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Desinfecção de ruas e logradouros com hipoclorito de sódio não tem eficácia comprovada; momento é para gastos públicos com medidas cuja eficiência seja alta e comprovada
Por Maria Moura para o Diário de Cáceres
12/04/2021 - 14:07

Foto: ilustrativa

O hipoclorito de sódio é um desinfetante frequentemente usado para a desinfecção de superfícies em ambientes hospitalares, a fim de reduzir a contaminação e prevenir infecções. Nas residências, é comum o uso da água sanitária, que é uma solução menos concentrada de hipoclorito de sódio. Desde março do ano passado, início da pandemia do novo coronavírus, esta substância vem sendo pulverizada nas ruas e logradouros de muitas cidades e em diferentes países, incluindo Cáceres-MT. A eficácia desta ação, no entanto, não é comprovada e as consequências para a saúde da população e para o meio ambiente ainda são discutidas.

A preocupação para com a desinfecção dos locais públicos se deve ao fato de que o vírus causador da covid-19 pode sobreviver 3 horas no ar, 24 horas no papelão e até 3 dias no plástico. Em contrapartida, o coronavírus possui uma estrutura muito sensível ao hipoclorito de sódio (água sanitária). Mas, existe um porém. Segundo uma declaração feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em maio de 2020, pulverizar ou fumigar desinfetante nas ruas não elimina o vírus. Além disso, o ato contribui para riscos sanitários, pois o alvejante é altamente irritante para as mucosas, principalmente para as pessoas que aplicam o produto, correndo o risco de problemas respiratórios, incluindo doença pulmonar obstrutiva crônica e asma.

Para explicar o porquê desta ação não ser efetiva, é preciso entender três pontos. Primeiramente, apesar de o hipoclorito de sódio ser um desinfetante eficaz, através da pulverização ou fumigação o produto não consegue cobrir corretamente todas as superfícies pelo tempo necessário para inativar o agente patológico. Em segundo, a grande quantidade de sujeira e de outros microorganismos presentes nas vias públicas dificultam a ação do composto químico. Por último, o maior meio de propagação do coronavírus é o ar e não tem como essa prática ajudar a evitar a contaminação nesse meio. Quanto ao ambiente interno, a OMS também não recomenda a aplicação sistemática de produtos químicos, “convém fazê-lo com um pano ou uma toalha embebida de desinfetante”.

Esses pontos não negam a eficácia do hipoclorito de sódio, apenas apontam que a pulverização e a fumigação em ambientes externos e internos, além de danosos à saúde, não cumprem com o objetivo de inativar o vírus. Como uma recomendação eficiente, a entidade mundial de saúde pública aponta a utilização de métodos comprovados no combate à pandemia, ações que estão comprovadamente salvando vidas. Sendo assim, a melhor forma de proteger a população é incentivar o uso de máscaras e o distanciamento social, já que essas medidas impedem a contaminação pelo ar. Acerca da sobrevida do vírus em materiais como cobre, plástico e papelão, é importante salientar o uso de sabão e álcool 70% para a limpeza das mãos e de objetos.

Nesse momento, os gastos públicos devem ser direcionados para medidas cuja eficiência seja alta e comprovada. Mesmo que a limpeza das ruas com água sanitária seja uma medida barata, ela não é urgente. Há a urgência de máscaras descartáveis, de auxílio para a população poder continuar em suas casas e equipamentos médicos. Em um momento tão crítico da pandemia, é preciso se atentar às prioridades.

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