Uma onça-pintada que “se instalou” próximo à região central de Cáceres tem assustado e ao mesmo tempo encantado moradores da cidade pantaneira. Diariamente o animal tem sido visto na chamada Baía dos Malheiros, no Rio Paraguai.
O felino apareceu na região há cerca de uma semana e insiste em permanecer em uma ilha na margem oposta à região central. O temor de muitos é que animal atravesse o rio e entre na cidade.
De acordo com o capitão Roosevelt Marcos Barros da Silva, da Polícia Ambiental, foi montado um monitoramento em conjunto com o Corpo de Bombeiros para acompanhar os passos do animal, que até o momento tem se mostrado tranqüilo.
“É normal que ela apareça ali, porque é região de mata. O que não é natural é que ela permaneça por ali. Ela é muito grande. Hoje a guarnição chegou bem próximo a ela e pôde notar isso. Ela deve ter mais de 100 quilos e parece ser forte e saudável”, disse.
Segundo o capitão, apesar da tranqüilidade do animal, o risco de ataque aos moradores existe e é grande.
“Trata-se de uma onça-pintada fêmea. Ainda não sabemos se há mais de uma. Estamos monitorando e preparando uma ação de resgate através de disparo com tranqüilizante, justamente por esse risco, por estar muito próxima. É um animal silvestre. Você pode esperar de tudo”, disse.
Roosevelt afirmou que uma reunião com órgãos federais está agendada para acontecer nesta quarta-feira (18), e decidir como será a operação de resgate da onça.
Moradores curiosos
Desde que o animal apareceu, diversas fotos e vídeos têm sido compartilhados nas redes sociais.
Em alguns vídeos, internautas filmam o animal que parece não se importar com a movimentação, muito menos com o barulho vindo da Praça Barão do Rio Branco.
Em outros, é possível ver que o local já virou uma espécie de ponto turístico, com vários carros estacionados e populares com seus celulares às margens do rio, tentando captar uma imagem da onça-pintada.
Pesquisador critica retirada
A reportagem conversou com o doutor em Ecologia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Fernando Tortato, que é especialista em onças-pintadas há 10 anos. Para ele, não há nada de estranho no animal aparecer na Baía dos Malheiros.
De acordo com o pesquisador, o local é habitat natural da onça-pintada e não seria correto retirá-la dali.
“A gente tem que pensar num contexto de Pantanal, que é um dos biomas mais preservados do Brasil. Tanto Cáceres como Corumbá, que são duas cidades que estão às margens do rio Paraguai, estão diretamente conectadas com o Pantanal”, explicou.
“A gente acaba achando estranho ver uma onça do outro lado do rio, próximo da praça da cidade. Mas temos que lembrar que ali é o seu habitat. Das 100 vezes em que a onça passa pela área, duas, três ou cinco vezes ela será vista. Muitas vezes ela já estava muito tempo ali e não foi notada”, disse.
Tortato ainda explica que o risco do felino atacar uma pessoa é quase nulo, mas que entende as autoridades quererem retirá-la dali por conta da população.
“As onças estão no Pantanal há séculos, no mesmo espaço que o homem. Quantos ataques houve aqui? Um apenas, em que o rapaz estava acampando e provocou a situação. Eu concordo que estar ali é um problema, mas se pensar nessa situação em Cáceres, ali é o habitat dela, tem onça, tem jacaré, tem capivara”, afirmou.
“O risco de ela atacar alguém é baixíssimo. Primeiro porque se ela tivesse que atacar alguém, ela já teria feito há séculos, desde que Cáceres existe. Já iria ter casos recorrentes de ataques”.
O especialista disse que a população deveria olhar a aparição da onça-pintada como algo extraordinário e único no Mundo.
“Se você buscar na literatura ou em jornais, você verá que é muito raro as onças-pintadas atacarem alguém. Eu tento enxergar isso como uma coisa muito boa, porque na África as pessoas pagam muito caro para ver os leões em parques e reservas. Cáceres tem esse potencial no seu quintal, um privilégio ver isso, algo único. Então se você olhar por essa ótica, é algo surpreendente”.
“Óbvio que as pessoas temem por uma questão natural primitiva, mas se nos basearmos nos fatos, eu indicaria para os bombeiros removerem todas as abelhas e cachorros de rua, que oferecem muito mais perigo à população do que essa onça. E o perigo para ela são as pessoas, não ela para as pessoas”.