As chamadas “frutas temperadas” – uva, pera e maça – importadas da Argentina e Chile para o Brasil poderiam, perfeitamente, serem desembarcadas em Cáceres para abastecer o Centro-oeste e o Norte do Brasil, caso o porto estivesse em operação. Atualmente, elas chegam ao país, através de grandes embarcações até aos portos de Santos (SP) e via rodoviária até Foz do Iguaçu (PR). De lá, são levadas para o CEAGESP em São Paulo, para serem comercializadas, sendo transportadas por milhares de quilômetros em carretas pelas rodovias, para abastecer supermercados de vários estados da região Centro Oeste.
A explicação é do Auditor Fiscal Federal Agropecuário, aposentado Natanael Ferrarezi, que há 20 anos, trabalhou na fiscalização do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em várias regiões do país e da Argentina (Mendoza), sendo a maioria do tempo em Cáceres. Ferrarezi está participando, junto ao Jornal Expressão, de uma série de matérias sobre a importância da reativação do porto de Cáceres, paralisado há mais de uma década e, consequentemente, o retorno da operacionalização da hidrovia Paraguai Paraná.
Com o funcionamento do porto, em primeira etapa, sugere ele, a prioridade seria das commodities – soja, milho, algodão, madeira e carne, mercadorias produzidas no Estado e em Cáceres, levando-se em conta que somos um dos maiores produtores de madeiras – através da teca – e, carnes. Fator que viabiliza a existência de, pelo menos, três grandes frigoríficos da região. Em uma segunda etapa, explica Ferrarezi, seria viabilizar a importação das frutas temperadas da Argentina e do Chile e exportar frutas tropicais produzidas no Estado e na Grande Cáceres.
“Dispomos de um grande mercado, em termos de grãos, madeiras e carnes. Se essas frutas viessem pela hidrovia, estaríamos fazendo a distribuição de Cáceres para as regiões Centro Oeste e Norte do país, gerando emprego e renda. E, além disso, essas mercadorias seriam comercializadas em menor custo porque o que mais encarece é o valor do frete que, pelo transporte fluvial, seria até 80% mais barato” enfatiza.
Destaca que, na segunda etapa, estaríamos produzindo e exportando para o mercado sul americano e europeu, nossas frutas tropicais: manga, banana, abacaxi e melancia, geralmente encontradas com facilidade e em grande quantidade em toda região, composta por 23 municípios.
“As importações das frutas temperadas e exportações de frutas tropicais pela hidrovia Paraguai/Paraná, teriam um impacto gigantesco na nossa economia regional. Enquanto as carretas de vários supermercados do Estado, percorrem quase três mil quilômetros pelas rodovias para buscar as frutas no CEAGESP em São Paulo, se fossem descarregadas no porto de Cáceres, geraria grande economia, diminuindo o valor porque o que as encarece é o frete. Em relação à exportação das nossas frutas tropicais creio que seria a redenção econômica, porque estaríamos transportando as mangas, melancia, abacaxi e bananas de toda região para o mercado sul-americano e europeu”.
Na última edição, o auditor revelou que a falta de incentivos fiscais pelos governos municipal e estadual impediu que uma indústria de processamento de farinha de trigo fosse instalada, em Cáceres, em 2009. Disse que um grupo de empresários da Zaeli – uma das grandes empresas nacionais da área de alimentos – chegou a procurar o Ministério da Agricultura, através do seu representante, em Cáceres, para estudos de viabilidade econômica de importação do produto para instalação e processamento da farinha no município.
À época, lembra ele, chegou a ser feito um teste piloto para instalação do parque industrial em Cáceres, com um resultado altamente positivo. Porém, a empresa teria desistido da ideia porque não obteve nenhum apoio/fiscal para a proposta, e acabou levando a indústria para o Paraná, onde abastece de trigo dezenas de municípios do Estado.
Ferrarezi reafirma que, embora seja o modal de transporte mais viável do mundo, por uma série de fatores, principalmente econômico, o transporte pela hidrovia, encontra resistência de grandes grupos nacionais e até internacionais que não tem interesse que ela funcione.
“São empresas do setor automobilístico, de autopeças, revendedoras de pneus que precisam vender os seus produtos no estado, grandes construtoras que trabalham na construção e restauração das estradas, entre outros. Mas, é necessário que, as autoridades rompam com esses “lobs” para alavancar o desenvolvimento do estado e principalmente da nossa região, gerando principalmente empregos e renda, além de viabilizar definitivamente a implantação e o funcionamento da sonhada ZPE.