Em solenidade realizada ontem pela manhã, no Parque Estadual Massairo Okamura, que dois dias antes teve parte da vegetação destruída pelo fogo, o secretário Estadual de Meio Ambiente (Sema) e vice-governador, Carlos Fávaro, assinou decreto prevendo a proibição das queimadas em Mato Grosso, campeão nacional em focos de calor atualmente.
O ato foi marcado por discursos contidos, mas com tons de desabafos por conta dos escassos recursos destinados às ações de combate e prevenção aos incêndios florestais, no Estado. Para este ano, a Sema prevê investimento de apenas 1,3 milhão do Plano de Trabalho Anual (PTA). Junto com o Corpo de Bombeiros (CB), a estimativa é que o montante chegue a R$ 4 milhões.
O dinheiro é para atender os 141 municípios mato-grossenses durante o período de estiagem, quando Mato Grosso, líder em desmatamento, alcança os piores índices de queimadas e de baixa umidade relativa do ar (URA). O período proibitivo começa agora, dia 15 de julho e segue até 15 de setembro próximo, sendo passível de prorrogação de acordo com as condições climáticas.
“Nós seremos implacáveis com essa prática primária, mas que já não contempla a sociedade. Determinados um valor de R$ 1,3 milhão, mas isso pode ser estendido e acrescentado na medida em que o clima continuar seco e as queimadas possam vir avançando”, prognosticou Fávaro, destacando investimentos da R$ 16 milhões por parte do Fundo da Amazônia, com a contrapartida do Estado. “O projeto pode chegar a R$ 80 milhões”, disse.
O gestor também saiu em defesa do setor agrícola. “A prática primitiva da queimada é abominada pela imensa maioria dos agricultores. Não é uma técnica moderna. Hoje, em Mato Grosso mais de 97% da agricultura usa do instrumento direto sobre a palhada. A preservação da matéria orgânica sobre o solo é uma prática ambientalmente correta e que dá muitos resultados economicamente”, comentou.
Neste ano, foram feitos apenas 49 pedidos de queima em todo o Estado. “Cada vez mais os produtores têm consciência de que essa é uma prática primitiva, que não dá grandes resultados. Por isso, os poucos pedidos de autorização de queimadas”, amenizou.
Comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Júlio Cesar Rodrigues, lembrou que é responsabilidade do Estado e dos cidadãos minimizarem os problemas provocados pelos incêndios até porque 70% da área rural de Mato Grosso estão nas mãos de proprietários particulares.
“Sejam nas áreas urbanas ou rurais, os proprietários precisam adotar medidas mínimas para evitar que o fogo se inicie ou se propague, nas cidades. É preciso manter os terrenos limpos para evitar não só queimada, mas pequenos roedores e mosquito da dengue. Nas áreas rurais, é preciso fazer aceiro, ter reserva de água e manter vigilância para proteger a propriedade”, cobrou.
Porém, ao discorrer brevemente sobre a missão dos bombeiros, Rodrigues comentou que, por vezes, o militar não mede esforços, é capaz de dar a própria a vida e quer tirar dinheiro do próprio bolso para poder cumprir a sua tarefa. Citou ainda que, no ano passado, um único Estado localizado na região Nordeste do país teve que desembolsar cifras de R$ 15 milhões para o combate a incêndios florestais.
O vice-governador garantiu que a atual gestão, em 18 meses, priorizou o fortalecimento do Corpo de Bombeiros, com a contratação de mais 400 novos oficiais, ao passo que nos últimos 10 anos foram contratados apenas 70.
RANKING - De 1º de janeiro a 05 de julho, houve aumento de aproximadamente 32% nos focos de calor em relação ao mesmo período do ano passado em Mato Grosso. Foram contabilizados 7.008 focos este ano, contra 5.324 no mesmo período do ano passado. O percentual do Estado é inferior ao registrado no Brasil (41%) e nos estados da Amazônia Legal (59%) este ano, mas já serviu de alerta para o Governo do Estado que iniciou seus trabalhos este ano um mês antes ao realizado em 2015.
O ranking dos 20 municípios onde mais são registrados focos de calor são praticamente os mesmos nos últimos cinco anos, com algumas variações de um ano para o outro. Entre os que despertam a preocupação este ano estão: Nova Maringá, Nova Ubiratã, São Félix do Araguaia, Basnorte, Paranatinga, Tangará da Serra, Gaúcha do Norte, Feliz Natal, Querência, Marcelândia, Santa Carmem, Nova Mutum, Tapurah, Sorriso, União do Sul, Campo Novo dos Parecis, Canarana, Tabaporã, Cláudia e Porto dos Gaúchos. O bioma mais atingido é a Amazônia, onde se concentram 4.260 focos de calor, seguido pelo Cerrado, com 2.654 focos e 94 no Pantanal.
BEA - Na oportunidade, houve a inauguração da nova base do Batalhão de Emergência Ambientais (BEA) que ficará instalada no Parque Massairo Okamura. O BEA foi criado para que o serviço especializado pudesse fazer o controle, prevenção e resposta a ocorrências muito graves, como incêndios florestais e emergências com produtos perigosos.