Desde muito pequena sempre quis ser mãe, me lembro de trocar cartas com uma amiga na adolescência em que já havia escolhido o nome do meu primeiro filho: Pedro. Engravidei durante o período da faculdade, tive (o Pedro) que estava com um ano quando eu me formei em Jornalismo. Ninguém me avisou que seria tão difícil.
Sabe nada inocente. Claro que existem muitas mulheres desavisadas sobre como é viver no mundo real, talvez devêssemos parar de ver filmes da Disney com finais prematuros (e felizes) para poder se preparar melhor para os eventos cotidianos. Ser mãe é difícil no começo (gestação e parto), no meio (infância), durante (fase adulta dos filhos) e muito provavelmente até o fim. Até que a gente pare de respirar e morra, tem uma nuvem de preocupação pairando nas nossas cabeças de mães.
“Ser mãe é difícil no começo (gestação e parto), no meio (infância), durante (fase adulta dos filhos) e muito provavelmente até o fim. Até que a gente pare de respirar e morra, tem uma nuvem de preocupação pairando nas nossas cabeças de mães”
O Pedro nasceu quando eu estava no penúltimo semestre, como eu não tinha carro, era muito complicado sair do bairro Consil para a UFMT. Tentei ir de ônibus, mas era bastante trabalhoso andar com bebê conforto, malas, cadernos, enfim. Peguei carona com amigas, que se incomodavam em passar para me buscar, desisti. Por fim, pedi uma licença e finalizei em casa, apresentando trabalhos sobre o tema. O TCC foi tranquilo, o meu guri colaborou 100%.
Tive seis meses de dedicação integral a ele antes de começar meu primeiro trabalho e nunca mais parar com essa vida insana que é ser jornalista. Eles reclamam quase sempre que eu trabalho muito e realmente faço isso por prazer, amo trabalhar e é claro que se eu fosse o pai estaria tudo bem trabalhar assim, o problema é que a mãe precisa ganhar dinheiro para pagar as contas, no trabalho me cobram para provar o tempo que sou “boa”, porém, para ser uma boa mãe (e não posso deixar de trabalhar) tem que dar total atenção, ou seja, a conta não fecha, concorda? (risos)
Júlia veio dois anos depois, eu estava no meu primeiro emprego oficial, quando descobri a gravidez. Estava tendo um corte na empresa e como eu havia acabado de chegar, fui mandada embora. Expliquei que estava grávida, mas, mesmo assim, não me reintegraram. Era meu sonho trabalhar naquela empresa e decidi não procurar a Justiça para garantir meu vínculo (que era meu direito).
Passei muita dificuldade financeira, porque o pai das crianças ainda estava na faculdade e o dinheiro do estágio que ele fazia era pouco para sustentar um filho e uma mulher grávida. Tive momentos de muita tristeza, culpa e raiva. Mas, apesar das dificuldades que eram muitas, a maternidade para mim sempre foi uma benção: duas crianças nascidas de parto natural (com poucas horas de sofrimento), amamentação tranquila e uma afinidade total com a nova função, sempre digo que eu nasci para ser mãe.
Meus filhos são tudo para mim e sempre me dividi entre jornalismo, Pedro e Júlia por longos anos, até bem pouco tempo, porque agora, pelo amor de Deus, eles já têm 22 e 20 anos, deem um sossego para a mamãe! (mas eles sempre me cobram atenção)
Como me separei do pai deles, acabei praticamente sozinha na função de educadora e cuidadora nos últimos 11 anos. Foi muito pesado sim, mas igualmente leve e divertido. As crianças participaram muito da minha vida. Foram comigo em inúmeras pautas à noite, quando eu era assessora da Prefeitura de Cuiabá (gestão do Wilson Santos). Também iam no sábado, quando estava no jornal A Gazeta, ou em outras ocasiões.
Eu brinco que Pedro se formou comigo na faculdade e ambos têm carteira assinada desde pequenos, logo já podem se aposentar (risos). Cansei de atrasar para buscá-los na escola porque fiquei presa numa agenda, eles choravam de um lado e eu queria chorar do outro. Na mesa sem falar nada com coisa nenhuma, homens sem qualquer preocupação com casa e filhos me seguravam além do meu horário enquanto eu só tinha uma coisa na cabeça: minhas crianças chorando de fome. Me cortava o coração (quem nunca?)
Cansei de decepcionar os meus filhos porque eu precisava trabalhar mais ou até mais tarde. Talvez essa seja a maior dor que eu carrego, de estar sempre até hoje decepcionando eles, primeiro porque é cultural, exige-se que a mulher dê mais atenção às crianças; e a mesma cobrança não é aplicada ao homem que geralmente não está nem aí para os filhos ou faz infinitamente menos que a mãe (observo que este cenário vem mudando). Portanto, me cobram e eu me cobro até hoje. Mas justo isso não é.
Algumas lembranças me marcaram. Há 20 anos, recebi uma proposta excelente de trabalho, mas tinha acabado de ter a Julia. Isso veio após eu ter ficado desempregada durante a gestação e passado muita dificuldade financeira, então, lá fui trabalhar na Seduc. Deixei meu bebê com 40 dias em casa, com uma babá, porque nenhuma das avós poderia me ajudar (moram em cidades opostas – Quatro Marcos e Rondonópolis). Me lembro de chorar muito, chorava nos intervalos, chorava no café, chorava porque queria ficar com a minha bebezinha, sim, naquela época eu queria me dedicar 100% à maternidade.
As pessoas às vezes podem até me invejar. Pensam que foi fácil chegar até aqui, sendo jornalista e mãe, tendo me divorciado aos 30 e poucos anos, ficando absolutamente solitária na criação e cuidados dos dois filhos. Talvez essa "inveja" seja por desconhecer a minha vida, eu posso lhe emprestar as minhas sandálias e você tentar caminhar uns 500 metros sem tropeçar ou esfolar os pés. Tudo que eu construí foi com muito suor e lágrimas.
Diante de tudo isso preciso dizer: Mãe, eu vejo a sua dor, vejo todas as dificuldades que você enfrenta diariamente em casa, com o marido, com a família, com os filhos, e no trabalho. As dificuldades consigo mesma, porque querem tornar você uma mártir, uma santa, mas, assim como eu, você é feita de carne e osso e sangra todos os dias. A gente quer descansar, quer ganhar o mesmo salário que os homens, quer poder ser mãe, ser mulher e ser profissional excelente sem ter que ser "guerreira".
Sabe por quê? Nós queremos que os homens também sejam protagonistas não só no mundo corporativo e dos esportes, batedores de metas e medalhistas olímpicos, a gente quer que os homens nos ajudem, dividam as tarefas da casa com a gente, porque uma mãe guerreira é uma mãe sobrecarregada, que muitas vezes não tem paciência, nem saúde física e mental adequadas. Vamos dividir as responsabilidades homarada, seja foda também ajudando as mulheres. Recado dado!
Rose Domingues é jornalista.
E-mail: rose.rdcomunicacao@gmail.com