Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Vivemos em tempos de cólera
Por por Cristhiane Ortiz
26/09/2018 - 12:57

Foto: arquivo

Estamos vivendo em “tempos de cólera”, e pensar que nossos antepassados diziam que os tempos eram difíceis, mas nada que se compara à dificuldade de se viver hoje. Mesmo contando com os avanços da tecnologia, que a cada dia vem se inovando e diminuindo nossas tarefas domésticas. Agora, finalmente podemos colocar a roupa de casa em dia, a máquina faz o serviço pesado que antes éramos obrigados a fazer. A tecnologia evoluiu facilitando os serviços e melhorando a nossa qualidade de vida. Agora podemos saber de tudo o que acontece com o mundo em segundos, conhecer outras culturas, outros idiomas, poder vislumbrar lugares imagináveis, a notícia é instantaneamente conhecida por todos. Temos a possibilidade de olhar além de nossos limites, atravessar as fronteiras do desconhecido, sem nos arriscarmos, diminuindo a vulnerabilidade. Ganhamos em conforto e praticidade nos afazeres domésticos, e perdemos em segurança, na liberdade de poder ir e vir. Ganha-se vantagens materiais e perde-se em valores.

Enfim, os tempos mudaram, o mundo mudou, mas e nós mudamos também? Será que estamos distantes dos seres que desejaram o progresso e a modernidade? Onde foram parar nossos sonhos? Será que podaram? Onde se escondeu o sorriso de menino que havia em nós? Ficou esquecido no meio do caminho? Onde ficaram desejos simples, como tomar banho de rio, o desejo de comer frutas no pé? Jogar dama, stop, ou buraco, brincadeiras simples, antes dos celulares existirem, onde reuníamos em volta da mesa e conversávamos não pelo whatsapp, mas olhando nos olhos. Coisas que ficaram para trás. E que se tornaram desconhecidas para a geração digital. Hoje com o advento da tecnologia temos à disposição jogos, filmes, seriados, temos tantas coisas novas, e tantos assuntos, que é difícil processar o excesso de informação. Os assuntos polarizam-se, e tudo é motivo para discussões estéreis, a política, a religião, a música, a orientação sexual, parece que sentimos a necessidade de entrarmos em disputas, para saber que está mais certo. As opiniões nos dividem, nos separam, somos julgados pelas escolhas que fazemos, seja pelo time de futebol, ou pela sórdida política. Realmente é preciso fé para enfrentar os “tempos de cólera”, saber que antes de observar as falhas de nossos vizinhos, precisamos cuidar de nosso jardim , aparar as ervas daninhas que teimam em bloquear nossos sonhos , e parar de culpar a sordidez dos políticos quando deixamos de fazer a nossa parte como cidadão, e sobretudo parar de usar ideologias partidárias para destilar ódio, e rancor, quando deveríamos nos unir e mesmo que discordemos em relação e coisas desse gênero, não esquecer que podemos ter contrárias opiniões, mas isso não nos dá o direito de menosprezar e ofender, afinal cada um tem o direito de pensar à sua maneira ! Mas que isso não nos torne inimigos, e desafetos, afinal somos humanos, e fomos feitos “à sua imagem e semelhança”, não foi isso que nos disseram há tempos? Posso não concordar com o que diz, mas também posso torcer para que você esteja certo, e eu errado, porque não?

É preciso fé para enfrentar estes tempos de cólera, onde tudo acaba em guerras e disputas, depois acho mesmo que não devemos esperar que Cristo retorne para consertar o mundo que deixou. Ele já fez a parte dele, agora é a nossa vez! Podemos discordar em muitas coisas, podemos discutir com emoção, levantar a voz, vez ou outra, afinal ninguém é

perfeito, e cada um tem seu jeito de se expressar, desde que isso não diminua quem pense diferentemente. O mundo está ficando insuportável de se viver, não somente pelas condições climáticas, (a natureza também dá seu recado de formas extremas), mas porque gastamos muito tempo fazendo guerra, e menos tempo conversando, falar de coisas que nos fazem bem, que alegrem a nossa alma.

Daí acabamos adoecendo de tristeza, de solidão, de doenças psicossomáticas que são transferidas da alma ao corpo, por viver num mundo em que amizades estão sendo construídas pelo ódio e não por sentimentos de afeto, estamos morrendo com crises de pânico por viver num mundo em que as pessoas se dividem e não se falam mais, a não ser para entrar em disputa para saber quem é o melhor, e quem vai ganhar, quando na verdade perdemos uns aos outros, a cada dia, nos distanciamos, vivemos perdidos cada qual com sua presunção. Para depois um dia olhar para trás e perceber que nos excedemos nas disputas, e economizamos na afetividade, reconhecer que os animais foram mais sensatos e racionais que nós, os escolhidos pelo Criador para habitar neste grande jardim que é a vida, com seu frutos, seus espinhos e galhos que temos que segurar eventualmente.

Melhor talvez seria semear sementes que floresçam e enfeitem nossas ruas e caminhos que certamente teremos que percorrê-los, pois a vida é analogamente como o nosso poeta Almir Sater pensa que cumprir a vida seja compreender a marcha e ir tocando em frente, como um velho boiadeiro levando a boiada pela longa estrada...

 

 

Cristhiane Ortiz Lima é graduada em Letras na UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.

Mestranda em Linguística na UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.

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