Hoje, 01, é o Dia Mundial de Luta contra a Aids
Em sete anos, 5.367 novos casos de Aids foram registrados em Mato Grosso. Do total, 26,15% dos infectados são adolescentes e jovens, um seguimento populacional cuja contaminação está associada ao ato sexual sem preservação. Neste ano, a campanha nacional referente ao Dia Mundial de Luta contra a doença, comemorado em 1º de dezembro, tem como público alvo homens e mulheres entre 15 e 29 anos.
Nessa faixa etária, 1.390 pessoas foram contaminadas pela doença desde 2007, no Estado. E, as estatísticas e pesquisas comportamentais mostram que esse público alvo negligencia o uso da camisinha, a forma mais eficaz de prevenção à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES/MT), 40% dos jovens não usam preservativo em todas as relações sexuais e possuem mais parceiros casuais, o que aumenta o risco contrair o vírus HIV, além de uma gravidez indesejada e outras DSTs, como herpes, sífilis, HPV, que neste último caso pode causar o câncer do colo de útero.
Do total de casos, Cuiabá contabiliza 1.303 notificações e Várzea Grande 608, no mesmo período. A reportagem do Diário tentou obter os números de novos casos registrados neste ano e, em 2013, mas segundo a assessoria de imprensa da SES, os dados existentes são cumulativos, ou seja, computados apenas desde o início de registro da doença até o momento.
Chama a atenção ainda o fato de que, atualmente, a doença na faixa etária entre 13 e 19 anos, afeta mais o sexo feminino. De acordo com a SES, para cada 8 meninos com Aids há 10 meninas contaminadas, o que significa uma inversão da proporção de casos entre homens e mulheres.
Há seis anos, Júlio (nome fictício), de 53 anos, descobriu ser portador do vírus HIV. O diagnóstico positivo caiu como uma bomba em sua cabeça. “Para todos acredito que a notícia, no começo, é um choque. Depois, a gente passa a encarar a realidade mais de frente”, disse.
Acolhido na Casa Mãe Joana, na capital, Júlio garante que hoje se sente muito melhor. “Procuro levar a vida normalmente. No momento, faço cursos de computação e de administração”, afirmou lembrando que amigos e familiares se afastaram quando souberam que ele é soropositivo.
Com boa aparência, Júlio de longe lembra os pacientes antes estigmatizados por suas mudanças corporais à época de registro dos primeiros casos da doença. Segundo ele, as novas descobertas no tratamento da doença permitem que as pessoas portadoras do vírus gozem de boa qualidade de vida. “Hoje, mudou o tratamento e para melhor. Antes, eu tomava até 11 compridos de uma vez e sentia os efeitos colaterais, sentia mal. De 2,5 anos para cá, passei a tomar três compridos e não sinto nada”, afirmou acrescentando que também é diabético e tem pressão alta.
Com o tema “Eu me previno, eu me texto, eu me conheço #partiu teste#, a campanha deste ano vai de encontro às metas do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS/OMS), como aumentar para 90% a proporção de pessoas que vivem com o HIV a conhecerem seu diagnóstico. O diagnóstico e o início do tratamento precoce nos Serviços de Assistência Especializados (SAE) aumentam a expectativa e a qualidade de vida do soropositivo.
EM CÁCERES
Um cenário preocupante se vislumbra no Dia Mundial de Luta contra a Aids,nesta segunda-feira, 01 de dezembro. Coordenadora do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), órgão responsável pelo tratamento e acompanhamento da doença, Vanderly Muniz alerta para uma possível epidemia entre jovens em Cáceres.
Dados do CTA, segundo ela, apontam que o vírus HIV está proliferando, principalmente, entre jovens de 18 a 29 anos.
Diz que, nos 11 primeiros meses de 2014 foram registrados, em Cáceres, 40 novos casos de infectados.
Desse total, segundo ela, 27% foram jovens nessa faixa etária. Outra preocupação é o reaparecimento de doenças infectocontagiosas como gonorreia e sífilis, que haviam diminuído nos últimos tempos.
“O jovem perdeu o medo da Aids. Banalizou o uso de preservativo. Estamos próximos de uma possível epidemia da doença”.
Vanderly destaca que a tendência é que os números ampliem devido à grande procura, principalmente de jovens, para realização do exame. “A corrida quase que diária de jovens no CTA para realização do teste é o sinal de que a maioria está mantendo relação sexual sem preservativo”.
A coordenadora informa que o número de pacientes em tratamento e acompanhamento no CTA também aumentou em mais de 50% em menos de um ano. Passou de 240 em 2012 para 380 em 2014. Embora, explica Vanderly Muniz, desse total, estão incluídos registros de pacientes de outras doenças infectocontagiosas como hepatite e sífilis.
Apesar do surgimento de novos casos e do alerta para possível epidemia de Aids entre a população jovem no município, o CTA registrou queda no número de óbitos pela doença em 2014. Foram seis casos (quatro homens e duas mulheres), contra 13 em 2013 (oito homens e cinco mulheres) e sete em 2012 (cinco homens e duas mulheres).
A redução de vítimas fatais é atribuída ao tratamento considerado referência do CTA. “O CTA de Cáceres é referência no Estado. O paciente que trata corretamente, dificilmente morre por complicação da doença. Os que morrem são porque abandonam o tratamento”.
Desde a implantação do CTA em Cáceres, em 2008, 31 mulheres gestantes com Aids receberam o tratamento e em nenhum dos casos transmitiu a doença para o filho. Revela a coordenadora que, dos 380 pacientes, seis crianças e adolescentes soropositivos recebem tratamento e acompanhamento no CTA.