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Maggi deixa política ao fim do mandato
Por Laura Nabuco/Diário de Cuiabá
29/09/2013 - 19:52

Foto: arquivo
Além de não disputar a eleição de 2014, o senador Blairo Maggi (PR) está decidido a deixar a vida pública. Entre os motivos está a condenação dos réus do processo do Mensalão com base na teoria do domínio do fato. Para o republicano, desde a decisão do Supremo Tribunal Federal, “a atividade política se transformou em algo de altíssimo risco, principalmente no Executivo, onde, teoricamente, você precisa saber de tudo, mas normalmente não sabe”. Em entrevista ao Diário, Maggi falou ainda sobre a possível candidatura de seu primo, o empresário Eraí Maggi, e do senador Pedro Taques (PDT) ao governo do Estado e também do governador Silval Barbosa (PMDB) ao Senado. Preferiu, no entanto, não avaliar a gestão do peemedebista com quem dividiu seu último mandato à frente do Palácio Paiaguás. “Não vou entrar nessa seara porque é muito complicada”. DIÁRIO - Considerando que o senhor não é candidato a governador, qual é o candidato ideal: alguém da base do governo federal? Um nome independente? Ou opositor? BLAIRO MAGGI - Quem vai escolher no final é a população de Mato Grosso, mas sempre que você puder ter um candidato alinhado com o governo federal é melhor para o dia-a-dia do governo. Mas quem garante que quem vai ganhar a eleição em 2014 para o governo federal? As disputas são abertas. Cada um dos grupos que existem deve trabalhar alinhado politicamente para tentar fazer o governo federal e o estadual, mas a gente não sabe quem é quem neste processo. Mas, entre a opção de não estar alinhado ou de estar, é melhor estar alinhado, sem dúvida. DIÁRIO - Seu primo, o empresário Eraí Maggi, anunciou o desejo de ser candidato ao governo. Como o senhor avalia essa possível candidatura? Acredita que ele esteja preparado? MAGGI - Ele é um cidadão que tem uma experiência empresarial muito grande. Começou a vida do nada e construiu um verdadeiro império, junto com a família. Tino empresarial, comercial, para lidar com pessoas, organizar e planejar ele tem. Obviamente, falta o que falta para muita gente e faltava para mim em 2003: experiência política. Isso você vai adquirindo com o tempo. O próprio processo te ensina. Coloca você em situações desconhecidas, mas que não são difíceis de compreender, desde que se tenha bom-senso para interpretar. Isso ele também tem. Então, a exemplo de tantos outros que vivem no Estado e têm direito de se candidatar, ele tem direito e, caso se candidate, vai fazer política como todo mundo faz, com dedicação. DIÁRIO - O senhor tem participado das articulações envolvendo a eventual candidatura dele? Como primo, se sente, de alguma maneira, pressionado a participar deste projeto? MAGGI - Eu vejo muitas notícias que estão circulando na imprensa, especialmente depois da visita da presidente Dilma [Rousseff] e da ida dele com ela para Brasília, com coisas que não são a realidade. A imprensa não inventa, mas aumenta. Eu sei que muitas coisas que foram ditas e análises que foram feitas não refletem a realidade. Pelo que tenho conversado com ele, ainda está muito distante da possibilidade de admitir uma candidatura dessas. Os dias vão passar, essa semana ainda tem a possibilidade de troca de partidos, e essas coisas ficarão mais claras a partir de cinco de outubro, quando terminar o prazo de inscrição de filiação de quem pretende disputar. DIÁRIO - O PR é um dos partidos que convidaram o Eraí a se filiar? MAGGI - Claro que o PR o convidou, mas ele está em fase de avaliação por não saber onde estarão as outras pessoas no processo. É normal esperar até o último momento para tomar uma decisão. DIÁRIO - Caso ele aceite a proposta, quem o senhor avalia como melhor nome: ele ou o ex-prefeito de Água Boa, Maurício Tonhá? MAGGI – Os dois vêm da linha empresarial. Têm grande experiência de administrar, lidar com o financeiro. Ainda é uma hipótese os dois estarem no mesmo partido. Eu não acredito que isso venha a acontecer, até porque o Maurição tem a primazia da candidatura no PR, já está conversado com ele. Se o Eraí quer disputar, é mais fácil