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Terrorismo:"EI" não exige contato com seguidores
Por Rodivaldo Ribeiro
27/07/2016 - 07:40

Foto: divulgação/PF

O recrutamento de terroristas feito pelo Estado Islâmico ao redor do mundo é totalmente pela internet, o que facilita a adesão de jovens

 

Uma das principais características dos integrantes do grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isis, na sigla em inglês) não é a religião muçulmana. Muitos dos que se matam nas ações de terror bebem, fumam e se drogam, algo proibido pela religião -- por exemplo -- e só precisam repetir um juramento gravado frente a uma câmera de computador para declararem-se, a um só tempo, “muçulmano” e combatente da Jihad, a guerra santa reclamada pelos extremistas. Também não há necessidade de conhecer pessoalmente nenhum dos líderes do EI – e nem viajar para o Oriente Médio. 

O que os une é a maneira como se comunicam e são arregimentados para as fileiras da matança -- a internet. 

Foi o que provavelmente fizeram os irmãos de criação Leonid El Kadre de Melo e Valdir Pereira da Rocha, vulgo Mahmoud, os dois suspeitos de participação em atos preparatórios de atentados durante a Olimpíada do Rio de Janeiro (a começar semana que vem), presos e residentes em Mato Grosso. A Polícia Federal já tem provas da frequência de ambos nos grupos de ferramentas comunicacionais online e em ambientes como páginas da web e mídias sociais. 

Munique, Alemanha, dia 25 de julho, próximo da hora do almoço. Em um shopping lotado, um rapaz de 18 anos, alemão de origem iraniana, entra no banheiro da rede norte-americana de fast food McDonald’s, saca uma pistola semiautomática e mata nada menos que dez pessoas, fere outras 21 e se mata. Seu comparsa, outro rapaz de menos de vinte anos, consegue fugir e ainda não foi preso. 

Baviera, região sul da Alemanha, dia 18 de julho, perto das 21h. Um trem cheio de pessoas tentando voltar para casa. Cinco delas, no entanto, têm o caminho atravessado por facadas desferidas a esmo por um menino de 17 anos, refugiado do Afeganistão. Três estão internadas até hoje em estado grave. 

Nice, França, noite do dia 14 de julho. Em uma festa de rua, Mohamed Lahouaiej Bouhlel, 31 anos, conduz um caminhão cheio de armas contra a multidão. Mata 84 pessoas, fere outras dezenas. Em comum entre os três casos, a maneira como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, na sigla em inglês) amealhou esses jovens para sua causa insana. 

Como os irmãos sul-mato-grossenses, nenhum deles jamais travou contato direto com os jihadistas responsáveis por massacres sucessivos primeiro no Iraque -- onde se originou como dissidência de outro grupo terrorista, a Al-Qaeda -- ou na Síria e, em menor grau, no Irã. E por um motivo muito simples: eles não precisam. 

Todo recrutamento para o Isis sempre se deu de maneira garantidamente anônima, por meio das citadas novas ferramentas de comunicação, como explica o professor universitário de ciências da computação Ricardo Couto, também fundador da Semantics, uma empresa de consultoria de experiência do usuário em ambiente online, situada em São Paulo. 

“Há sim uma maioria de pessoas entre 23 e 40 anos que utiliza as mídias sociais mais conhecidas, como o Facebook, mas os mais jovens costumam e preferem agora usar outras, como o Snapchat, cuja característica, por princípio, é o não-rastreamento, pois tudo que se troca lá se autodestrói após no máximo dois minutos. E caso alguém salve uma foto, por exemplo, quem a compartilhou é notificado disso”, explica o especialista. 

E a tendência só faz aumentar em torno de novas maneiras de encontrar meios de garantir privacidade aos usuários. Por isso a criptografia dos mais populares como WhatsApp e Telegram. Dificuldade extra assumida inclusive pelo ministro da Justiça, Alexandre de Morais, na semana passada, durante a coletiva de anúncio da deflagração da Operação Hashtag, responsável pela prisão dos irmãos radicados em Mato Grosso e outras dez pessoas ao redor do país. 

Em um momento tenso, ele preferiu não responder a um jornalista que perguntou como a PF e o Ministério da Justiça conseguiram acesso às mensagens dos aplicativos citados, devido a serem estas protegidas por criptografia. 

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