Durante todo o curso da gravidez, a mulher tem o direito a bons cuidados de saúde. E na hora do parto, então, toda atenção, cuidado e carinho. Mas isso nem sempre acontece.
Muitas sofrem violência obstétrica – que se caracteriza por atos de negligência, assédio moral e físico, abuso e desrespeito com a gestante. Essa violência pode se traduzir em diversas situações e se apresentar em diferentes momentos, como o agendamento de cesárea sem quaisquer evidências de sua necessidade e por conveniência do médico Recusar a admissão em hospital, quando se entra em trabalho de parto. Censurar a mãe que expressa seu sofrimento ou impedir seu contato com o bebê logo após o parto. Conforme um estudo conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esse é um problema muito presente na sociedade brasileira.
Para esse levantamento, foram analisadas 266 maternidades que apresentavam índice de 500 partos ou mais por ano, contemplando 191 municípios e um total de 23.940 mulheres. As entrevistas foram feitas de fevereiro de 2011 a outubro de 2012.
De início, os números já denunciam uma triste realidade. Segundo a pesquisa, 52% dos partos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 88% dos realizados em redes privadas são cesáreas – enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que partos dessa natureza não ultrapassem o índice de 15%.
Não bastasse isso, intervenções que não são recomendadas aparecem com bastante frequência.
A episiotomia é uma delas. Trata-se da realização de corte no períneo durante o parto. Vários estudos já mostraram que não é uma boa prática e que traz malefícios, mas ainda assim os dados levantados pela Fiocruz apontam que ele é adotado em 56% dos partos realizados no país.
Pode-se mencionar ainda o que é conhecido como manobra de Kristeller. Basicamente, ela consiste em empurrar a barriga da grávida, para facilitar a saída do bebê – uma forma de violência. Segundo os dados, ela está presente em 37% dos trabalhos de parto no Brasil.(Fonte: Doutíssima)
Em Cáceres, um caso que ganhou repercussão essa semana, infelizmente com a morte de uma recém nascida, trouxe à tona o assunto. Exposto o caso através da imprensa, os comentários na matéria preocupam, na medida que, ao contrário desses pais que estão lutando pela punição do médico e equipe, as mulheres que relatam abusos (a maioria, vítimas do mesmo médico, mas há outros profissionais citados), passaram pelo trauma e se silenciaram. Não é uma prática recomendada. Se cada uma que passou ou passar por esse tipo de violência reagir, denunciar, ir à luta, com certeza os “profissionais” que não atuam seguindo as regras da humanização no atendimento e, mais que isso, respeitando o juramento que fizeram, quando se comprometeram a salvar vidas, trazer vidas, curar, amenizar dores, terão que mudar a conduta, sob pena de enfrentar as consequências de seus atos.(Clarice Helena Navarro, jornalista em Cáceres)