Assentados: Com Terra e sem Pátria
Por por Idézia Cândio
04/05/2012 - 19:16
A luta pela terra no Brasil desenrola-se a décadas, mas não tanto quanto a partir da criação do Movimento dos Sem Terra (MST), movimento que passa pressionar o governo federal para que as terras improdutivas sejam distribuídas àquelas pessoas que querem plantar e colher e viver na e da terra.
Na labuta com a terra o pequeno produtor rural se impõe sobre o agronegócio e consegue colocar a disposição da mesa do brasileiro mais de 72% de sua alimentação.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por um projeto de Reforma Agrária que não se consolidou, o homem do campo segue com bravura e resiste ao acaso do poder público Federal, Estadual e Municipal.
O Município de Cáceres Mato Grosso comporta em seu espaço 23 Assentamentos onde são produzidos os mais variados tipos de alimentos, em média somente no PA Limoeiro hoje, temos mais de 30.000 pés de bananas produzindo, além do leite, mandioca, milho, frango caipira, queijo...
Todos esses alimentos são colocados na mesa do povo cacerense, os assentamentos do município mantém funcionando uma das maiores e melhores feiras-livre do estado.
Se prestarmos atenção na produção de alimentos em Cáceres, perceberemos que além da produção do pequeno produtor se produz carne bovina e essa tem destino certo, as indústrias de exportação da carne in natura.
Se observarmos também para onde os olhos do poder público estão voltados logo enxergaremos cifras e cifras, como o cuidado em não deixar de atender o concerto de estradas de grandes fazendas, porque deve se escoar a produção de gado.
Nós dos assentamentos, nós os pequenos produtores, nós que labutamos e conseguimos com nosso suor colocar comida na mesa de muita gente estamos simplesmente ao acaso dos poderes público tanto local, estadual e federal.
A indiferença pela qual somos vistos pelo poder público desafia a nossa paciência e o apreço que deveríamos, de acordo com nossa cultura hierárquica, ter com as pessoas que ocupam o poder neste pais, principalmente no município de Cáceres.
O desprezo aos assentados por todos os segmentos de secretarias desse município, principalmente pela secretaria de obras, nos leva a refletir um pouco mais sobre aquelas visitas em anos eleitorais, realizadas por pessoas que ainda acredita na politicalha e não na politica, pelos gestores que ainda acreditam que gestar é apenas dizer: “Eu não tenho como consertar suas estradas, digam ao INCRA que se ele repassar o dinheiro para prefeitura eu faço”
Sendo assim, nós do Assentamento Limoeiro e Paiol, continuaremos seguindo nossos dias sem estradas para escoar nossa produção, iniciando as aulas as 8:00 hs, lembrando que o horário para que se cumpra a carga horária e as 7:00 hs.
Continuaremos com nossas crianças saindo as 4:30 da manhã de casa e chegando na escola as 8:00, continuaremos com nossos idosos morrendo no caminho do hospital porque quando se consegue alguém para desloca-lo até lá o carro cai nas valetas da estrada.
Nós povo com terra e sem governo, prosseguiremos ouvindo e presenciando o jogo do empurra- empurra entre os caras que possuem o poder de gestar o povo dizendo: CONCERTO DE ESTRADAS de assentamento não é comigo é com o INCRA. O INCRA diz é com o Governo Federal....
Assim segue-se a saga dos povos assentados de Cáceres, ao bel prazer dos “governantes” que ao governarem deixam espaços nos assentamentos para sermos vítimas de espertalhões que aparecem nos anos políticos em nossas casas ou em nossos lugares sociais utilizando máscaras de santos que concedem promessas e após chegarem aos seus tronos deixam bastante claro que não possuem nem poder nem capacidade para cumprirem a promessa. Daí olha a gente de novo ter que depositar a fé em outro santo.
Idézia Cândio
É professora no assentamento Limoeiro