O que move este mundo? Ou melhor, na atualidade, o mover-se é racional ou produto tão somente do apetite pelo bem ou pelo mal de forma empírica, sem qualquer transcendência?
Vontade é impulso direcionado ao objeto ou vontade, desejo e necessidade são coisas diferentes? Quando quero, tenho desejo ou necessidade?
Tradicionalmente, vontade seria princípio racional da ação ou mesmo princípio da ação em geral. Seria, em apertada síntese, isso: vontade como apetite racional ou compatível com a razão; sendo o apetite sensível, o desejo. Hoje, a interpretação seria outra.
Fiquemos nos clássicos. Desejo não é necessidade. Ao contrário, é sua antítese. Portanto, dizer que o que quero é o mesmo de que necessito seria contradição.
Para Deleuze, desejo é realidade e produz realidade. Contrariamente, para Lacan seria ausência e privação (idem).
Exemplifiquemos. Se tiver a vontade de acabar com a corrupção no poder público, pela ordem natural das coisas (razão), estar-se-á no campo da objetividade e compromissado com algo que transcende a valores práticos (conceito ‘a priori’ kantiano, razão pura).
Mas, se o que quero (como vontade) é tão somente a chance de ali estar e fazer a mesma coisa, igual àquilo que em discurso de verborragia julgo por absurdo, o tenho como desejo. Esta é a lição de Cícero.
Ao descumprir com determinadas regras básicas de existência, como avançar sobre o patrimônio alheio ou mesmo deixar de socorrer a alguém por puro medo ou arrogância, o desejo te faz companhia. Não se trata, portanto, de necessidade.
Agora, se pode refletir sobre a lógica do mundo nesse aspecto. O que o move é vontade, desejo ou necessidade? Na relatividade das coisas, a resposta seria, depende.
Depende do estado de pureza que está implícito na ação. Deixemos, aqui, aquela conhecida análise de que a ação nunca é pura, pois há fatores a considerar como ambiente, classe social, opressão, cultura etc., para os sociólogos.
O que se busca, então? É a verdade subjacente a este estado de quem quer, de quem critica, de quem manipula o discurso ético.
Em Kant se pode concluir que a razão prática entra em contato com a razão pura pelo pensamento. Não importa, neste espaço, o conceito de ambas. Mas o fato de que a razão está em processo constante de desenvolvimento e, por ela, cada qual tem um universo de possibilidades.
Assim, faça da razão algo mais sério que simplesmente o desejo e a necessidade. Faça-a cada vez mais pura, na prática. Somente nesse viés se pode afirmar a existência de um Criador, posto que, por princípio, o que é criado pelo perfeito, perfeito é, sem os assombros da insensatez.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto é juiz de Direito
(email: antunesdebarros@hotmail.com).