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Apontado como gerente da Colibri em Cáceres é preso em Recife
Por Diário de Cuiabá
31/05/2019 - 08:37

Foto: Arquivo policial

As investigações da Polícia Civil, que resultaram na operação “Mantus”, deflagrada na última quarta-feira (29), revelou a tentativa de atuação de uma terceira organização criminosa, denominada Pirâmide, além dos grupos que estariam sendo liderados pelo ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro e o empresário Frederico Muller Coutinho, apontados como concorrentes na prática do jogo do bicho, em Mato Grosso. 

Ontem pela manhã, José Carlos Freitas apontado como gerente da Colibri, banca ligada a Arcanjo, foi preso em Recife (PE), onde passava férias. Ele trabalhava para Arcanjo em Cáceres. José Carlos trabalhava para João Arcanjo Ribeiro, segundo a Polícia Civil, cuidando da região de fronteira, em Cáceres, a 200 km de Cuiabá.Os suspeitos devem responder pelo crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro, contravenção penal do jogo do bicho e extorsão mediante sequestro, cujas penas somadas ultrapassam 30 anos. 

“Eram duas bancas fortes. Havia uma terceira banca que estava tentando entrar (no jogo do bicho). Verificamos que esse cidadão andou tomando uns tiros na residência dele, provavelmente, por uma das organizações que não queria que ele implantasse essa terceira banca aqui no Estado”, disse o delegado Luiz Henrique Damasceno. “A investigação começou com a organização FMC Ello, comandada pelo Frederico Muller Coutinho, que de certa forma competia acirradamente com o pessoal do Arcanjo. Então, são duas organizações que estavam brigando entre elas”, acrescentou. 

A operação foi deflagrada pela Delegacia Especializada de Fazenda e Crimes Contra Administração Pública (Defaz) e Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO). Além de Arcanjo e Coutinho, a ação policial levou para a cadeia o genro do ex-bicheiro, Geovanni Zem Rodrigues, preso em Guarulhos (SP) e outras 17 pessoas, que faziam a arrecadação de valores do jogo e, após, a lavagem do dinheiro. Ainda anteontem, eles participaram da audiência de custódia e as prisões foram mantidas. Já Geovanni Zem, que chegou em Cuiabá durante a madrugada, passaria pela audiência ontem à tarde. 

Em um ano, a polícia aponta que a FMC Ello e a Colibri teriam movimentado, apenas em contas bancárias, mais de R$ 20 milhões. O trabalho conta com fartas provas a existência de duas organizações operando jogos do bicho e lavagem de dinheiro. Já cumprindo pena no semiaberto, Arcanjo foi preso em sua mansão, que fica no bairro Boa Esperança, em Cuiabá. Na casa, a polícia apreendeu cerca de R$ 201 mil em espécie. 

Também foram apreendidos aparelhos de celular. Os policiais cumpriram ainda mandado de busca e apreensão na empresa de Arcanjo, que fica na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (CPA), onde foram encontradas anotações do jogo do bicho, além do sequestro do Hotel “Colibri”, em Tangará da Serra e bloqueio judicial das contas, 11 carros, uma motocicleta e joias. O advogado de Arcanjo, Zaid Arbid negou que o seu cliente tenha voltado a comandar o jogo do bicho no Estado. 

De acordo com o delegado, Luiz Henrique Damasceno, as investigações iniciaram em agosto de 2017, quando a polícia recebeu uma denúncia sobre a continuidade do jogo do bicho no Estado. Durante o trabalho, foi identificada uma acirrada disputa de espaço pelas organizações, havendo situações de extorsão mediante sequestro praticada com o objetivo de manter o controle da jogatina em algumas cidades. “Os investigadores também identificaram remessas de valores para o exterior, com o recolhimento de impostos para não levantar suspeitas das autoridades. Foram decretados os bloqueios de contas e investimentos em nome dos investigados, bem como houve o sequestro de ao menos três prédios vinculados aos crimes investigados”, informou. 

Nas décadas de 80 e 90, Arcanjo ficou conhecido como “Comendador”, desde então é acusado de liderar o crime organizado em Mato Grosso, sendo o maior “bicheiro” do Estado, além de estar envolvido com a sonegação de milhares de reais em impostos, entre outros crimes. No ano de 2002, Arcanjo foi alvo da operação da Polícia Federal, denominada “Arca de Noé”, em que teve o mandado de prisão preventiva expedido pelos crimes de contravenção penal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídio. 

A prisão do bicheiro foi cumprida em abril de 2003 no Uruguai. Arcanjo conseguiu a progressão de pena do regime fechado para o semiaberto em fevereiro de 2018, após 15 anos preso. Já o empresário Frederico Müller Coutinho é um dos delatores da operação “Sodoma”, que investigou fraudes que resultaram na prisão do ex-governador Silval Barbosa. “Müller trocava cheques no esquema e chegou a passar dinheiro para o então braço direito do ex-governador. Os cheques teriam sido emitidos como parte de um suposto acordo de pagamento de propina ao grupo político do ex-governador”, informou a PC. Até seu retorno à Cuiabá, em 2017, Arcanjo passou pelas unidades federais em Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN). 

Detido novamente, ele e parte dos envolvidos foram levados para a Penitenciária Central do Estado (PCE), na capital. Outros dois foram encaminhados para o Centro de Custódia de Cuiabá (CCC) sendo eles, Frederico Coutinho e Edson Nobuo Yabamoto, que atuava como gerente das apostas em Tangará da Serra. Já para as três mulheres presas, o juiz Jorge Luiz Tadeu Rodrigues, da 7º Vara Criminal, concedeu prisão domiciliar. Elas saíram do Fórum com a tornozeleira de monitoramento eletrônico. 
 

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