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1º padre cacerense completa 55 anos de sacerdócio
Por Jornal Expressão
08/02/2016 - 14:58

Foto: Jornal Expressão

O entrevistado da semana do Jornal Expressão é o padre Geraldo José dos Santos, cacerense, 83 anos, que está festejando 55 anos de vida sacerdotal. Numa conversa direta ele revela a inclinação para servir ao Senhor, como um “empurrão” de sua mãe, a saudosa cacerense Anna Luiza Neves dos Santos. Padre Geraldo foi o primeiro padre genuinamente cacerense, fato que lhe gerou uma certa dor de cabeça quando teve que assumir a Paróquia Nossa Senhora Aparecida.
 
Ele revela que a comunidade estava acostumada com os religiosos estrangeiros, especialmente franceses. O que gerou dúvidas em seu trabalho, afinal, era um filho de Cáceres que estava recebendo importantíssima missão “Provei que santo de casa faz milagres”, diz com um largo sorriso de contentamento com mais essa missão cumprida ao longo de sua vida religiosa.
 
Diz que tem metas e objetivos ainda pra cumprir à frente do Seminário Bom Pastor onde prepara jovens para seguir a vida sacerdotal. Diz que viajará aos EUA ao final deste ano pra adquirir recursos pra estruturar o seminário. Quer viver ainda pelo menos uns dez anos, “mas com saúde”. E afirma taxativo: “Não tenho tempo pra ser velho; tenho metas e objetivos, não sei ficar ruminando e perdendo tempo!”
 
Jornal Expressão – (J.E) - Como se deu a vocação sacerdotal?
 
Pe. Geraldo – Tudo começou com um convite feito pela minha mãe. Era um domingo e havíamos assistido a Santa Missa celebrada por Frei Jerônimo, bastante idoso então. Ela disse-me: “Geraldo você viu como o Frei Jerônimo lia com dificuldade hoje na missa. Quem vai substituí-lo? Você bem que poderia ser o padre mais tarde. Foi o primeiro chamamento, eu deveria ter uns nove anos.
 
J.E - E os primeiros anos da vida escolar?
 
Pe. Geraldo – Fui para Corumbá-MS cursar o 4º. Ano primário no grande e histórico colégio Santa Tereza – salesiano. Tudo me encantou e chamou atenção: o esporte, a beleza dos desfiles, teatro, a dedicação e qualidade dos padres. Músicos, pintores, professores renomados. Foi então quando o diretor Miguel Alagna, após um ano fazer um segundo convite, não tive dúvidas: Dom Bosco me chamava! Fui!
 
J.E - E a importância da participação dos pais do senhor na vida religiosa?
 
Pe. Geraldo – Foram decisivos na minha direção à vida sacerdotal. Acredito que rezaram juntos e muito para que eu decidisse pelo sacerdócio. Até hoje ao subir ao altar para uma celebração, lembro-me deles com muita saudade e devoção no papel decisivo que um pai tem para a condução dos filhos. Assim deve ser o exemplo para os nossos jovens se espelharem no bem que os pais, a família, são para eles. O jovem é como uma árvore que precisa ser podada, moldada para crescer com uma copa bem formada e dar deliciosos frutos.
 
J.E - Quando definitivamente o senhor entrou para o seminário?
 
Pe. Geraldo – Fui para o Seminário de Cuiabá no dia 30 de março de 1946. O seminário dos salesianos era na Igreja Bom Despacho, em cima daquele morro. Lembro-me perfeitamente da minha apresentação ao Arcebispo Dom Aquino; ele deve ter-me abençoado com toda fé pelo jovem que acabara de chegar de Corumbá. No seminário também encontrei um outro homem sábio, compreensivo, enérgico e santo: Padre Nelson Pombo. Assim minha vocação tinha mesmo tudo pra dar certo, de um lado à majestade hierárquica de Dom Aquino, membro da Academia Brasileira de Letras, do Rio de Janeiro. Tinha sido Governador do Estado. Orador Sacro de elevadíssimo valor, e homem bom, bom de verdade. De outro lado era a firmeza e santidade do Padre Nelson. Cheguei ao Sacerdócio no dia 8 de dezembro de 1960, ano de Brasília.
 
J.E - Marcante na vida do Senhor pra sempre...
 
Pe. Geraldo – Sim! Deus me deu a satisfação de ter junto de mim, na igreja da ordenação a minha mãe, aquela mesma que tantos anos atrás, me havia feito o primeiro convite para ser padre! E é por isso, que embalado pelo espírito da Igreja Católica, aliás, do mesmo Senhor Jesus, tomei como meu lema a passagem do Evangelho de Lucas 10,2: “Pedi ao Senhor da Messe que mande operários para sua colheita”.
 
