Em meio a campanha 'Maio Amarelo', alusiva ao mês de conscientização no trânsito, o número de mortes de vítimas de acidentes de trânsito com motocicletas somou 14 em apenas 14 dias do mês, com ocorrências em todo o Estado, ou seja, pelo menos um óbito de condutores ou passageiros de moto para cada dia. Dados da Delegacia de Delitos de Trânsito (Deletran) apontam que, de janeiro a abril de 2022, houve aumento de 11% nos acidentes de trânsito em relação ao mesmo período de 2021.
Segundo o levantamento da Secretária de Segurança Pública do Estado (Sesp-MT), 575 acidentes foram registrados neste período somente em Cuiabá e Várzea Grande, ocasionando 31 mortes. A Pasta explica que não há diferenciação, em seu levantamento, de dados sobre tipo de veículos em acidentes com mortes.
O HNT realizou uma pesquisa baseada nas matérias produzidas pelo site sobre acidentes de trânsito envolvendo motocicletas no mês de maio. Somente nos 14 primeiros dias do mês, foram registradas 14 mortes, tanto em rodovias como nas vias municipais do Estado.
Na noite de quinta-feira (12), por exemplo, o jovem João Paulo Mesquita, de 21 anos, morreu atropelado por um ônibus ao perder o controle do veículo depois de passar em trecho com óleo na avenida João Gomes Sobrinho, em Cuiabá. No caso, a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) realizou a limpeza da pista somente a após a colisão. Só no dia 2 de maio, foram três mortes no trânsito envolvendo motociclistas.
O delegado da Delegacia de Delitos de Trânsito (Deletran), Christian Cabral, relata que nas últimas semanas os indicadores tiveram aumentam tanto nos acidentes envolvendo motocicletas, quanto automóveis.
“De uma maneira geral, essas últimas semanas foram violentas no trânsito. Houve um aumento nos indicadores de acidentes, principalmente em relação às motocicletas. Um dos fatores relacionados a esse aumento que foi observado pela Deletran, foi que em Mato Grosso como um todo, e especialmente em Cuiabá e Várzea Grande, há um alto índice de condutores não habilitados. E o trânsito não perdoa erro. Então, qualquer falta de atenção, descuido, falta de conhecimento, tomada de decisões errada acaba sendo um flerte com o perigo. E quando se trata de motociclista, infelizmente, ele acaba pagando por esses erros com a sua própria vida ou tendo ela exposta a perigo em razão dos acidentes em que se envolve“, comenta o delegado.
Em relação a Cuiabá e Várzea Grande, o delegado aponta ainda que a deficiência na malhar viária e a falta de sinalização adequada nas ruas e avenidas também são fatores importantes para o acontecimento de acidentes de trânsito.
“Nós temos um asfalto acidentado, falta de sinalização adequada, ruas estreitas, com alto fluxo de veículos pequeno dividindo espaço com veículos de grande porte e isso tudo aí cria um ambiente de risco para os motociclistas”, explica Christian Cabral.
Segundo o delegado, o fato de os motociclista trafegarem nos chamados corredores viários, segundo ele, piora a situação, pois não há permissão legal para conduta. No entanto, muitos motociclistas insistem em transitar nos corredores, um dos principais fatores de risco de acidentes.
“No trânsito, a vias são demarcadas para permitir que os veículos possam trafegar pelas faixas de rolamento com segurança. Então, os motociclistas têm que fazer manobras evasivas. Aí, o acidente é inevitável”, elucida.
O delegado orienta a todos os condutores a seguirem a legislação de trânsito antes de assumir a direção de qualquer veículo, seja motocicleta ou carro. Ele lembra que qualquer veículo no trânsito é igual e está sujeito a acidentes de graves, caso o condutor seja imprudente. A orientação vale tanto para quem trafega dentro da cidade como para quem pega as rodovias.
“O problema no trânsito é justamente esse, né? Não existe consciência e nem educação. Por isso que a gente passa ano e entra ano e não consegue ter uma alteração significativa nos indicadores. Às vezes, um determinado número cai, mas, depois, em regra geral, fica tudo estático”, comenta.
Para o delegado, faltam regras mais rígidas em relação às infrações cometidas no trânsito. Por exemplo, a Operação Lei Seca é realizada há oito anos e o número de pessoas abordadas dirigindo sob efeito de álcool permanece estático.
“Nós estamos há oito anos fazendo essas barreiras e a quantidade de condutores flagrados dirigindo sob efeito de álcool permanece estático. Por que? Porque as pessoas não adquirem consciência, não adquirem educação, têm dificuldade em mudar seus hábitos. Nosso país é exemplo, em nível mundial, na criação de regras rígidas, o problema é dar efetividade a essas regras. Então, o Código de Trânsito Brasileiro estabelece uma série de punições, dentre elas tem a suspensão do direito de dirigir para pessoas que praticam determinado número de infrações, tem a cassação da habilitação. Só que, na prática, se for pesquisar o número de condutores que fariam jus a receber essas penalidades é muito baixa. Da mesma forma é na Justiça: o número de condutores que praticam crimes de trânsito e efetivamente são condenados e pagam a pena é extremamente baixo. Então, as nossas leis são muito boas, mas elas carecem de efetividade, porque o aparato estatal não confere a punição àqueles que praticam as infrações. Aí, vira uma lei morta né”, finaliza.