O alcoolismo, embora muitas vezes considerado, nunca foi um problema exclusivo dos adultos. O mesmo pode também acometer grande parte da nossa juventude. Os dados da mais recente Pesquisa Nacional da Saúde, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) nos revelam essa catastrófica realidade.
O número de adolescentes que começam a beber mais precocemente é cada vez maior, algo que causa grande preocupação social, especialmente pelo fato de que certamente parte deles conviverá com a dependência do álcool no futuro.
No Brasil, por exemplo, cerca de 48% dos usuários de bebidas alcóolicas afirmam ter começado a beber antes dos 18 anos, sendo que destes, 34,5% dos usuários tiveram contato com a bebida alcóolica entre os 15 e 17 anos, e 12,5% antes dos 15 anos. A realidade é preocupante!
Segundo o psiquiatra Arthur Guerra, doutor/especialista no assunto e fundador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas, da Universidade de São Paulo (Grea-USP), os jovens que começam a beber antes dos 15 anos estão muito mais propensos a desenvolver a dependência alcoólica do que aqueles que começam a beber aos 21 anos, isto porque conforme a frequência e o tempo com que se ingere o álcool, menor será a liberdade do indivíduo em optar pelo consumo ou não da bebida alcóolica.
Recentemente, a ciência reconheceu o alcoolismo como sendo uma doença, e ainda progressiva, a qual possui por intuito primordial dominar a capacidade do indivíduo, retirando-lhe o seu discernimento total. Há ainda claras evidências de que fatores genéticos podem vir a favorecer o risco de contrair a doença. Sendo assim, o alcoolismo acaba por se justificar, irrevogavelmente, como sendo o reflexo de uma perturbação social profunda, independentemente da faixa etária correspondente do indivíduo, acarretando-lhe grandes consequências pessoais e sociais cada vez mais amplas.
Infelizmente, não há como negar o consumo exacerbado da bebida alcóolica é aceito e até estimulado de maneira enfática pela sociedade. Embora tenhamos uma legislação a qual restringe esta prática em determinadas situações e leis que outorgam punições gravíssimas aqueles que, por exemplo, dirigirem um veículo automotor sob efeito do álcool, ainda assim os objetivos finais das punições não atendem ao esperado, isto porque mesmo a legislação proibindo a venda de bebidas alcoólicas para menores de dezoito anos, conforme resguarda a Lei 8.069/1990, os mesmos ainda assim possuem livre acesso a bebida dentro de suas próprias casas. Por conseguinte, o consumo do álcool principalmente por parte dos nossos jovens é algo cada vez mais comum.
Alguns psiquiatras ainda arriscam dizer que tal fator possui como causa primordial um principal fator histórico familiar. Há ainda poucos anos atrás, o machismo, fruto de uma sociedade inteiramente patriarcal dominava a sociedade. Em alguns casos, para provar a sua masculinidade, jovens, em particular homens eram inteiramente obrigados a consumirem em grande quantidade a bebida alcóolica, algo que ainda hoje é verificado com grande frequência em inúmeras famílias.
No entanto, muitos jovens utilizam a bebida alcóolica também como um meio de “fuga”. A adolescência, de fato é uma fase de descobertas e também de decisões, posto que na maioria das vezes é o momento em que se escolhe um caminho profissional a trilhar logo ao término do Ensino Médio. Sendo assim, por estarem nesta fase de descoberta do mundo adulto e se sentirem inseguros em questões como relacionamento, afetos, a bebida alcóolica passa a ser utilizada como um “remédio” para se sentir melhor, mais 'soltos', para interagir. Um grande equívoco, já que muitos nem ao menos sabem ou não aceitam que o álcool é sem dúvidas uma droga, e diga-se uma das piores drogas, especialmente por funcionar como um “passaporte” carimbado para a experiência com outras demais drogas ditas como ilícitas.
Sendo assim portanto, o alcoolismo é sem dúvidas um problema social e também de saúde pública. Segundo a psiquiatra Carla Bicca, o uso principalmente do álcool e de outras demais drogas atinge significativamente o cérebro do indivíduo e pode vir a desencadear doenças psiquiátricas gravíssimas como depressão, mudança de humor e a esquizofrenia.
Diante disso, no que tange o assunto, torna-se valoroso dizer que mudanças no decorrer dos tempos aconteceram. Políticas públicas que pudessem afastar o jovem dessa realidade, mesmo que em pequena quantidade também foram realizadas. No entanto, é necessário combater com ainda mais eficácia as diversas negligências ainda praticadas pela família, pela sociedade e também pelo governo, uma vez que o que está em jogo são figuras tidas e vistas como o futuro da nação e que como cidadãs de direito, possuem pleno dever de usufruir de uma sociedade mais justa, digna e de respeito, tornando-se livre das consequências devastadoras ocasionadas pelo álcool.
É preciso coragem para mudar!
Gabriel Guilherme é militante jovem político e Estudante de Direito da Universidade de Cuiabá.
gabrielguilherme560@gmail.com