Mais de 90% dos servidores têm a renda comprometida
Por Midianews
08/12/2013 - 13:55
Mais de 99% dos servidores da Prefeitura de Cuiabá estão endividados com empréstimos consignados. Dos 8.794 servidores de carreira do Município na ativa, apenas 55% não têm os descontos em folha decorrentes desta modalidade de crédito.
Porém, 20% dos servidores com consignados já extrapolaram o limite de comprometimento do salário e recebem menos de 60% do salário ou até quase nada.
Além dos descontos em folha, os bancos ainda oferecem CDC, refinanciamento de dívidas, e o servidor se vê numa bola de neve sem fim, contraindo novos empréstimos para pagar os contratos mais antigos.
O município permite descontos em folha para o Banco do Brasil, Santander, BMG e Panamericano.
No Estado, a situação se repete. Dados da Secretaria de Estado de Administração (SAD) indicam que, dos 40 mil servidores de carreira ativos, perto de 30 mil estão com consignados. Do universo de 21,6 mil aposentados, 90% estão com o salário comprometido.
O secretário-adjunto de Gestão de Pessoas da SAD, Cláudio Nogueira Dias, disse que a situação é preocupante, mas o Governo não pode fazer muita coisa para interferir, pois se trata de uma decisão pessoal do servidor.
"O Estado não tem vínculo com a instituição financeira, mostra apenas o que o servidor ganha e o que esta comprometido. Mas é o servidor quem fornece o CPF e a matrícula para as instituições. Há servidor que tem 30 contratos de empréstimos com desconto em folha. Toda vez que abre margem, ele vai refinanciando", explicou.
É o caso do fiscal aposentado do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), Carlos Domingo da Silva. Ele nem se lembra mais de quando contraiu o primeiro empréstimo em folha. Sabe apenas que há anos não recebe os proventos sem desconto para as instituições financeiras.
"Ganho R$ 6,1 mil bruto e R$ 2,3 mil são consignados. Recebo líquido mesmo uns R$ 2,6 mil. Se abre margem, eu refinancio para pagar dívidas, dar uma manutenção no carro", disse.
Carlos reconhece que os empréstimos consigandos são uma 'bola de neve', em que é difícil de parar de se endividar.
"O pessoal já fica até monitorando se tem como você fazer empréstimo de novo, se tem banco querendo comprar sua dívida. A gente sempre precisa de um dinheiro e acaba usando de novo", disse.
O secretário-adjunto da SAD diz que há 80 mil contratos de empréstimos consignados de servidores públicos e R$ 45 milhões em contratos. Todos os meses, são descontados cerca de R$ 1 milhão do salário dos servidores para os bancos.
O Banco do Brasil tem a maior carteira, uma das razões é por ser o banco que se paga o saláro do funcionalismo público do Estado.
O BB tem 21.707 contratos com servidores da ativa e 11.320 de inativos (aposentados e pensionistas). Juntos somam R$ 17,6 milhões.
Em seguida aparecem na lista dos maiores credores dos servidores de carreira o BMG com R$ 12,3 milhões em empréstimos consignados, Cruzeiro do Sul (R$10,9 milhões), Panamericano (R$ 2,785 milhões), Bonsucesso (R$ 2,760 milhões) e Daycoval (2,3 milhões), dentre outros.
"Esse tema é sempre discutido entre o Estado e o Fórum Sindical. Os sindicatos têm feito esse alerta aos servidores. O pessoal do Sinetran (Sindicato dos Servidores do Detran) fez até palestras para chamar a atenção do servidor. O Estado não pode intervir e nem proibir o servidor de buscar crédito. É uma decisão pessoal", disse Cláudio Nogueira Dias.
Ele disse que esta sendo discutido um novo decreto na Procuradoria Geral do Estado para discutir o assunto.
Uma das propostas, segundo Cláudio, é limitar o desconto de 30% sobre o salário líquido do servidor e não no bruto, como é feito atualmente. "Acho que é uma forma mais justa, após o desconto do INSS, Imposto de Renda e plano de saúde", disse
Sob controle
Quando matematicamente calculado e com objetivo definido, o empréstimo consignado pode ser um grande auxílio para o servidor público.
Coordenador de convênios da Secretaria de Planejamento (Seplan), Ricardo Capistrano é um servidor de carreira com formação em administração de empresas.
Ele disse que fez dois contratos de empréstimo consignados com objetivos definidos. O primeiro foi para reforma da casa dos pais, antes de se casar. Já o segundo para custear dívidas e para investir em um apartamento.
Além de trabalhar no Estado, Ricardo é professor em uma universidade particular e presta consultoria de gestão financeira em duas empresas. Os dois empréstimos consignados representam apenas 11,97% da sua renda, ou seja, não pesa no bolso dele.
"Se eu não não tenho necessidade eu não faço empréstimo, e agradeço o contato. Eu não pego dinheiro por pegar, sem ter um objetivo definido".
Super-endividados
Nos casos extremos de comprometimento salarial, o gestor governamental e especialista em orientação financeira, Washington Fernando da Silva, diz que, antes de tudo. a pessoa super-endividada precisa conhecer a realidade financeira dela.
"Ela tem que colocar na planilha o que ela tem de receita e os gastos, para se ter uma noção do déficit em que ela se encontra. Depois, classificar as dívidas como fixas e variáveis. Para complementar a receita ela pode recorrer a vendas de cosméticos, roupas ou produtos pela internet. O importante é sair logo da dívida".
O especialista ensina que a dívida do cartão de credito e do cheque especial são as primeiras na lista das prioridades a serem sanadas.
"A taxa do consignado é menor do que do cartão que pode chegar a 9% ao mês. Deve-se substituir as taxas de juros maiores por taxas menores e prazos mais longos para que não atrase o pagamento", explicou
Um último recurso é recorrer a familiares e pagar a dívida à vista para conseguir desconto no pagamento à vista.