Coberta de material lenhoso, região se transformará novamente em um barril de pólvora na próxima seca
Os pecuaristas do Pantanal Mato-grossense esperam há 12 anos a publicação do decreto que regulamenta a retirada de plantas invasoras dos campos na região. Contudo, neste momento, a demora causa extrema preocupação porque o acúmulo do material nas pastagens fez com que o fogo tivesse combustível durante as queimadas, que destruíram mais de 2 milhões de hectares este ano.
Desde que as chamas foram controladas, as discussões sobre a regulamentação, que estavam paradas, foram retomadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). No entanto, conforme o próprio órgão, a minuta do decreto ainda está em fase de coleta de contribuições e não tem prazo para ser encaminhada à sanção do governador.
Vale lembrar que o decreto integrará a Lei do Pantanal (8.830), aprovada em 2008. Nela, é permitida a limpeza dos campos e a substituição de gramíneas, desde que as ações sejam regulamentadas via decreto elaborado pelo órgão ambiental, o que desde então não aconteceu.
Com isso, quem mora na região teme que as atividades produtivas sejam dizimadas, entre elas a pecuária, a priori, e em seguida o turismo. Segundo os membros do grupo Guardiões do Pantanal, a situação é crítica e precisa da atenção urgente do governo do Estado.
Os poucos produtores que restaram na região não sabem como retomar a atividade porque tudo está destruído e não há recursos legais para garantir que os animais tenham pastagem e não corram risco de passar pela mesmo situação vivenciada em 2020.
Ricardo Arruda é pecuarista, morador da região e integrante do grupo. Ele explica que, antigamente, os campos do Pantanal eram vastos, mas com o tempo, passaram a receber a invasão de algumas espécies de plantas.
Como não existe autorização dos órgãos ambientais para manejá-las, formou-se uma grande camada de material lenhoso, de fácil combustão, que alimentou o fogo durante os incêndios.
Abandono das fazendas
Conforme os Guardiões do Pantanal, outra ação que favoreceu o desastre transmitido em rede nacional foi o abandono das fazendas. Muita gente desistiu da atividade porque não tinha onde colocar o gado.
Onde as plantas tomam conta, não tem o que o animal comer, sem contar a baixa constituição nutricional da vegetação do entorno.
Para o turismo, as áreas também não são ideais porque onde não há campo, não há cervos, capivara e nem os demais animais, cobiçados para observação pelos visitantes.
Diante desses espaços abandonados e tomados pela lenha das espécies, o fogo ganhou força e dificultou ainda mais o trabalho dos combatentes.
Retirar não significa desmatar
Raul Santos Costa Neto, também integrante dos Guardiões do Pantanal, explica que a retomada dos pastos não significa desmatar. Na verdade, será retirado do local as plantas que nunca deveriam ter nascido ali e que estão por conta de um desequilíbrio.
A ação não é para todas as espécies, haverá uma seleção de quais são passíveis de retirada como Algodão-bravo, Assa-peixe, Cambará, Canjiqueira, Leiteiro Branco, entre outras.
Com a retirada das invasoras, mesmo que o fogo apareça, ele não irá se alastrar de maneira tão rápida e incontrolável.
Guardiões do Pantanal
Os Guardiões são um grupo formado por integrantes das cadeias produtivas do Pantanal Mato-grossense. Eles se uniram após o desastre ambiental das queimadas, vivido em 2020, e pretendem realizar e apoiar ações que contemplem o desenvolvimento sustentável da região e a valorização da cultura pantaneira.
Também irão acompanhar e cobrar mudanças na legislação e a implantação dos projetos de infraestrutura que auxiliem a sobrevivência e evitem que a região seja consumida pelo fogo.