buscar espaço em outro lugar do que vir concorrer dentro do próprio partido. Isso aconteceu no PDT mesmo, de onde ele saiu. Lá tem o senador Pedro Taques com uma pré-candidatura colocada e, se ali já não é bom ficar para não criar uma cisão interna, é melhor ele ir para outro lugar. DIÁRIO - O senhor acha que o PR deve continuar junto com PMDB e PT na eleição do ano que vem? MAGGI – Isso não faz a mínima diferença. Sempre que se vai disputar uma eleição majoritária como esta, com escolha para o Congresso, para a Assembleia e também para governador e presidente, neste momento as coisas ficam todas zeradas. Todas as cartas estão na mesa e todos os partidos estão dispostos a conversar. Obviamente, se você tem lideranças que estão polarizando a disputa há algum tempo, é natural que eles fiquem em posições contrárias. Mas os demais ficam sempre procurando onde se agregar. Então, não significa dizer que quem não está na base deste governo não possa estar, na eleição, com um candidato deste governo e vive-versa. É um novo momento, uma nova partida de futebol. Você vai distribuir os jogadores, os partidos e vai começar uma nova disputa. Eu não vejo que necessariamente você deva estar [junto com o PMDB e PT] e, se você não está, que isso signifique uma ruptura. DIÁRIO - E quanto à candidatura de Wellington Fagundes ao Senado, o senhor tem entusiasmo? MAGGI – Há vários mandatos ele vem tentando construir esta candidatura a senador e, algumas vezes, foi preterido. Pelo que lembro em 1996 ou 1998 ele tinha condições políticas muito boas para ser candidato ao Senado e foi preterido dentro do grupo de que fazia parte, que tinha o Dante [de Oliveira] e o Antero [Paes de Barros]. O próprio PL, que era o partido do qual ele fazia parte, não deu a vaga para ele disputar. Em 2010, ele também era pré-candidato e eu, não. Minha ideia era terminar a candidatura de governador, mas, por uma conjuntura e decisões que foram sendo tomadas, acabei aceitando a candidatura ao Senado e ele teve que ceder espaço, disputando novamente a Câmara Federal. Então, ele está mais uma vez buscando o espaço dele. Faz por merecer essa candidatura ao Senado e o PR já deu a garantia de disputar. Lá no PR as coisas estão bem claras: temos um candidato a governador e um ao Senado. Todo mundo acha que é difícil ter os dois, porque, se tiver, tem que se andar praticamente sozinho. Os dois [Maurição e Wellington] sabem disso, portanto na caminhada daqui para frente é que vamos decidir. Um ou outro, ou até os dois. No momento em que tomarmos a decisão de ter governador e senador do mesmo partido, sabemos que vamos ter poucos apoiadores partidários, porque os outros também têm seus projetos. Se vamos abrir mão de uma candidatura, no momento certo terá que se fazer uma discussão sobre isso. DIÁRIO - É possível que, em 2014, os partidos da base de Silval Barbosa não consigam viabilizar um candidato a governador com chances de vitória. Na certa, vão ver no senhor um nome de consenso. O senhor já refletiu sobre isso? Será difícil dizer não? MAGGI – Não, a procura por esta situação que você coloca já existiu. Não foi nem uma, nem duas, ou três vezes. É quase que diariamente. Mas eu não vou disputar a eleição. É uma questão definida há muito tempo e não deve ser surpresa para ninguém. Há muito tempo venho dizendo que não vou disputar. Minha ida para o Senado já foi um acidente. Eu queria ter terminado o governo em 2010 e encerrar minha participação na política, mas, mais uma vez, por causa das situações que foram criadas, acabei disputando. Mas pretendo que seja minha ultima participação nas eleições. Está muito difícil fazer política. A classe está muito desgastada. Todo mundo que vê um político fala ‘esse é bandido’. Pode ser mais ou menos bandido, mas é bandido. Eu, sinceramente, não nasci para isso e não gosto desse tipo de situação. Acho que é ruim para política. Muitas pessoas que poderiam fazer política não vêm por isso, por causa da depreciação da classe. E, principalmente, depois da condenação do Supremo com base na teoria do domínio do fato – em que condenou algumas pessoas sem nenhum tipo de prova, mas por entender que elas deveriam saber -, a