O movimento dos caminhoneiros começou dia 18 de fevereiro e atingiu vários estados, entre eles Mato Grosso. O objetivo agora não é debater a legalidade dos protestos e muito menos opinar se somos contra ou a favor. Somos um país democrático e, apesar dos prejuízos que a paralisação está gerando no setor produtivo e na sociedade, os produtores rurais têm uma pauta em comum, porque sentimos no bolso a alta do preço do diesel – um dos principais componentes do custo de produção do agronegócio.
Para além do momento estranho que o país atravessa, em que a conjuntura econômica e política nacional nos deixa em alerta máximo, as lideranças públicas precisam considerar o que alertamos há décadas: a necessidade de diversificar os modais de transporte no Brasil, principalmente nos grandes polos de produção. Essa paralisação dos caminhoneiros mostrou o quanto a sociedade está desprovida de rotas alternativas de escoamento de produtos, bens e serviços.
Investir em outros modais como o ferroviário e o hidroviário é necessário para desafogar a malha rodoviária e impulsionar a competitividade e o desenvolvimento econômico do país.
No aspecto político, observamos uma crise de confiança da sociedade que cresceu ainda mais após o aumento dos impostos, das tarifas públicas e a quebra de compromissos assumidos há menos de 120 dias pela “nova” gestão federal. As novas descobertas da operação Lava Jato, deflagrada em março do ano passado envolvendo políticos e empresários da Petrobras num esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, surgem a todo momento.
Embora possa não corresponder à realidade, ficamos com a forte sensação de que pagaremos mais uma vez o banquete de outros. Impossível não pensar sob este prisma. No mercado internacional houve uma queda expressiva no valor do barril do petróleo e no Brasil o preço dos combustíveis só aumenta. Como digerir essa equação?
O país está frágil com o aumento dos juros, diminuição do superávit da balança comercial, aumento do câmbio, moeda instável, crise de confiança e corrupção na política. Os brasileiros estão quase imobilizados diante de tantos golpes a sua capacidade empreendedora. Devemos ficar atentos.
Os desdobramentos da paralisação dos caminhoneiros são imprevisíveis. Um barco à deriva pode atingir qualquer porto. O poder público precisa fechar uma pauta das reivindicações para resolver os problemas em curto, médio e longo prazos e, sem sombra de dúvida, a logística deve permear todas as discussões, sejam elas políticas ou econômicas. A paralisação dos caminhoneiros deixou bem claro que sem logística eficiente o país não funciona.
*Rui Prado é produtor rural e presidente do Sistema Famato/Senar (ruiprado@famato.org.br).