J.E - Ao festejar 55 anos de vida dedicados ao serviço do Senhor Deus Pai, qual a maior dificuldade enfrentada nessa trajetória?
 
Pe. Geraldo – Sem dúvida que foi atender o convite que me foi feito pelo Bispo Diocesano Dom José de Lima, para assumir a direção da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Cáceres – de 1982 a 1996. Por eu ser o primeiro padre genuinamente cacerense, os dois primeiros anos não foram nada fáceis. A comunidade estava acostumada com o trabalho dos padres estrangeiros, franceses, e, não botavam muita fé num cacerense. Mas para provar que santo de casa faz milagres (risos) , e, com destemor, trabalho e fé, consegui conquistar a todos e cumprir a minha missão de maneira muito profícua. Tanto é que ali permaneci por quatorze anos.
 
J.E - Um momento vivido pelo Senhor como um dos mais felizes na vida sacerdotal?
 
Pe. Geraldo – Felicidade completa e total foi quando completei 80 anos de vida. Fui com uma delegação de 44 pessoas para visitar a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte-SP. Foram 22 pessoas da histórica Vila Bela da santíssima Trindade, e outras 22 da Comunidade Santa Clara do Monte Cristo (Ponta do Aterro). Momento de pura emoção e devoção, de agradecimento também pelo dom da vida!
 
J.E Recentemente, na missa dominical na Paróquia São Judas Tadeu, o senhor pediu diante da imagem do padroeiro da comunidade Monte Verde, mais uns oito, nove ou dez anos de vida...
 
Pe. Geraldo (risos) – Acho que uns oito a dez anos ainda mais de vida tá bom demais! Mas com saúde! Risos. Ainda tenho algumas metas pra serem cumpridas.
 
J.E - Quais metas e objetivos o senhor ainda pensa conquistar aos 83 anos de vida?
 
Pe. Geraldo – Tenho como uma de minhas últimas metas reestruturar o Seminário Bom Pastor. Para este ano pretendo trabalhar com pelo menos 20 seminaristas... Temos condições de receber até 40 deles... Pra isso penso visitar os Estados Unidos e fazer uma peregrinação em busca de recursos para investir no seminário de Cáceres. Os americanos tem verba pra isso. Pretendo viajar pra lá no mês de novembro deste ano. Já estou exercitando o meu inglês (risos). Também como devoto de Santo Antônio, já estou ajudando o Padre Marcos na finalização da obra de construção do santuário na Paróquia Cristo Trabalhador. Trabalhar sempre! Lembro-me que foram oito anos dedicados na construção da Igreja São Miguel. Muito ajudaram e ela está ali  marcando a fé do povo cristão naquele bairro.
 
J.E - No seminário o senhor trabalha na formação dos jovens. Qual recado o senhor dá pra eles?
 
Pe. Geraldo – Nunca deixem a vida religiosa em segundo plano, escolhendo outras profissões. Sintam no fundo de seu coração o chamado de Deus e atenda a vocação vocês meninos e meninas. Uma profissão não pode ser fantasia...Tudo exige sacrifício, dedicação e amor. Temos incentivado as vocações para bons pais de família e mães de família, assim como para a vocação sacerdotal e religiosa, inspirando nesses corações jovens o desejo do serviço a Deus, dedicando-se assim exclusivamente toda a sua vida, e todo seu empenho para o bem da Igreja. Fui aluno de Dom Bosco...Me ajudou demais. Pobre, sacrificado, mas como uma meta: cuidar dos jovens me motiva atuar no trabalho até hoje.
 
J.E - Padre Geraldo, o senhor é feliz?
 
Pe. Geraldo – Se tem um padre feliz, esse padre sou eu! Todo instante agradeço ao Deus Pai. Nunca perdi meus objetivos. Em dez anos na fronteira, enfrentando toda dificuldade, falta de estrutura, quase que isolado, nunca perdi minha fé! Sempre tive foco e objetivo. Meus projetos são sempre pra frente! Tenho sonhos e metas! Nunca vou ser um velho que tenha tempo pra ruminar...Meu tempo eu ocupo muito bem e agradeço a Deus por ter me dado todo esse amor!
 
Entrevista do Jornal Expressão com pesquisa ao livro Vidas Doadas; Org. Pe. Jair Fante, Diocese de São Luiz de Cáceres, 2013.

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