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Sesp batiza ala social de cadeia com nome de trabalhador inocentado após ficar preso seis anos em Mirassol D´Oeste
Por Márcia Oliveira
27/11/2021 - 17:14

Foto: SESP MT

A Defensoria Pública atuou como guardiã de vulnerável na revisão criminal que inocentou o acusado e auxiliou a defesa privada que atualmente, estava com o caso

 

 

 

O trabalhador rural Leandro Soares foi homenageado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) que batizou com o nome dele, esta semana, a ala onde funcionará a futura fábrica de bloquetes e manilhas da Cadeia de Mirassol D’Oeste, 294 km de Cuiabá. O defensor público, Guilherme Rigon, que atuou no caso e auxiliou como guardião dos vulneráveis na revisão criminal que inocentou Soares, vê o reconhecimento oficial da inocência dele com alívio.

“Leandro me fez o convite para participar da homenagem e pessoalmente foi muito importante pra mim, eu realmente estive muito preocupado com o caso dele, acompanhei todo o processo, voltei a atuar como custos vulnerabilis, o que talvez tenha sido a primeira atuação dessa natureza em uma revisão criminal da história das Defensorias, no país, e agora, após ele ser inocentado, foi criada uma ala social com o nome dele, como reconhecimento", declara Rigon.

Após passar seis anos preso, cinco deles em regime fechado, por um crime de latrocínio ocorrido em 2015, Soares foi considerado inocente em 22 de outubro deste ano, pela Turma de Câmaras Criminais Reunidas do Tribunal de Justiça. Esse foi o terceiro pedido de revisão criminal apresentado no processo, em nome de Soares. A justificativa feita por Rigon foi usada na nova sentença do relator do processo, que nesta fase, tinha as advogadas Daiane Coelho e Jacqueline Mesquita na defesa do trabalhador.

“A maior recompensa que um defensor pode ter, ao menos pra mim, foi receber um convite do próprio Leandro para participar de um momento tão importante como esse de sua vida. Fiquei muito honrado com isso”, disse Rigon.

O defensor lembra que ao longo de todo o processo de acusação contra Soares, as provas materiais e testemunhais eram frágeis e foram sendo questionadas, por meio de um trabalho de investigação, reforçado em 2018, quando a suposta arma usada no crime foi localizada em outro processo, vinculada a um roubo, realizado no município vizinho, de São José dos Quatro Marcos. Soares já estava preso na ocasião.

Além desse elemento probatório essencial, o defensor lembra que Soares nunca assumiu o latrocínio e que, até ser preso por essa acusação, não tinha passagem na Polícia. Dentro do sistema prisional, os presos fizeram abaixo assinado afirmando a inocência dele, encaminharam carta anônima indicando os verdadeiros culpados e o filho da vítima, Ricardo Lazzaretti, que estava no momento do crime, registrou em cartório, na fase processual, que não podia reconhecer Soares.

Todos esses novos elementos foram adicionados ao processo, sempre que uma nova revisão criminal era solicitada. Num dos últimos pedidos, também foi acrescentada a confissão do,  adolescente à época, R.B.P, que admitiu ter participado do latrocínio de Lauro Lazzaretti. Com R. foi apreendida a arma supostamente usada contra Lazzaretti, uma Bereta calibre 22, após ele o comparsa praticarem um roubo, dias após o assassinato de Lazzaretti. O adolescente afirmou que não conhecia Soares.

Após muita investigação por parte da Defensoria Pública, recursos para evidenciar com fatos, que os erros e equívocos indicavam um inocente como culpado, Soares teve um desfecho favorável no processo. “Hoje é o melhor dia da minha vida. Eu não desejo para ninguém o que vivi lá dentro. Fui muito humilhado”, disse o trabalhador, quando soube da nova sentença. Agora, Soares tenta recompor sua vida com a esposa, que conheceu quando estava preso.

 

 

 

 

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