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MT: Mortes no quartel da PM acendem alerta para saúde mental da tropa
Por Greyce Lima /HNT
26/12/2023 - 19:58

Foto: reprodução

Briga e mortes dentro do quartel da Polícia Militar do município de José do Rio Claro (342 km de Cuiabá) alertaram as forças de segurança pública do Estado para a importância de ações preventivas de saúde mental e jornada de trabalho da tropa militar.

Dois sargentos morreram na unidade da 18ª Companhia de Polícia Militar, no dia 22 de outubro, depois de um desentendimento motivado pela escala de serviço do dia. O policial Gabriel Castela atirou no colega de farda, Willian Ferreira, depois de uma discussão. O militar não resistiu.

Horas depois do ocorrido, outra tragédia foi registrada dentro da mesma unidade de Polícia Militar. O sargento Castela, que voltou ao trabalho depois de matar o sargento Willian, tirou a própria vida na frente dos companheiros de trabalho. O caso mobilizou os moradores da pequena cidade de São José do Rio Claro, que chegaram a fazer manifestações em prol do sargento Gabriel.

O comandante-geral da PMMT, coronel Alexandre Mendes, depois dos fatos, afastou o comandante responsável pelo quartel da cidade e, junto da equipe de Segurança Pública, buscou prestar apoio psicológico aos policiais que presenciaram as duas tragédias na unidade. 

 

TRAGÉDIA SOOU O ALARME 

A tragédia no quartel da PM acionou o alarme das forças de Segurança Pública em relação a saúde mental da tropa.  A Coordenadoria de Assistência Social da Polícia Militar conta apenas com 16 psicólogos (contratados e efetivos) para atender mais de 7 mil PMs de todo o Estado. A maioria desses profissionais da área da saúde atua em Cuiabá. 

Ao analisar o ocorrido em São José do Rio Claro e também quanto a outros casos, como o de um sargento de Guarantã do Norte (a 708 km de Cuiabá), que gravou um vídeo chorando e publicou nas redes sociais, dizendo que “iria abandonar o serviço na unidade, pois não aguentava mais”, a psicóloga especialista em análise do comportamento, Luana Estela de Arruda, disse que a sobrecarga e o silêncio levam muitos policiais ao sofrimento emocional e mental.

 

A especialista explicou ainda que a tensa e exaustiva escala de trabalho nas ruas, sob a missão de salvar vidas e combater a criminalidade, junto ao silêncio diante de superiores e familiares, afeta policiais, que vêm emitindo sinais de alerta, de que é preciso investir em ações de prevenção, locais de apoio e campanhas de valorização à vida dentro dos quartéis.  

A análise de Luana Estela se basea nos acontecimentos do ano envolvendo policiais militares no Estado, como foi o caso do vídeo do sargento de Guarantã do Norte. “É perceptível a qualquer pessoa que há um sofrimento mental estabelecido pelo autor, no entanto, que os motivos ou dispositivos que desencadearam esse sofrimento emocional seguem sigilosos”, comenta.

Sobre a situação do sargento que divulgou o vídeo dizendo que deixaria a PM, o comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Alexandre Corrêa Mendes, em pronunciamento público gavado em vídeo à época, declarou comoção com a situação e disse que o policial já estava sob os cuidados e atendimento especializado. Mendes ainda ressaltou estar ciente dos danos causados pelos poucos investimentos em saúde mental dentro da corporação e as consequências da adoção de reposição de efetivo policial para suprir a demanda nas ruas. 

“Sei muito bem que precisamos ser mais assistidos, sei muito bem que a jornada extraordinária não é uma política salarial, mas um meio alternativo de reposição de efetivo policial. Estamos trabalhando diariamente pela saúde mental da minha tropa, o policial já está sob cuidados e atendimento especializado. A Polícia Militar atende diariamente policiais que precisam de ajuda, mas não divulgamos por ética profissional. Problema emocional acontece em todas as classes e instituições, e na PM não será diferente”, ponderou coronel Mendes.  

Segundo o comandante, neste ano, mais de 500 policiais militares receberam atendimento especializado relacionado à saúde mental.

 

 ASSUNTO DO HNT TV  

Devido aos casos recorrentes de morte de policiais militares, o programa HNT TV também abordou o assunto com o presidente da Associação de Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros (Assof-MT), coronel Marcos Sovinski, que defende que a saída para adotar medidas mais precisas de prevenção ao suicídio entre militares seria analisar os pedidos de afastamentos dos agentes por problemas de saúde mental, como apontou na entrevista.   

Ele ainda explicou que para adotar medidas preventivas também é necessário criar um banco de dados sobre os casos. Segundo Sovinski, Mato Grosso e alguns estados do país se baseiam apenas nas informações fornecidas pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em relação ao ano de 2022, o documento apontou que houve 82 suicídios de policiais militares no Brasil, dois dos casos foram de policiais militares da tropa mato-grossense. 

Coronel Sovinski trabalhou 30 anos na Polícia Militar de Mato Grosso. Em, 2020 ele se aposentou. Experiente, o militar revelou no programa como iniciou os primeiros movimentos da classe de oficiais militares no Estado, as dificuldades que enfrentavam na época e faz um comparativo com os avanços nos dias de hoje.  Com armas e equipamentos tecnológicos, a PMMT e Corpo de Bombeiros Militar (CBM-MT) são algumas das instituições mais modernas do país, conforme ele. Mas, ao se tratar de saúde mental, Sovinski disse que é preciso olhar para o ‘humano’ destes profissionais.  

“O policial ou bombeiro, estando de folga, ele tem que andar armado, se ele se deparar com um flagrante, deve agir. A maioria de casos de suicídio no Brasil com militares é na folga. Agora, quando ele está sozinho, sem farda, é outra coisa. A situação do herói gera um estresse muito maior no militar”, explicou o líder associativo. O bate-papo está disponível no Canal HNT TV, no canal do Youtube.   

ASSISTA

 

 PEÇA  AJUDA 

O CVV (Centro de Valorização da Vida) tem realizado em Cuiabá, todas as quintas-feiras, reuniões com sobreviventes ao suicídio e seus familiares. Assim como parentes de pessoas que se mataram. Também passaram a serem gratuitas as ligações feitas ao número 188. Canal de atendimento 24 horas. Mais de um milhão de atendimentos anuais são realizados por 2.000 voluntários pelo telefone 188, pessoalmente (nos 80 postos de atendimento) ou pelo www.cvv.org.br via chat, Skype e e-mail.  

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