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Curso 'Jacarezinho tem primeira mulher formada em 36 anos no Pantanal
Por Diário Online
23/12/2025 - 15:18

Foto: reprodução

A soldado (fuzileiro naval) Júlia Maria, de 22 anos, entrou para a história da Marinha do Brasil ao se tornar a primeira mulher a concluir o Curso Expedito de Operações no Pantanal (C-Exp-OPant), conhecido como “Jacarezinho”, em seus 36 anos de existência. O feito ocorreu após 47 dias de treinamento intenso em uma das regiões mais desafiadoras do país.

(A soldado espera que sua trajetória incentive outras mulheres a terem foco e persistência) – Durante o curso, realizado entre novembro e dezembro nas áreas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Júlia enfrentou calor extremo, chuvas torrenciais, terreno alagado, animais peçonhentos e elevado desgaste físico e mental. Um dos momentos mais difíceis foi a marcha de 12 quilômetros, sob calor intenso, carregando mochila e fuzil. “Como sou mais baixa, precisei me esforçar o dobro para acompanhar o ritmo”, relembra.

Apesar das dificuldades, a militar manteve o foco. “Se não fosse desligada por insuficiência técnica ou de saúde, eu não sairia. Desistir não era uma opção”, afirmou. Dos 49 alunos que iniciaram o curso, apenas 23 chegaram ao final – entre eles, Júlia.

Natural do Rio de Janeiro e criada na Ilha do Governador, a soldado teve influência familiar e esportiva na formação de sua vocação militar. Neta de um sargento do Exército e de uma professora da rede pública, cresceu em um ambiente marcado pela disciplina e pelo incentivo ao esforço. Antes de ingressar na Marinha, conciliou trabalho em uma rede de fast food com os estudos. A aprovação no concurso ocorreu no limite da idade permitida, e ela ingressou na Força em agosto de 2024, integrando a segunda turma feminina de soldados fuzileiros navais.

Atualmente, Júlia serve no 2º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais, o Batalhão “Humaitá”, no Rio de Janeiro. A decisão de realizar o curso no Pantanal gerou surpresa entre colegas, mas também apoio. Antes do deslocamento, recebeu de um instrutor veterano um brevê simbólico, como incentivo. Ao chegar a Ladário, optou por raspar a cabeça por questões de segurança operacional, doando o cabelo posteriormente a uma instituição de caridade.

(Capitão de fragata Amambahy (fuzileiro naval), futuro comandante do 3º Batalhão de Operações Ribeirinhas, destacou-se como o “Aluno 01”)

O curso

Realizado pelo 3º Batalhão de Operações Ribeirinhas (3ºBtlOpRib), o curso teve como principal região de instrução a Área de Adestramento do Rabicho (AAR), com 205 km² ao longo do rio Paraguai. Os alunos passaram por instruções de sobrevivência, natação utilitária, orientação e navegação fluvial e terrestre, operações com embarcações e aeronaves, além de tiro de combate.

Segundo o comandante do 3ºBtlOpRib, capitão de fragata (fuzileiro zaval) Danilo Lopes da Silva, a complexidade do curso está na imprevisibilidade do Pantanal. “É um ambiente que exige grande capacidade de adaptação, com mudanças bruscas de clima e terreno constantemente alagado”, destacou.

Ao final do treinamento, os concluintes passaram a ostentar o gorro marrom – símbolo das águas do Rio Paraguai –  e o distintivo com a tríade Jacaré-Âncora-Louros, que representa a força, o compromisso com a Marinha e a superação das adversidades. Júlia agora integra o grupo de 909 combatentes ribeirinhos formados pela Força.

Além do pioneirismo feminino, a edição deste ano do curso registrou outros marcos inéditos. Pela primeira vez, um oficial da Armada concluiu o treinamento – o primeiro-tenente Elias de Lima Machado, do Navio Monitor “Parnaíba”. Outro destaque foi o “Aluno 01”, o capitão de fragata (fuzileiro naval) Francisco Leonardo Carvalho Amambahy Santos, futuro comandante do 3ºBtlOpRib, que decidiu participar do curso para vivenciar a rotina operacional antes de assumir o comando em 2026.

Para Júlia, a maior recompensa veio no plano pessoal. “Liguei para minha avó e ela chorou, dizendo que eu era o grande orgulho da vida dela. Tudo valeu a pena”, afirmou. A soldado espera que sua trajetória incentive outras mulheres a persistirem. “Mesmo que não consigam de primeira, não desistam. Com foco e persistência, a vitória chega.”

(Soldado Júlia Maria superou 47 dias de sobrevivência na selva e entrou para a história dos Fuzileiros Navais)

Com informações da Agência Marinha de Notícias.

 

 

 

 

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