Os efeitos causados pela pandemia em nossas vidas só estarão suficientemente claros daqui uns anos, mas já é possível antecipar algumas hipóteses. O novo coronavírus expôs que toda nossa experiência acumulada não nos preparou para este momento. Em contraponto, também mostrou uma enorme capacidade de resiliência e superação.
Foi e está sendo assim em qualquer atividade humana. Na área da saúde, porém, esse contexto alcançou significados éticos ainda mais importantes quando se teve diante de si o atendimento direto aos doentes e o desafio de preservar a vida das pessoas.
A pandemia chegou com a força de um tsunami e alterou dramaticamente a rotina dos milhares de profissionais que atuam na cadeia de suprimentos para hospitais.
Na Pró-Saúde, uma das maiores gestoras de serviços hospitalares do país, o cenário também foi desafiador. Para se ter uma ideia, nas 28 unidades de saúde sob nossa responsabilidade passam, aproximadamente, mais de 1 milhão de pacientes todos os meses.
Do dia para a noite, tivemos que nos ajustar à uma realidade que envolvia a escassez de produtos, a gangorra diária dos preços de insumos e equipamentos e a inteligência logística necessária para garantir abastecimento aos hospitais que administramos.
Peculiar está o fato de nossa capilaridade exigir expertise ampla, pois gerenciamos unidades de saúde que vivem realidades bem distantes — de grandes centros metropolitanos a regiões do Brasil remoto, condição que nos exigiu criar soluções absolutamente inéditas.
Neste ambiente caótico e extremamente complexo, tivemos que lidar com aspectos ligados à judicialização para o risco de não cumprimento contratual, questões relativas à oferta e demanda, impacto orçamentário e, não menos importante, a nova realidade da equipe de profissionais compradores que, em decorrência da pandemia, começou a cumprir expediente remoto.
Felizmente, passamos pelo pico das duas ondas de Covid-19 sem nenhum fechamento de leito ou mesmo necessidade de transferência de paciente por falta de condições de atendimento. Nenhuma unidade gerenciada pela Pró-Saúde enfrentou desabastecimento. Não significa que ficamos isentos de dificuldades. Ao contrário.
Contudo, a pandemia mostrou para todos nós, profissionais de área de compras, algumas condições importantes.
Ter recursos financeiros à disposição não é tudo. Mais do que orçamento para grandes volumes de compras, o fator determinante na relação com os fornecedores foi a transparência, o histórico de parceria e o rigor nos processos internos.
Em qualquer situação, é possível atender à emergência do momento preservando o modelo de governança e integridade. Sempre. Todos os nossos processos (e foram muitos ao longo desse período) seguiram rigorosamente o nosso modelo de governança. Essa foi uma condição que contribuiu muito na relação com os fornecedores.
Mesmo diante de um ambiente propício ao individualismo, o que prevaleceu entre os profissionais de compras de hospitais foi a solidariedade. Muitos ajudaram e foram ajudados, indicando fornecedores; e compartilhando soluções. Nós também: ajudamos e fomos ajudados.
E, por fim — e sobretudo tão importante quanto —, foi possível manter uma equipe engajada e ciente da responsabilidade humanitária que tinha (e continua tendo) diante de si. Cada item comprado ajudou a salvar vidas. Não houve dia, nem noite e nem local (muitos trabalharam de casa) sem que essa dimensão fosse tirada de perspectiva.
Trata-se de uma realidade que, embora pareça particular, provavelmente fora vivenciada em muitas instituições que atuam no Brasil. Desta pandemia, ficam aos profissionais compradores a lição de que atuar com propósito e resiliência faz a diferença; e que essa condição é estratégica para a instituição.
A todos os profissionais de Compras da Pró-Saúde e do país, o nosso muito obrigado e parabéns!
Lucas Morato Batbuta é graduado em Administração e gerente corporativo de Suprimentos da Pró-Saúde.