A Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Barra do Garças instaurou inquérito contra um homem suspeito de abusar sexualmente da filha durante aproximadamente oito anos, em Pontal do Araguaia.
A vítima, que hoje é maior de idade e não reside mais na cidade, expôs o caso em um extenso relato no Facebook, nessa segunda (10). Ela conta que tinha entre sete e oito anos quando os abusos começaram, dentro de casa, e perduraram até os 15 anos, quando sucessivas crises de depressão passaram a acometê-la.
O inquérito, por determinação do Juizado da Infância e Juventude, tramita em segredo de Justiça, mas se tornou público a partir da postagem da vítima. De acordo com a Polícia Civil, o pai pode ser indiciado por estupro de vulnerável, já que os abusos começaram quando a jovem ainda era apenas uma criança.
O delegado Heródoto Fontenelle, responsável pelo procedimento investigativo, não pode se manifestar sobre o caso sem autorização do Juizado da Infância e da Juventude, por força do sigilo.
Em seu perfil, a jovem dá detalhes sobre o “inferno de dor” que viveu. Quando criança, residia com a avó e sonhava morar com os pais. Chorava e orava pedindo a Deus que a levasse para ficar perto deles. A jovem não imaginava que a partir daí, seria vítima de abuso do próprio pai. “Até que aconteceu. E eu estava tão feliz por ter minha mãe e meu pai por perto todos os dias! Mas um dia aquela felicidade se transformou em um inferno de dor que até hoje eu vivo”.
A moça conta que o primeiro abuso ocorreu quando o pai se deitou na cama dela e disse que iriam brincar. Mesmo dizendo que não queria fazer aquilo, ele acariciou seu corpo. O trecho a seguir contém expressões fortes:
“Fechei meus olhos enquanto ele acariciava meu corpo, eu disse que não queria. Mas homens não entendem que não é não. Eu não me lembro se tinha sete ou oito anos. Eu me lembro que no segundo dia, ele ejaculou no meu rosto, no meu rostinho de criança e eu chorei”.
O pai chegava a dar dinheiro para a menina e a liberava para brincar após os abusos. Ela se trancava no banheiro e chorava.
Com 11 abos ou 12 anos ela diz ter revelado a situação para a mãe, que nada fez. “Eu pensei que ela iria separar dele. Mas não. Ela contou para minha família e ninguém nunca fez nada. Todos ignoraram a minha dor como se eu fosse nada. E continuou. Todos os dias na hora do almoço, ele me levava para dentro do quarto, trancava a porta, me deitava e eu tapava os olhos e chorava ali mesmo”.
Em outro trecho, a vítima acusa o pai de ter roubado sua infância e adolescência e de ter “matado sua alma” pouco a pouco. Aos 15, ela teve coragem para enfrentar o pai. “Ele me levou pro quarto a força e eu disse que se ele tocasse em mim eu iria denunciar ele. Ele me agarrou pelo braço e me jogou no chão pra fora do quarto e me chamou de ingrata”.
Depois disso, ela teve a primeira crise de depressão. “No ano seguinte, mais uma crise e ninguém fazia nada. Aos 17 anos a mesma coisa e cheguei a perder 10 kg em um mês. E assim ia. Todo ano uma crise”, acrescenta. “Aos 18 anos minha mãe me disse que eu era assim porque queria. Ela disse. E eu nunca esqueço”, lamenta a jovem.
Em outubro de 2016, outra crise e uma tentativa de suicídio. Foram 30 comprimidos de um remédio usado no tratamento de síndrome do pânico e controle de crise convulsiva. A internaram em um manicômio por quatro dias. Em abril deste ano, cortou os próprios pulsos em mais uma tentativa de se matar. Foi quando uma tia tomou a frente da situação e reportou o caso à polícia.
“E eu escrevi esse texto para tentar ajudar de algum jeito as vítimas de abuso, que vivem o que vivi por sete ou oito anos da minha vida. Você é forte menina! Você é muito forte então se levante e não se esconda. É o seu corpo e é você quem decide quem o toca”, diz ao final do texto.
Ela comenta, ainda, que a mãe se casou com outro homem, que seu pai não está preso, mas não tem contato com ele.
Perdão
Após dezenas de críticas à postura da mãe diante dos abusos, a jovem fez outra publicação. “Os pais também erram. Minha mãe errou como todo ser humano. [...] Nunca é tarde para reparar um erro”, defende. A moça explica que a mãe foi aconselhada a esconder a verdade também a seu próprio pedido, pois não queria se expor.