A morte de uma indígena em um ataque de uma onça-pintada, na região do Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, mobilizou pesquisadores e representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os órgãos estudam a possibilidade de capturar e remover o animal da comunidade indígena.
O ataque, ocorrido em maio deste ano na Aldeia Waurá-Piyulaga, em Gaúcha do Norte, a 595 km de Cuiabá, assustou indígenas e causou a preocupação das autoridades.
A pajé Kuanap Kamayurá, de 56 anos, colhia raízes quando foi atacada e morta pelo animal. Depois disso, supostas aparições de onças, a princípio em um número maior do que o comum, foram relatadas pelos indígenas em quatro comunidades indígenas do Alto Xingu, em Mato Grosso.
Os índios também afirmaram que cães foram atacados e mortos pelas onças. Os relatos e a morte da pajé levaram o ICMBio e a Funai a criarem ações conjuntas para evitar outro ataque e acalmar os indígenas.
Rogério Cunha, do ICMBio, instala armadilhas fotográficas acompanhado dos servidores da Funai — Foto: ICMBio
Segundo Rogério Cunha de Paula, biólogo e coordenador-substituto do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP/ICMBio), 30 câmeras, chamadas de armadilhas fotográficas, foram instaladas em lugares onde os indígenas relataram terem visto as onças.
Foram colocadas câmeras em uma amostragem de 300 km quadrados em comunidades indígenas: Aldeia Piyulaga, Aldeia Ipavu, Posto Avançado Leonardo Villas-Bôas e Saídão da Fumaça.
De acordo com a Funai, os órgãos planejavam a captura e a remoção de onças, além de criar um estudo das condições que possam causar prejuízo à biodiversidade, assegurando a proteção dos índios.
Na avaliação de Rogério Cunha, os casos de ataque de onça a indígenas são raríssimos.
Crianças indígenas e cachorros das aldeias costumam passear nas áreas em torno das comunidades — Foto: Funai
Ele integrou a equipe que fez a identificação das onças nas aldeias Yawalapiti, Ipawu, Piyulaga e no Posto de Serviços Médicos Leonardo Villas-Bôas – local onde aconteceu o ataque à pajé Kuanap Kamayurá.
“Essa indígena mora na margem da floresta e ela saiu sozinha para colher raízes, quando aconteceu o ataque. As filhas ouviram os gritos e acharam o corpo”, relatou Rogério ao G1.
Depois do ataque, representantes da Funai e do instituto começaram a investigar as ocorrências envolvendo pessoas e onças na região. A ideia era tentar desvendar por que as onças estão chegando tão próximas às aldeias e o quanto isso representava de risco para as comunidades indígenas.
As câmeras registraram quatro fêmeas de onça-pintada e um macho considerado o suposto responsável pelo ataque à pajé. Ele foi o animal mais registrado pelas câmeras rondando o perímetro das aldeias.