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Aulas virtuais entrarão no cálculo do ano letivo no Estado
Por Dantielle Venturini
05/04/2020 - 09:29

Foto: Agência Brasil

Atividades feitas em casa durante o período de suspensão das aulas serão contabilizadas para o cálculo do ano letivo em Mato Grosso. A medida vale para ensino fundamental e ensino médio e foi aprovada pelo Conselho Estadual de Educação, que regula o setor no Estado, e aceita pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc). O novo método para esse público, que vai funcionar enquanto durar as medidas impostas pelo governo do Estado em decorrência do coronavírus, preocupa pela falta de estrutura e investimentos necessários para esse tipo de aula.

 

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 753 mil domicílios têm acesso à internet em Mato Grosso, o que corresponde a 67,6% dos domicílios. Unidades da rede privada de ensino já adotaram o método e as aulas já acontecem por meio das plataformas online. Já na rede pública, as escolas estão se preparando para essa nova fase, e os desafios são muitos.

 

 

 

Presidente do Conselho Estadual de Educação (CEE), Adriana Tomasoni afirma que esbarra em uma série de requisitos e se exige um importante planejamento para que as aulas sejam online e contabilizadas como dias letivos. De acordo com ela, o Conselho concedeu a possibilidade para que as redes se organizem e que proponham o melhor para cada uma, mas tudo também precisa ser aprovado pelas mantenedoras que, no caso da educação pública, são as prefeituras e o Estado. Quanto às particulares, é necessário aprovação do Conselho.

 

Professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que atua no presencial e, também, em aulas a distância, Bartolomeu José Ribeiro de Sousa afirma que gerir o currículo a distância é mais trabalhoso e, segundo ele, requer também alguns pilares que esbarram nas condições socioeconômicas dos alunos. Professor esclarece que as escolas públicas não estão preparadas para essa mudança, já que não houve nenhum planejamento para a educação a distância e a utilização de tecnologias com esse fim.

 

O acesso à internet de qualidade desigual no país, os investimentos necessários, tanto por parte das unidades, quanto por parte dos pais e alunos, somados às incertezas econômicas que abrangem o mundo todo, especialmente famílias de baixa renda, impactam na sustentação do Ensino a Distância (EAD). Conforme o educador, essa modalidade ainda exige uma “alta dose de disciplina e responsabilidade pedagógica das famílias”, o que geralmente não é possível em grande parte das casas, onde os pais precisam sair para trabalhar e não possuem condições de acompanhar o filho inserido nessa realidade.

 

Por esses e outros motivos, o professor acredita que o governo e os órgãos competentes devem ter cuidado ao lidar com essa questão e não criarem uma barreira ainda maior entre a qualidade do ensino público e privado. Um exemplo claro que pode ser considerado agora é, por exemplo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que teve o calendário mantido, mesmo com as aulas suspensas. “Enquanto alunos da rede particular seguem com aulas online, os da rede pública ainda estão parados”, pondera.

 

Ele explica que, até o momento, nas escolas públicas o que se tem feito é manter os alunos em atividade em casa, o que é diferente da educação a distancia como modalidade. No caso das particulares, ele lembra que os investimentos vêm sendo realizados ao longo dos anos, mas que, mesmo assim, muitas estão passando por adaptação nesse período, em especial com o comprometimento dos alunos.

 

Juliana Amarantes, 39, conta que ainda está tentando se adaptar à nova realidade social e educacional. Com uma filha de 15 anos em casa, ela afirma que o desafio maior nesse momento tem sido a continuidade dos estudos. A escola em que Mariana Amarantes estuda está oferecendo o ensino online, mas a menina ainda não se adaptou ao modelo. A principal dificuldade tem sido a disciplina de horários e as distrações de estar em casa. “Ela começa a participar da aula, mas logo está com sono, ou já, se concentra em outra coisa. Começa a reclamar que está com fome, que está cansada de ficar em frente ao computador e por aí vai”.

 

Aline Almeida afirma que a mudança tem sido complicada também em sua casa, em especial porque não tem condições de acompanhar a filha de 16 anos e não é possível fazer novos investimentos na melhoria da internet nesse momento. “Ela precisa assistir às aulas, mas eu trabalho fora, então, não tenho o controle sobre o que ela está fazendo no tempo de estudo. Outra coisa é que ela reclama muito de que a internet é ruim e os vídeos travam”.

 

Dúvidas

Professor Sandro Aparecido Izaias tem uma escola de reforço em diversas disciplinas e cursos preparatórios e afirma que o cenário envolvendo esse assunto de educação online é cheio de incertezas, mudanças e precisará de um tempo para adaptação do público acostumado com o presencial. Em sua unidade, por exemplo, as aulas online já acontecem para uma parte da turma, mas ele reconhece as dúvidas e dificuldades que permeiam a modalidade, como o esclarecimento de dúvidas. No caso das matérias de exatas, que são o foco da escola, a aula presencial é importante. “Quando é uma turma pequena, de 4 a 5 alunos, a gente consegue, mas uma aula em que mais de 30 pessoas estão assistindo, a situação muda”.

 

Ele observa que a adesão maior a esse método ainda é daqueles que estão se preparando para um concurso ou vestibular. Alunos do ensino médio ainda são poucos, e isso envolve uma série de questões, que vão desde culturais às econômicas. “Temos uma mudança de cenário no mundo que impacta diretamente a vida de todas as pessoas”.

 

Professor Sidney Farina afirma que a mudança é positiva, mas que, mesmo nas escolas particulares, o processo de adaptação está em andamento. Para que as aulas funcionem de forma proveitosa, há necessidade de investimentos em equipamentos, além da implantação de outros serviços essenciais como o controle de presença. Sobre a adesão dos alunos, o professor ainda não sabe estimar, mas ele avalia a medida como positiva e necessária para o momento. As aulas dadas serão aproveitadas e descontadas no ano letivo e, depois que tudo passar, toda estrutura e investimento também serão aproveitados. “Os alunos continuam o currículo nesse momento e, após, nós vamos aproveitar como ferramenta paralela”.

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