Destacamentos do Exército na fronteira serão desativados
Por Eliana Bess/Hipernotícias
10/08/2014 - 17:01
Os sete destacamentos do Exército que atuam nos cerca de 900 km de fronteira seca de Mato Grosso com a Bolívia serão transformados em três pelotões de Polícia do Exército. Terão autoridade para prender, atirar e revistar quem por passar por ali, mas número de militares é pequeno diante do perigo de entrada de drogas no Brasil.
A mudança já era para ter acontecido em junho, mas, por enquanto, ainda estão funcionando normalmente. Pressão de parlamentares mato-grossenses poderia reverter a situação como a expansão de programas federais como o Calhanorte, que possui inclusive, condições de sustentar as unidades militares.
A Bolívia é reconhecida como um dos principais produtore de cocaína do mundo. Por ano, a Polícia Federal apreende 4 toneladas da droga e Mato Grosso é a principal rota de entrada de entorpecente no Brasil. Atualmente os destacamentos só tem o papel de guardar fronteira. A informação foi confirmada pelo prefeito de Cáceres, onde está situado o 2º Batalhão de Fronteira (Befron), que faz o trabalho de fiscalizar a fronteira de Mato Grosso com a Bolívia.
"Espero que melhore e que aumente o número de pelotões, apenas três são insuficientes para atender toda a extensão, ficarão em distâncias muito longas um do outro. Só de Corixa, em Cáceres, até Santa Rita são 150 km e com inúmeras estradas vicinais que servem como saídas", explicou Francis Maris Cruz, prefeito de Cáceres.
Para ele, seria ideal se pelo menos fosse mantido o número dos sete destacamentos. O prefeito Francis Maris disse ter enviado correspondência para o Ministério da Defesa e ao comando do Exército solicitando a manutenção dos pelotões. Mas o argumento do ministério, em Brasília, é de que a instituição não tem condições de logísticas para atender o pleito, falta planejamento. "O Ministério não planejou, ou seja, não reservou orçamento para manter mais equipes".
No entanto, o gestor municipal lembrou que se for considerar o custo do tratamento de pessoas dependentes químicas é mais caro do que manter o posto do pelotão na fronteira para evitar a entrada da drogas.
A continuidade do Exército na fronteira também restringiria o número de roubos de veículos que são levados para Bolívia para troca de drogas, que gera violência, assaltos, roubos. Sem falar no alto custo para o país com presídios lotados.
"Em Cáceres todo dia tem notícia de que o Gefron, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e demais polícias apreenderam drogas. É muito mais barato manter o pelotão que o custo com toda essas consequências", frisou Francis Maris.
Em fevereiro deste ano, o jornalista e especialista em Sociologia Política (UFPR), Carlos Evangelista, já fazia um alerta sobre a desativação do Exército na fronteira do Brasil com a Bolívia. No artigo, ele pontuava que o governo do PT "parecia ter aberto as fronteiras facilitando a entrada de estrangeiros, forasteiros, contraventores e porque não dizer aos narcotraficantes de drogas, principalmente na fronteira entre Brasil e Bolívia (...) deixando agora vulnerável a principal entrada de carros roubados, drogas e acesso fácil de estrangeiros que vem adentrando o Brasil".
COMANDO MILITAR
De acordo com o diretor do Programa Calha Norte, do Ministério de Defesa, brigadeiro Roberto Dantas, a questão de transformar 7 destacamentos em 3 pelotões está sob a responsabilidade do Comando Militar de Área, gerência de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
"O Ministério da Defesa não toma iniciativa se não houver interesse das forças", revelou.
A reportagem do Hipernotícias não conseguiu informações do Comando Militar do Oeste para explicar que interesse pode ter em deixar a extensão de fronteira seca desprotegida a tal ponto. Foram diversas tentativas, mas o relações públicas Juarez Aparecido de Paula Cunha não retornou as ligações.
CALHA NORTE
Em relação ao programa Calha Norte, segundo o brigadeiro Dantas, "tem 87% de aproveitamento dos recursos aplicados". É um programa que pode manter as unidades militares na fronteira. Já atua na região amazônica, mas não tem unidade em Mato Grosso. Para isso, "é preciso pressão dos parlamentares da bancada federal de Mato Grosso para estender as ações em Mato Grosso", pontuou o diretor do Calha Norte.
Além das unidades militares, o programa atende a civis, desenvolvendo ações sociais.