Para Santo Agostinho, o mal não é substância, é um não-ser (visão ontológica-metafísica do problema do mal). Em assim sendo, como seria possível buscar um antídoto para o mal, para a não-substância, para o nada?
O pensador de Hipona, por considerar o mal um vazio, não aceita a ideia de antídoto a combatê-lo. Nem atenção mereceria (ideia central em Ivan de Oliveira Silva). O mal é simplesmente o distanciamento do bem.
O homem decaído somente encontrará o caminho do bem pela ajuda do Sumo Bem, do Supremo Criador, pois, não tem condições para se auto socorrer da corrupção da vontade (Agostinho).
O mal moral, que transcende ao universo circundante, pode se aproximar do bem e, assim, desfazer-se? Também, não. Como poderia um nada se aproximar de algo, de um ser, já que a existência do bem é garantida?
Como se poderia destruir o mal, independentemente do bem? O mal é somente parâmetro, do que não é sensato e aceito em axiologia. O bem é, e não se torna. O mal, por não existir, esquecê-lo seria como manter a moral pura.
Como para Agostinho o homem é dotado de razão, e a lei desta está escrito na mente humana, o mal moral (por ser uma questão afeta à razão) somente se combate pelo auxílio da graça, dádiva divina, portanto.
Mas, e os ateus? Afastando-se do auxílio divino, que entendem prescindível, como podem apropriar-se do bem moral? E conhecemos um bocado deles com comportamento moral bem acima de inveterados religiosos, frequentadores de seletas rodas sociais.
A razão lhes foi por graça, diriam. Contudo, e a fé, não o seria, também? Renunciando à fé, possível também a renúncia de qualquer auxílio divino. Ou não?
Penso que o mal existe, é substância. E a energia que dele exala sufoca a todos. Um humano impregnado pelo mal, quando apanhado em perversas atitudes, pode já ter causado estragos irreversíveis no bom funcionamento de grupos e instituições.
Por aqui, por aí e por lá, pode-se constatar barreiras nefastas em que o mal engendrou para apequenar e dissimular o bem. Todo cuidado é pouco, em especial com os aduladores e loucos por poder; a retórica com que lhes vale é a mesma do covil dos subservientes à insanidade.
Não há banho de pétalas que deles subtraia a podridão de seus hálitos e suspiros, e nem a protegê-los da desonra. São como cães a ladrar por carruagens de bajuladores e tapetes manchados de injustiças.
Ironicamente, que de retro, corram, da intrepidez moral dos honestos e sinceros. O mal (e o mau deles) nunca será maior que o bem e a justiça.
É por aí...
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz em Cuiabá.