tem certeza querida?
Sou mãe e o segundo filho chega em breve. Mas o meu ideal de felicidade pode (e é) diferente das outras mulheres. E quem sou eu para dizer o que é certo ou errado. Quem é você para também fazer tal julgamento? Cada um com o seu cada um, né.
Que nesse dia das mães você valorize a sua. Aliás, não só neste dia, mas nos outros 364 também. E quando encontrar uma mulher que não quer ser mãe não torne este assunto a tônica da conversa.
Ela pode estar mais interessada em debater a própria carreira ou falar do trabalho voluntário lindíssimo que tem realizado.
Maria Rita Ferreira Uemura é jornalista, empresária, diretora da empresa de eventos de aventura ULTRAMACHO e escreve exclusivamente toda quinta-feira neste Blog (www.ULTRAMACHO.com.br) - e-mail: ferreirauemura@gmail.com