atividade política se transformou em algo de altíssimo risco. Principalmente no Executivo onde, teoricamente, você precisa saber de tudo, mas normalmente não sabe. Ficou muito perigoso ser condenado ou conduzido a um processo criminal ou mesmo de improbidade administrativa pela teoria do domínio do fato. Tenho conversado com muita gente que faz parte da política e que está saindo. Muitos outros, que têm uma avaliação bem clara dos riscos que representa ser Executivo, não pretendem entrar na política. Foi uma guinada muito grande que o Supremo deu. Não sei se vai permanecer esse entendimento, mas, se permanecer, vamos ter uma mudança muito brusca nas candidaturas. Eu já sou um produto disso! DIÁRIO – Então, o que pesou mais na decisão de não querer ser candidato foi uma falta de motivação? MAGGI – Não, minha decisão de não querer fazer política já vem há algum tempo. A candidatura ao Senado já não deveria ter ocorrido, mas essas coisas sobre a mudança na interpretação da legislação reforçam o meu ponto de vista de não participar. Não é que eu não goste da política, é que tenho outras coisas para fazer no setor empresarial que são tão importantes quanto. Eu já dei minha contribuição ao Estado. Fui governador duas vezes e creio que fiz um bom trabalho. Dei uma demonstração de que há possibilidade de fazer o Estado crescer e se desenvolver. Mas também creio que pessoas novas chegam com mais vontade e mais determinação. Não conhecem tanto os perigos e, por isso, arriscam mais. DIÁRIO - Enquanto o senhor diz que não é candidato, o senador Pedro Taques já colocou o nome dele. Há chance de vocês estarem juntos em 2014, com o senhor apoiando a candidatura dele? MAGGI – Vai depender de como as coligações serão feitas, se meu partido terá candidato ou não, se meu primo será candidato ou não. Tem várias coisas que vão interferir. Pessoalmente, eu não tenho nada contra. Aprendi a conviver com o senador Taques neste período em que estamos juntos no Senado. É um cidadão extremamente inteligente, prático e que, quando não conhece um assunto, estuda. Eu nunca vi você perguntar uma coisa ao Taques que ele não conhece e ele enrolar para responder. Diz ‘não sei’. Amanhã ele volta e diz que entendeu, porque estudou o assunto. Acho isso uma característica muito importante para um homem público. DIÁRIO – Há alguns dias, o governador Silval Barbosa deu a entender, em conversa com servidores que não estará no governo no ano que vem, ou seja, que será candidato, possivelmente ao Senado. O que o senhor acha desta decisão? MAGGI – Acho que o governador Silval, como qualquer outro, tem a liberdade de escolher o caminho que quer trilhar. Particularmente, já disse isso a ele e à imprensa: acho que ele deve continuar o mandato até o final. Por que isso? Ele tem sofrido muito com essas obras da Copa. Todos nós gostaríamos que uma obra dessas começasse num mês e três meses depois estivesse pronta. Com o mínimo de complicação possível para a cidade e as pessoas. Mas esses projetos são complexos, de muitas interferências. Uma hora falta o recurso, outra hora falta o projeto, outra hora falta o ferro e aí vai. Então, ele sofreu muito e está sofrendo ainda. E, justamente, no período em que ele terá que se desincompatibilizar, ele vai deixar de inaugurar, de participar da Copa. A colheita, depois do plantio difícil que ele teve, se não ficar [no governo], não vai fazer. Vai ser um terceiro que vai colher o que foi duramente cultivado. DIÁRIO – Sobre a Copa, inclusive, fala-se muito em Cuiabá de que algumas empreiteiras não estão conseguindo receber pelas obras. Alguma reclamação neste sentido já chegou até o senhor? MAGGI – Tenho ouvido também, principalmente por parte daquelas obras que estão ligadas ao Dnit. O Dnit, às vezes, atrasa o pagamento e o governo atrasa também. Entre as medições e o pagamento se passa muito tempo. A burocracia no país é muito grande. Tem muita gente para verificar a conta, tem muitos carimbos a serem batidos, muitos departamentos para se passar. A velocidade da fiscalização não é a mesma das obras. Isso traz um certo descompasso, não só nas obras de Cuiabá. Se você pegar esses empreiteiros que fazem rodovias