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O coringa de Joaquin Phoenix:perturbador,cruel e impecável
Por por Henrique Maluf
15/10/2019 - 12:16

Foto: arquivo

m filme perturbador, denso, obscuro. Não me lembro da última vez que saí tão abismado do cinema. Coringa é um filme, que com certeza, estará na posteridade como um dos maiores filmes de heróis de todos os tempos, ou melhor, filme de vilões. Alerta de spoiler!

Não me lembro da última vez que saí tão abismado do cinema

Se você ainda não assistiu, corre, aproveite que ainda está em cartaz, pois a experiência de uma sala de cinema, com o sistema de som digital 5.1, e na super “telona”, vai potencializar e aguçar seus sentidos. E é bom que esteja preparado, e atento, o filme merece toda sua atenção, as atmosferas dialogam com a “pegada” do filme, que é a construção do personagem.

Sim, o filme é a construção do Coringa, ele nasce, ou “desabrocha” durante o filme. Nos primeiros momentos notamos que o Arthur Fleck, o Coringa, é uma pessoa perturbada mentalmente, que enfrenta uma forte crise existencial, cuida da mãe, (outra doente mental), isso tudo conciliado com a profissão de palhaço de porta de loja, e o sonho de ser um comediante de Stand Up.

O filme do Coringa é dividido em duas partes e o seu desabrochar divide essas partes. Posso dizer que na primeira parte o Coringa sofre seus dramas e psicopatia de forma tímida, tenta o tempo todo passar desapercebido. As cores são frias, a luz é baixa, sua casa é escura, o consultório psiquiátrico que frequenta também, o escritório onde ele e os outros palhaços se encontram também.

A grande magia do Coringa de Joaquin está no fato de podermos, ao longo do filme, acompanhar e entender a formação da sua personalidade, de como sua psicopatia, seus medos, suas dores, suas decepções e traumas vão forjando suas sórdidas e cruéis características, em algum ponto do filme, passamos a torcer por ele, a entende-lo e dar razão, e isso me assusta, afinal, Coringa é o vilão

Depois de um ataque sofrido por alguns rapazes num dia de trabalho, somado a uma traição de um dos palhaços em seu serviço e sua demissão do trabalho, o Coringa surta de vez e nesse momento de fragilidade emocional enxerga na violência o caminho pra sua glória. É quando ele reage a uma agressão e mata três jovens no metrô, fato esse que, na trama, desencadeia um sentimento de pertencimento da população mais pobre e socialmente fragilizada de Gotham City, pois os jovens eram ricos e funcionários de Thomas Wayne.

Depois desses primeiros assassinatos o Coringa é dominado por um sentimento de euforia, prazer e excitação, que resulta numa dança majestosa frente a um espelho. Ali nasce/desabrocha o Coringa vilão, assassino e cruel. Momento que o filme começa a tomar cores mais vivas, principalmente na roupa e maquiagem que Coringa usa. Até o fim do filme ele mata a mãe ao descobrir que era possivelmente adotado, mata o colega de trabalho que o traiu, o apresentador do Comedy Show que foi convidado e provavelmente a psiquiatra que o atende no hospício, no momento final do filme.

O enredo do filme é bom, principalmente ao considerar a fotografia, que dialoga com os “climas”, a música é boa, não é um elenco grande, e não há efeitos visuais como os costumeiros filmes da DC comics, como por exemplo Aquaman, Homem de Aço, Liga da Justiça, ou o próprio Batman. Mas é sem dúvida um dos maiores da filmes da DC, principalmente pela majestosa atuação de Joaquin Phoenix.

Encarar o Coringa não deve ser algo fácil pra nenhum ator no mundo, e temos grandes atuações nesse papel, com destaque para Jack Nicholson e seu Coringa irônico e hiperteatralizado, também o sádico e tenebroso encarnado por Heath Ledger. São atuações incríveis, porém previsíveis, nos dois casos temos Coringas com suas personalidades muito definidas, um fanfarrão e um sombrio.

A grande magia do Coringa de Joaquin está no fato de podermos, ao longo do filme, acompanhar e entender a formação da sua personalidade, de como sua psicopatia, seus medos, suas dores, suas decepções e traumas vão forjando suas sórdidas e cruéis características, em algum ponto do filme, passamos a torcer por ele, a entende-lo e dar razão, e isso me assusta, afinal, Coringa é o vilão.

A atuação de Joaquin Phoenix é impecável, grandiosa

Muito se fala nas redes sociais e críticas sobre a risada desse Coringa, e sim, ela é realmente perturbadora, muito mesmo, mas o que mais me chamou a atenção foi o olhar do Coringa, de como ele vai evoluindo junto a trama, desde o mais inseguro (na primeira parte) ao dono do mundo (na segunda parte), sem contar que Joaquin emagreceu 23 quilos pra encarnar o personagem.

A atuação de Joaquin Phoenix é impecável, grandiosa, e nos faz penetrar na intimidade do Coringa, aos meus olhos ele ganhará a mais cobiçada premiação do cinema mundial: o Oscar de melhor ator vai para...

Henrique Maluf é músico, produtor cultural e pesquisador em Cuiabá. Escreve nesta coluna com exclusividade às terças-feiras. E-mail: herojama@gmail.com

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