A iniciativa beneficiará diretamente 100 famílias de cinco quilombos da Baixada Pantaneira, valorizando saberes ancestrais e práticas agroecológicas
A articulação entre a Associação Quilombola do Chumbo (Aquilumbo) e o Instituto Baquité Quilombola (IBQ) resultou na aprovação do projeto “Nossos Quintais Quilombolas: Alimentação e Ancestralidades” no Edital de Empoderamento Socioeconômico de Mulheres Negras da Fundação Banco do Brasil. A iniciativa, que foi a única aprovada no estado de Mato Grosso, destaca a força da organização e o conhecimento ancestral das mulheres quilombolas de cinco comunidades da Baixada Pantaneira, em Nossa Senhora do Livramento e Poconé: Ribeirão da Mutuca, Nossa Senhora Aparecida de Chumbo, Jejum, Campina de Pedra e Morrinhos.
O projeto, concebido e liderado por mulheres com profundo conhecimento de seus territórios e tradições, baseia-se no conceito de “terreiro”, um espaço de autonomia, resistência e soberania alimentar. O terreiro, mais do que um quintal, é o centro da vida, onde o conhecimento sobre a terra, as plantas e os animais se manifestam. A iniciativa beneficiará diretamente 100 famílias, valorizando saberes ancestrais e práticas quilombolas e, por isso, agroecológicas. “É uma tecnologia social quilombola que utiliza o método ‘cria solto e planta cercado’, característico das práticas agrícolas de nosso povo”, explica Fran Paula, da Coordenação Técnica do Projeto.
A aprovação do projeto, que está alinhado ao Eixo de Ação 02 do edital da FBB, é um passo significativo para impulsionar o empreendedorismo e a inclusão socioeconômica das mulheres negras quilombolas e a luta dessas comunidades. Entre as atividades planejadas, estão: a implementação e o monitoramento de quintais produtivos, a realização de oficinas de plantas medicinais e intercâmbios para troca de experiências entre as comunidades.
Além disso, a iniciativa busca fortalecer a rede de apoio, valorizar a cultura e a história do povo quilombola, e reforçar a capacidade técnica e a organização política das mulheres em suas atuações. “Ele nos permitirá não apenas resgatar e valorizar saberes ancestrais, mas também criar uma base sólida para a nossa sustentabilidade, garantindo a permanência de nosso povo em nossos territórios e a transmissão de nossa história para as futuras gerações”, destaca Eleny Silva, uma das coordenadoras.
“Para nós, mulheres quilombolas, a força de nossa ancestralidade é o que nos move. A luta por nossos Territórios e pela nossa cultura não pode ser dissociada da luta pelo direito de existir e de perpetuar nossos saberes”, finaliza Laura Silva, líder e dirigente quilombola da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) Nacional e do território Ribeirão da Mutuca.