Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Quem vai dominar o mundo?
Por por Gustavo Oliveira
26/05/2015 - 08:13

Foto: arquivo

Pai de dois nerds, nos últimos dias, ando envolto com a batalha de Batman versus Superman, e os dois contra os Vingadores. No mês passado, às vésperas da estreia de ‘Vingadores: A Era de Ultron’, segunda incursão cinematográfica do supergrupo de heróis da Marvel, vazou na internet o trailer do filme que, em março de 2016, reunirá, de maneira inédita, os dois gigantes da DC. Horas depois, houve o lançamento oficial da peça publicitária. Há quem diga que o vazamento foi orquestrado pela Warner, que, assim, pôde duas vezes gerar barulho sobre o Homem Morcego e o Homem de Aço, tirando foco de Homem de Ferro, Capitão América, Hulk, Thor, Viúva Negra e Gavião Arqueiro ou pelo menos surfando na onda de mídia e expectativa. 

A jogada de marketing sintetiza a transposição para uma esfera bilionária – a dos filmes de super-herói – da histórica rivalidade entre as editoras de quadrinhos DC e Marvel. A DC bebeu forte da mitologia grega para criar seus ícones nos anos 1930 e 40: Superman remete a Hércules; Flash, a Hermes, veloz mensageiro do Olimpo; Aquaman, a Poseidon, o deus do mar; a Mulher-Maravilha é, ela própria, uma semideusa. Daí que, em suas origens e em seu caráter, exista algo de divino, em contraste à abordagem mais realista e humana que a Marvel propôs na década de 1960 – havia explicação científica para os superpoderes (uma aranha radioativa, uma experiência com raios gama) e, por baixo da máscara do Homem-Aranha e da forma do Hulk, dramas comuns aos leitores. Em vez das fictícias Gotham e Metrópolis, o cenário era Nova York mesmo. E, na efervescência sessentista, a editora foi pioneira em abordar pacifismo e ecologia (no Surfista Prateado), preconceito e intolerância (nos X-Men). 

Não quer dizer que a Marvel fosse 100% original. Sucessivamente, copiou personagens da rival. A Gata Negra, misto de vilã e par romântico do Aranha, é decalque da Mulher-Gato do Batman. O Gavião Arqueiro é pós-Arqueiro Verde. O vilão Thanos tem os mesmos objetivos e até look semelhante ao de Darkseid. 

Para quem descobriu os heróis via cinema, pode parecer que a DC está copiando a Marvel, ao apostar em filmes mais adultos, sombrios (enquanto a rival investe na galhofa), e pavimentar caminho para a chegada de seu supergrupo, a Liga da Justiça (como a Marvel fez com os Vingadores). Mas foi a DC a pioneira no cinema, com quatro títulos do Superman e quatro do Batman entre 1978 e 1997. As duas franquias acabaram vergonhosamente, por excesso de zombaria e por falta de efeitos especiais. X-Men (2000) e Homem-Aranha (2002) abririam a nova era, com fidelidade aos gibis, nas tramas e na ação. 

Falando nisso, hoje a mão se inverteu: os filmes não precisam mais ser fiéis às histórias em quadrinhos – eles ditam rumos para elas. Isso inclui aproximar o visual dos gibis àquilo que é mostrado nas telas, desenvolver HQs que desemboquem ou complementem os filmes e algumas medidas mais drásticas: por não ser dona dos direitos cinematográficos do Quarteto Fantástico e dos X-Men – ou seja, para não promover produções de uma concorrente, a Fox –, a Marvel cancelou a revista do primeiro grupo, proibiu a criação de novos personagens mutantes e matou Wolverine. 

Foram as primeiras baixas de uma guerra sem hora para acabar. O calendário de filmes está garantido até 2020, com mais de 20 estreias programadas. O ringue estende-se à TV – cinco seriados estão no ar, e mais cinco vêm aí. Como alguém já disse: que tempos para ser nerd, senhores! 

*Gustavo Oliveira é diretor de Redação do Diário. Gustavo@diariodecuiaba.com.br 

 

 

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