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A voz delas tem som?
Por por Rosana Leite Antunes de Barros
15/10/2019 - 12:10

Foto: arquivo

As vozes só conseguem surtir algum efeito se algo ecoar. De que adianta o som, se nada pode produzir? Meninas e mulheres estão a lançar clamores constantes e diários. Estariam sendo ouvidas?

           

Quando o assunto é violência sexual, a que as mulheres sempre estiveram tão expostas, para que houvesse algum crédito no ruído por elas espalhado, o trabalho tem sido imenso. Nos primórdios, foram julgadas pelas roupas, modo de se portar, pelos passeios, deixando de lado o verdadeiro viés a ser aquilatado.

 
 

 

Ainda que muito afirmassem, circunstâncias que em nada corroboravam para o fato eram levadas em consideração. Autoridades as questionavam, verbo no passado, sobre tudo, menos pelo crime que haviam sido vítimas. Nas ruas e locais de grande aglomeração de pessoas, as cantadas, ofensas e humilhações deram “voz” a eles. E a voz delas?

Meninas e mulheres estão a lançar clamores constantes e diários. Estariam sendo ouvidas?

           

Já quando o assunto passou a trilhar a violência doméstica e familiar, com gritos que saiam de corpos surrados, frases de efeito surgiram. O que mais aconteceu, por décadas, foi o descredenciamento da palavra feminina. “Mulher gosta de apanhar.” “Ele não sabe por que bateu, mas, ela sabe por que apanhou.” “Ela provocou o marido”. “Ela merece apanhar”. E a voz delas?

           

Nas mais diversas profissões, a toada feminina perante a sociedade fez vítimas. Para conquistarem o direito a estudar, o enfrentamento foi atroz. O estudo, a capacitação, e o trabalho fora de casa, ou seja, o que “dignifica”, era relegado para o gênero masculino. Algumas profissões eram adstritas apenas para homens.

 

Para que esse espaço para mulheres, não é? Ora, eles já se profissionalizaram. Ademais, é natural que estejam exercendo determinadas funções. Cargos de chefia e direcionamento ficam melhores se confiados para a condição masculina. E a voz delas?

           

E quando o assunto é política? Nossa, aí, então, o vozear feminino se torna uma problemática. As ciências políticas não podem ser dominadas por mulheres. O que parece, observando de “longe”, é que para eles, elas sempre “brincaram” de entrar para a política. São interrompidas em seus discursos por homens constantemente, o que já foi observado em inúmeras situações. Afinal de contas, eles entendem que são muito mais capazes nessa seara. E a voz delas?

           

Tentei falar no passado. Sim, lá longe... Porém, a realidade é que não vivemos um passado tão distante. O som da mulher, ou melhor, do gênero feminino, ainda enfrenta ocorrências indesejáveis. Muito já foi visto e sentido em direitos humanos das mulheres, desde o início, no século XIX. Todavia, a equidade entre os gêneros não é possível de ser sentido no século XXI.   

           

A pergunta não calou: “E a voz delas?”. Timidamente é possível de se escutar. Algumas vezes precisamos de tradutores, braile etc., para decifrar essas falas. Analogicamente falando, saímos do “pombo correio”, passamos pelos telégrafos, fax, e por aí afora.  Sem sombra de dúvida, simetricamente, demoraremos tempos para chegar à internet.

           

Mulher que atende mulher... Mulher que defende mulher... Mulher que socorre mulher... Mulher que escuta mulher... Mulher que tem compaixão de mulher...

           

Caladas? Jamais. O estrondo acontecerá com muita teimosia, e confiando em dias melhores.

 

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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