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Quem cuida de quem ensina? No Dia dos Professores, cresce o alerta sobre a saúde mental e o esgotamento emocional na educação
Por Assessoria
13/10/2025 - 14:34

Foto: Pexels

 

Debate sobre valorização ganha novo contorno: não basta reconhecer, é preciso garantir equilíbrio emocional

Celebrado em 15 de outubro, o Dia dos Professores é uma data dedicada a homenagear quem faz da sala de aula um espaço de transformação. Mas, em meio às celebrações, o dia também acende um alerta: quem está cuidando de quem ensina?

Por trás de cada lição em sala, há histórias de sobrecarga, insegurança e adoecimento emocional. De acordo com levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), com base em dados do INSS, mais de 150 mil professores da rede pública brasileira foram afastados de suas funções em 2023 por motivos relacionados à saúde mental. O principal diagnóstico é o esgotamento emocional, frequentemente associado à depressão e à síndrome de burnout — condições que têm se tornado cada vez mais comuns entre educadores.

A professora Ariane Meneghetti, psicopedagoga e coordenadora do Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico da Estácio, afirma que o adoecimento psíquico deixou de ser um fenômeno isolado para se tornar uma realidade coletiva nas escolas e universidades. O excesso de tarefas, a desvalorização e a falta de suporte institucional, segundo ela, transformaram o ambiente educacional em um terreno fértil para o esgotamento. “A docência, que é uma profissão maravilhosa e significativa, vem sendo atravessada por muita pressão. O emocional se esgota e, com ele, a saúde física e mental do professor”, observa.

A rotina que adoece - A sobrecarga vivida pelos professores vai muito além da sala de aula. Além de ensinar, eles assumem funções que extrapolam sua formação: são mediadores, conselheiros, psicólogos, gestores e até figuras de apoio para famílias em vulnerabilidade. Sem o suporte necessário, acabam vivendo uma rotina marcada por cansaço, frustração e solidão profissional.

Ariane destaca que fatores como a baixa remuneração, a falta de diálogo com a gestão escolar e as condições precárias de trabalho agravam o quadro. Um dos pontos mais delicados, segundo ela, é o desafio da inclusão escolar. Muitos docentes acolhem alunos com deficiência ou neurodivergências, mas não recebem preparo nem recursos suficientes para garantir um acompanhamento adequado. Essa ausência de estrutura — tanto pedagógica quanto emocional — gera insegurança e sentimento de impotência, ampliando o risco de adoecimento.

Pandemia e crise de identidade docente - O impacto da pandemia de Covid-19 também deixou marcas profundas na saúde mental dos educadores. O isolamento, a transição para o ensino remoto e o medo de adoecer criaram um ambiente de incerteza que desencadeou ansiedade, estresse e crises de pânico.

Durante esse período, relata Ariane, os professores precisaram se adaptar rapidamente às novas tecnologias e metodologias de ensino. A mudança abrupta, somada à perda do contato humano — essencial para o vínculo pedagógico —, levou muitos profissionais a questionarem o próprio papel. O que antes era fonte de realização pessoal se transformou, em muitos casos, em um espaço de angústia e desorientação.

Essas mudanças não se desfizeram com o fim da pandemia. Para muitos docentes, a sensação de exaustão e desconexão com o propósito de ensinar permaneceu, revelando o quanto a saúde mental precisa ser tratada como parte da política educacional, e não como tema passageiro de campanhas sazonais.

Do discurso à prática do cuidado - Apesar do avanço nas discussões sobre saúde mental, o tema ainda é tratado de forma superficial e pontual em muitas instituições. Ariane reforça a necessidade de políticas permanentes de cuidado, que integrem o bem-estar docente ao cotidiano das escolas. Ela cita como exemplo o Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico (NAAP), da Estácio, que oferece acompanhamento psicológico e psicopedagógico a professores, coordenadores e alunos — uma iniciativa que busca transformar o acolhimento em cultura institucional.

De acordo com a professora, práticas como a criação de espaços de escuta ativa, grupos de apoio emocional, formações voltadas ao autocuidado e flexibilização da carga horária são medidas eficazes para reduzir o estresse e fortalecer vínculos. Mais do que prevenir afastamentos, essas ações promovem pertencimento, reconhecimento e equilíbrio emocional.

A saúde mental dos educadores é um reflexo direto das condições de trabalho, da valorização profissional e da importância que a sociedade atribui à educação. Reconhecer isso é o primeiro passo para transformar o cuidado em política, e a empatia em prática.

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