no Brasil afora, que trabalham com o governo federal, eles também vão dizer que os pagamentos não são religiosamente nos dias programados. Não creio que esteja faltando dinheiro, porque essas obras são de dinheiro federal e de financiamentos. Para o dinheiro próprio que o governo tinha que colocar, tem o direcionamento dos 30% do Fethab. Então, se bem organizado e bem tocado, conforme o planejamento, não quero crer que faltará dinheiro. DIÁRIO - Pessoas do PMDB costumam ventilar na imprensa que as contas do Estado estão ruins porque haveria um rombo do governo passado. Como o senhor enxerga estas declarações? MAGGI – Já as rebati com os devidos argumentos. Meu único argumento - não vou ficar aqui discutindo números - é que você pode procurar no Tribunal de Contas do Estado – as contas são abertas, públicas, registradas no Fiplan – e você verá que, no dia em que eu saí do governo, havia no caixa R$ 940 milhões, todas as contas estavam pagas, os empreiteiros pagos, tudo empenhado e liquidado. Eu não vou ficar batendo boca com o PMDB que não conhece ou que não sabe tocar as coisas. Quem tem que falar por mim, já que sou ex-governador, é o Tribunal de Contas, que julgou as contas e tem armazenados os números. Quem quiser, pode solicitar e o Tribunal tem a obrigação de entregar a qualquer cidadão, conforme a Lei da Transparência e pela própria coerência também. Não tem nada escondido. Meu governo foi 100% transparente e tudo o que se fazia estava registrado no mesmo dia no sistema Fiplan. Portanto, não tenho nem como argumentar fora do que está escrito ali. DIÁRIO - Como congressista, o senhor sentiu algum efeito na rotina do Senado após as manifestações que ocorreram no primeiro semestre? MAGGI – Parece que há uma preocupação de se ter uma pauta mais limpa, de efetivamente colocar para votar vários projetos que não andavam. Nitidamente, o que me chamou mais atenção e acho que foi o mais importante e pouca gente viu, mas que para mim será uma mudança muito forte na forma de fazer as coisas, foi a lei de 2009, de iniciativa do presidente Lula, que é anticorrupção das empresas. Para mim, essa é a lei mais importante que foi votada nos últimos tempos. Até então, as empresas não faziam parte do polo passivo das ações penais. Eram sempre os empresários, então, as empresas continuavam funcionando normalmente. A partir dessa lei, as ciosas mudaram muito. As multas, quando uma empresa cometer um ato contra o governo, podem ir de R$ 6 milhões a R$ 60 milhões e os reparos dos danos podem ir a 20% do faturamento bruto. Isso significa que pode quebrar uma empresa. A legislação é parecida com a ambiental, não requer provas: o ato está pronto, então dali para frente segue. Também não é porque você vende a empresa que ela vai se livrar dessa discussão jurídica. O agravo está sobre a empresa. Para mim, a mudança nesta legislação é o fato mais importante e posso dizer com toda a segurança: só foi votado porque houve essa pressão das ruas. DIÁRIO - Como o senhor avalia a gestão e o relacionamento da presidente Dilma Rousseff (PT) com o Congresso? MAGGI – O governo dela tem plantado muitas coisas, mas que dificilmente ela colherá, pelo menos não neste mandato, talvez no outro, caso ela tenha. Especificamente na questão de projetos estruturantes como os portos, que teve uma mudança na legislação, a concessão das ferrovias, das estradas... Tudo isso são coisas que a longo prazo você vai colher. O programa que criou condições para que milhares de jovens brasileiros estudem fora também. Esses jovens vão demorar quatro ou cinco anos para voltar. Então, daqui a 10 anos talvez vamos começar a ter de volta esse investimento que o país está fazendo neles. É positivo, tem que se aplaudir, mas são coisas que os resultados não são para amanhã. Mas governar é isso, não adianta olhar só para a próxima eleição. Com respeito ao Congresso, é um fato, todo mundo reclama. É um desleixo e não se cuida disso. A interlocução entre governo e Congresso é muito ruim. O governo lembra do Congresso quando precisa de votos para não derrubar vetos, mas no dia-a-dia há um completo desinteresse.
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