Mulheres à beira de um ataque machista
Professoras da UFMT falam sobre comportamento: “há vários perfis de mulheres – e um deles é a mulher mais agressiva”
Por Diário de Cuiabá
15/04/2012 - 09:44
Se você está entre aqueles que acham que o comportamento das mulheres mudou demais, que elas estão excessivamente competitivas, exigentes e são até agressivas com os homens quando entendem que algo não saiu ao seu agrado, você está mais ou menos certo.
Estudiosas das questões de gêneros vêem um futuro com muito mais mulheres assim, fortes e duronas com os homens, determinadas a atuar dessa maneira para percorrer caminhos nos quais não encontravam passagem para atingir seus objetivos ou chegar em campos que antes eram exclusividades masculinas.
A presidente da República, Dilma Roussef, seria esse modelo de mulher? A fama de durona a primeira presidente mulher carrega desde antes mesmo de assumir o comando da Nação. Por muitas vezes ela seria apelidada de “dama de ferro”, numa comparação à ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.
Estudiosa de gêneros há 30 anos, a professora do curso de Assistência Social da UFMT, Madalena Rodrigues, 56 anos, e integrante do Núcleo de Estudos Sobre a Mulher e Relações de Gêneros (Nuepom) da mesma faculdade, não acredita que esse seja o perfil da mulher atual.
No entendimento de Madalena, há vários perfis femininos e um deles pode ser esse. No meio de tantos, diz, há aquele da mulher que acredita que para abrir caminho precisa ser durona, mais do que os próprios homens.
A coordenadora do Nuepom, professora Irenilda Ângela Santos, 48 anos, doutora em Desenvolvimento Sustentável pela UnB (Universidade de Brasília), concorda com a colega e destaca que por não terem referências femininas, no geral as mulheres que ascendem ao poder tendem a copiar práticas masculinas.
A professora Geny Solange da Cruz, 53 anos, servidora técnica da UFMT e coordenadora do curso de Assistência Social da Unic, também mestra em Políticas Sociais pela UnB, concorda com a colega Irenilda e observa que assumem papéis antes considerados dos homens acabam por tê-lo como referência em suas atitudes.
Tanto Madalena, como Irenilda e Geny lembram que sempre houve mulheres firmes e duronas, fora ou no poder político-econômico. Como exemplo, elas citaram a ex-presidente indiana Indiga Gandhi, a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e a presidente Dilma Roussef.
Irenilda abre aspas para uma crítica à presidente Dilma. Ela diz que a presidente pode até se apresentar durona, mas não tem demonstrado isso em relação ao meio ambiente. ”Ela não deveria ceder em questões ambientais como está fazendo para aprovação do novo Código Ambiental”, reclamou.
Com Dilma, observa Madalena, talvez isso tenha ocorrido por conta, além do caráter forte dela, da prisão, espancamento e do exílio. Mestra em Políticas Sociais pela PUC-São Paulo, Madalena recorda que as mulheres não são subordinadas, mas sofreram e ainda vem sofrendo subordinações. ”A sociedade machista, patriarcal, não acabou”, diz.
Geny complementa: “o homem ainda coisifica a mulher como algo dele”, acrescentando que nessa sociedade machista as mulheres consideradas fortes e duronas sofrem críticas das próprias mulheres.
“Batemos duro nos homens opressores, dominadores”, observa Madalena. E se uma parcela delas estão endurecidas, seria por conta da opressão e violência repetidas ao longo de séculos. “As mulheres estão aprendendo a se defender especialmente com a palavra. Mas, endurecer sem perder a ternura jamais”, completa.
Irenilda assinala que a partir da década de 60 as mulheres têm avançado na percepção e conhecimento de si mesmas. Já os homens parecem perdidos diante dessa nova mulher que confronta o que ele apreendeu — e uns se tornam mais agressores e outros dependentes.
Na conclusão das três estudiosas de gêneros, o que está claro na nova mulher é a conduta assertiva e a luta por uma cultura de paz. Elas vêem uma mulher que busca um homem parceiro, com o qual possa compartilhar uma relação na qual não exista mais diferenças entre o que um pode e o outro não.