Macacão na vitrine
Por
08/07/2012 - 10:33
The Runaways foi uma banda de rock dos anos 70, composta apenas por mulheres. Não era lá a melhor banda, de todos os tempos. O mais legal era ser composta apenas por mulheres, fazendo rock and roll e que vestiam macacão. O macacão começou a ser usado pelos operários europeus e americanos nos anos 40, mas foi parar no guarda-roupa feminino nos anos 70, marcados e colados pelo corpo, assim como as garotas que cantavam “Queens of noise”.
A minha vida anda vazia. Sinto falta de grandiloquência, ou dos exageros e sentimentalismos românticos. Eu vi um macacão, um pouco diferente dos utilizados por mecânicos ou dos modelos usados por Joan Jett (vocalista do The Runaways). O qual vi estava em uma vitrine de uma loja, no domingo passado. Era claro e comprido. Achei que me serviria, caberia, ‘satisfazeria’. Passei, olhei, pensei em entrar e experimentar. Mas, pensei duas vezes e resolvi fazer outras coisas. A vida necessita mais objetividade e menores expectativas do pensar alheio. Tinha de terminar de ler um romance, preparar aulas, fazer bolo de fubá com meu filho. Por essas e outras, não poderia ficar por ali, experimentando o macacão, na tarde de domingo. A dúvida surgiu, no momento em que saí da galeria grande com nome regional. Resolvi voltar à loja. Na hora em que cheguei a vendedora estava tirando-o do manequim da vitrine. Perguntei se só havia aquele e qual o número dele. A vendedora perguntou se era para mim, balancei a cabeça positivamente. Ela afirmou que era o meu número, porém o último e havia uma mulher no provador, esperando por ele. A vendedora tentou me mostrar outros, outras roupas. Não. Era aquele o que havia me encantado e despertado interesse. A vendedora anotou meu telefone e disse, que se ao acaso a outra pretendente não quisesse, ela me ligaria. Aguardei, durante o resto do meu domingo, um telefonema que não veio. Não que o macacão fosse muito importante, ou que não sobreviveria sem. É que aguardá-lo e desejá-lo me fez ver o quão tenho dado trela ao acaso, por pura vontade de grandiloquência e etcétera. Coloquemos um pouco de etcétera nesta crônica (e na vida). Como diria Carlos Drummond de Andrade:
“E agora recomendo a quem consumir estas linhas um importantíssimo etcétera, que a mim tem feito um bem glorioso: sorria para si mesmo diante do espelho, pela manhã. Entre o lavar os dentes e pentear os cabelos, esboce um sorriso amical para sua própria pessoa. Se alguém notar e achar que você endoidou manso, sorria para esse alguém: é um segundo etcétera. Dá um bom resultado. O dia fica mais fácil.”
E eu, ainda otimista, sorrindo para mim, tenho olhado o meu telefone com maior frequência. Vai que aquele macacão volta a estar disponível? A vida fica mais fácil, quando combinada com os etcéteras por trás da minha vontade de comprar um macacão.
*Juliana Curvo é professora de literatura e colabora com o DC Ilustrado (jcurvo@gmail.com)