Praticando Equoterapia, terapia assistida por cavalo, há cerca de 30 dias, a dona Darci Glória Oliveira, 73 anos, que sofre da Doença de Parkinson, relata melhora da disposição, do sono e se diz mais tranquila. A aposentada nunca havia tido contato com o cavalo, mas ao buscar mais da qualidade de vida se surpreendeu com os resultados, e o melhor de tudo, sem pagar nada por isso. “Melhorei muito desde que comecei a equoterapia eu era muito nervosa, e vejo que estou melhor a cada aula. Gosto daqui, o pessoal é muito atencioso. São todas excelentes pessoas”, avalia a idosa.
Dona Darci e outros 39 praticantes são beneficiados pelo projeto de Equoterapia realizado por reeducandos do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), com apoio do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, via o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF) e Juizado Volante Ambiental e vários parceiros. O projeto começou em 2020, quando os reeducandos e agentes penitenciários foram qualificados para trabalhar com o método terapêutico que utiliza o cavalo em abordagens interdisciplinar (psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, e profissional de equitação), buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais.
De acordo com o coordenador do GMF, juiz da 2ª Vara de Execuções Penais, Geraldo Fidelis, a equoterapia do CRC é o resultado da comunhão de boas vontades. “Em Mato Grosso descobrimos que nada se faz sozinho, para tudo há de se fazer parcerias”, definiu. Ele explicou que a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) capacitou recuperandos e agentes penitenciários em técnicas das áreas de saúde, educação e equitação utilizadas na Equoterapia. Os cinco cavalos usados na prática foram doados pela Cavalaria da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) ofertou os cursos “Doma racional de equinos” e “Rédeas” para cinco recuperandos.
A estrutura do centro de equiterapia (baias, pista de atendimento, recepção), que funciona anexa ao CRC, foi construída com repasse de recursos oriundos da aplicação da pena de prestação pecuniária feito pelo Judiciário ao Conselho da Comunidade. Toda madeira usada no espaço foi doada pelo Juvam. “O Judiciário contribuiu financeiramente para o projeto, buscou apoio da universidade, ajudou na fiscalização para a triagem dos praticantes e o resultado mostra que dá certo. Os reeducandos foram diplomados pela UFMT. Estão aptos a trabalhar em prol da sociedade, estão pagando a sua pena com o esforço, e auxiliando a recuperar a saúde das pessoas que não teriam como pagar pelo tratamento”, reflete o magistrado.
Os atendimentos são realizados de segunda a sexta-feira, das 17h às 20h, de forma gratuita. O centro de equoterapia atende crianças, adolescentes, adultos ou idosos e a procura pelo serviço é grande, tanto que o projeto já tem fila de espera. “Temos a intenção de ampliar o número de atendimentos e suprir a demanda. Todo o atendimento é feito por voluntários e o praticante não tem nenhum custo para realizar a equoterapia. Nossa maior recompensa é ver que essas famílias saem agradecidas pelo tratamento”, afirma o diretor do CRC, Winkler de Freitas Teles. “Conseguimos concretizar um trabalho gigante no projeto de equoterapia do CRC. Foram oito dias de curso de capacitação para os reeducandos e contamos com vários profissionais parceiros no projeto que trabalham de forma voluntária. São fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogo, veterinário, zootecnista e outros”, cita.
Além dos voluntários, atuam no centro de equoterapia cinco ressocializandos, que se beneficiam com a remição de pena. A cada três dias trabalhados diminui-se um dia de pena. Um deles é o fisioterapeuta do projeto, Osiel de Andrade Filho. “Começamos com 10 praticantes e atualmente já são 40. A maioria dos praticantes tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), problemas neurológicos e síndromes. A equoterapaia traz muitos benefícios como equilíbrio, melhora autoestima o tônus muscular”, explica. Osiel destaca que o projeto traz benéficos também para quem atua nele. “Só de eu sair da cela, um lugar fechado, e vir para um local aberto já é maravilhoso. Agora ajudar o próximo com aquilo que estudei, o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre Equoterapia com criança com encefalopatia crônica não progressiva do tipo espástico é muito gratificante. Uma oportunidade incrível”, completa.
“Hoje o CRC oferece cursos para os reeducandos, considero esse trabalho de extrema importância para a ressocialização do indivíduo. Só tenho a agradecer pela oportunidade de participar do projeto de equoterapia. Estou tendo um aprendizado e vou poder retornar para a sociedade com uma profissão, com mais conhecimento”, avalia Jovanilço Sovalterra Carvalho, conhecido pelo apelido “Jacaré”, outro reeducando que atua no projeto, como equitador (instrutor de equitação para a equoterapia). A ressocialização do reeducando é prioridade do Poder Judiciário de Mato Grosso que tem atuado para promover a humanização e melhoria das condições do sistema penitenciário no Estado para evitar a reincidência.