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O pequeno grande guardião do Pequi no Caramujo: A história de Roberto Florentino Silva
Por Zakinews
20/04/2025 - 21:53

Foto: Zakinews

No coração do Distrito de Santo Antônio do Caramujo, a 30 quilômetros de Cáceres (MT), um pequeno produtor rural mantém viva a tradição, a esperança e a riqueza do cerrado. Roberto Florentino Silva, 51 anos, nascido em Paranavaí (PR), chegou à região ainda menino, com 12 anos, e carrega consigo as memórias, os desafios e as conquistas de quem ajudou a transformar a paisagem local.

Roberto é filho de Pedro Florentino Silva e Maria José Florentino Silva, e cresceu cercado por uma numerosa família que contribuiu para a construção da história da região. Entre seus irmãos estão Manoel Florentino, Pedro Florentino, José Florentino Sobrinho, Antônio Florentino, Luíz Florentino, Paulo Florentino e Gilberto Florentino, além de João Florentino Neto, já falecido e lembrado com saudade por todos. Ele é o penúltimo dos filhos. Casado com Roseli Aparecida Silva Florentino, Roberto forma com ela um casal dedicado ao campo e à comunidade do Caramujo, ainda que o casal não tenha filhos.

Em maio de 1986, Roberto desembarcou no Caramujo junto da família, fugindo das chuvas irregulares que atormentavam lavouras em Mato Grosso do Sul. “Viemos para cá porque aqui as chuvas eram intensas, o que ajudava muito na agricultura”, conta. O vilarejo recém-chegado mal passava de cinquenta edificações, com ruas sem pavimentação e uma escola modesta oferecendo apenas as primeiras séries do ensino fundamental. A natureza, lembra, era 70% preservada — um verde quase intocado que se tornou palco de sua vida.

Roberto Florentino Silva – Foto: Wilson Kishi

Roberto guarda boas lembranças dos desfiles do aniversário do Caramujo, tradicionais em setembro, que, segundo ele, deveriam ser resgatados para fortalecer a identidade local.

De seus irmãos, Roberto conta que tem dois residindo em Rondônia, na cidade de Alta Floresta D Oeste e Ji-Paraná. Em Mato Grosso, além de Roberto, são quatro, em Alta Floresta, Sinop, Várzea Grande e Cuiabá. E, um irmão que mora em Paranavaí PR.

A trajetória de Roberto como produtor de mudas começou em 2003. No início, as dificuldades eram muitas: “Na época quase não existia informação sobre produção de mudas de pequi. Tive que testar técnicas, aprender sobre tamanho de embalagem, substrato, espaçamento, controle de pragas e comercialização”, relembra. As dicas iniciais, conta, foram do saudoso amigo José Antônio Cabral e da sua curiosidade pelo manejo correto que o transformaram em referência local no cultivo do pequi.

Roberto conta que iniciou as atividades de plantio por volta de 2003 – Foto: Wilson Kishi

Apaixonado pelo fruto símbolo do cerrado, Roberto se especializou em variedades da região e também do Xingu. “Quis diversificar a oferta de mudas aos clientes. O pequi do Xingu, por exemplo, antecipa a produção. Enquanto o pequi típico daqui só colhe em janeiro, o do Xingu já começa em novembro”, explica.

A diferença mais marcante, contudo, está na germinação: a do Xingu é de cerca de 60% e sua produção de mudas é mais fácil, enquanto o pequi regional tem índice de 20%. No campo, porém, ambos se desenvolvem de maneira semelhante.

A sustentabilidade é uma preocupação constante. “Procuro minimizar o impacto dos recursos que uso. Em vez de herbicidas, controlo plantas invasoras com roçada manual. Quero ainda integrar culturas anuais nos novos plantios”, pontua Roberto, ciente de seu papel de guardião da terra.

A produção de mudas de pequi movimenta a economia do Caramujo, gerando renda para famílias da comunidade durante a safra. Na propriedade de Roberto, cerca de 2.000 mudas são comercializadas anualmente — uma fatia importante no orçamento familiar.

Se hoje Roberto produz apenas mudas de pequi, o futuro promete bons frutos. “Pretendo ampliar ainda mais minha produção de pequi. Outras espécies? Por enquanto não, mas nunca digo nunca”, revela com o tom sonhador de quem acredita no amanhã.

Vista aérea parcial do Santo Antônio do Caramujo, Distrito de Cáceres, localizada 30 km de Cáceres – Google Earth

O Caramujo de hoje é bem diferente daquele vilarejo de 40 anos atrás. Estradas, casas, escolas, comércio e saúde – tudo avançou. “Agora temos duas escolas, um posto de saúde moderno e comércio que atende tudo o que precisamos. As casas hoje têm excelente padrão e as propriedades rurais estão bem estruturadas”, resume Roberto, orgulhoso do progresso da terra que escolheu para criar raízes.

Roberto Florentino Silva não apenas cultiva mudas de pequi, mas também cultiva história, sustentabilidade e futuro em Caramujo. Entre desafios e vitórias, sua jornada mostra a força da agricultura familiar e a importância de valorizar o cerrado e suas tradições. Em cada muda, germina um pouco da esperança de toda uma comunidade.

Sobre o Pequi

O pequi (Caryocar brasiliense) é um fruto símbolo do Cerrado brasileiro, cujo nome em tupi remete à sua característica “pele espinhenta”. Sua árvore, o pequizeiro, chega a 12 metros de altura e produz frutos do tamanho de uma maçã, com casca verde e polpa amarela macia envolvendo um caroço repleto de espinhos finos. A colheita ocorre de novembro a janeiro, destacando-se pela dificuldade de germinação – menos da metade dos caroços vingam e o processo pode levar até um ano. Entre os frutos nativos do Cerrado, o pequi é o mais comercializado, exercendo papel essencial na renda e cultura das comunidades rurais, especialmente em estados como Goiás, Mato Grosso e Norte de Minas.

O pequi é ingrediente principal de pratos típicos, como arroz com pequi, e também usado para temperos, conservas, licores e sorvetes. Além de ser saboroso, destaca-se pelo alto valor nutricional, possuindo o dobro de vitamina C em relação à laranja, além de ser rico em vitaminas A e E e carotenóides, que ajudam na prevenção do envelhecimento e de doenças da visão. Sua amêndoa fornece um óleo com propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes e gastroprotetoras, ampliando ainda mais a importância do fruto tanto para a alimentação quanto para a saúde das populações do Cerrado.

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