Infância
Por Clarice Navarro Diório, jornalista
14/04/2012 - 20:51
A letra da professora era perfeita. Os cadernos, todos, encapados com papel de uma só cor.Cada ano uma.Tínhamos inclusive o caderno de caligrafia. A tabuada era o pesadelo de todos. E a cartilha era a "Caminho Suave", Hoje penso o quanto era mesmo suave o caminho naquela época.Entrávamos para as salas em fila, série após série. Uniformizados e só depois de entoar o Hino Nacional. Respeitávamos a professora. Aliás, a venerávamos. No "recreio", trocávamos o lanche de presunto e queijo pelo caldeirãozinho com carne, feijão, carne de porco, aqui no MT chamado de "quebra torto", lanche levado pelos alunos da zona rural. Era bom demais.Nos desfiles, tínhamos orgulho em participar. Carros alegóricos, bicicletas enfeitadas, fanfarras e a baliza, o sonho de toda garota.
Estudei em escola pública, no interior de São Paulo, e até hoje, com 51 anos, tenho amigos daquela época.
Tínhamos ruas com pouco movimento, onde andar de bicicleta não era perigoso. Tínhamos a praça da igreja para sentar e conversar.
Brinquei de casinha, de "cirquinho" -era a trapezista, atirei de estilingue, "rodei" no rio Batalha, que para mim era imenso -até conhecer o Paraguai. Rodávamos de bóia ou simplesmente levados pela correnteza.Nas margens, comíamos ingá.
Fiz aula de datilografia (a-s-d-f-g)....e na escola nós meninas tínhamos aulas de Educação Doméstica. Éramos preparadas para ser boas donas de casa!!!
Tudo mudou, mas muita coisa ficou arraigada em mim, especialmente os valores,como o respeito aos mais velhos, o companheirismo. Bons tempos. Saudades das "queimadas", dos jogos de betsy no meio da rua, das "brincadeiras dançantes", das quermesses da igreja.Dos sonhos, alguns concretizados, outros sempre adiados, mas ainda latentes. A vida cuidou de levar cada um para um lado, mas sei que muitos da minha geração passaram por situações assim....e também devem ter saudades.
Hoje acordei saudosista e pensando: continuo brincando de casinha...Brinquei com minhas filhas, assisti com elas Shira e He-man, "desfilei", fui atriz...e dancei "É o Tchan". Hoje brinco com minha neta Amanda. Na casinha dela tem fogãozinho, panelinhas, bonecas, roupinhas. E laptop...Com ela, ano passado, virei sambista, ensaiando para uma apresentação na escola, que fez uma noite cultural...A galerinha arrasou. Mas, secretamente, torço para que este ano o ritmo escolhido não seja o funk....eu não daria conta!