Uma reportagem do Fantástico (Rede Globo), exibida neste domingo (03), mostrou as “escolas de lata” no Estado de Mato Grosso. São salas de aulas em estruturas de contêineres construídas sem ventilação e às vezes até sem energia elétrica.
A reportagem mostra que, a princípio, seriam estruturas provisórias e atualmente estão como permanentes. Além disso, as imagens mostraram que sem opção, alunos improvisaram a baia de cavalo como sala de aula.
A primeira denúncia apresentada na reportagem trata-se da Escola José Pedro Gonçalves, localizada no município de Rosário Oeste (120 km Cuiabá). Também destaca que é uma comunidade rural no interior e a escola tem uma estrutura de metal que reflete no “sol escaldante” da região.
Até 2016, os alunos estudavam em prédio de alvenaria em dois períodos. Para auxiliar a unidade, o Governo do Estado alugou o contêiner e resolveu colocar como sala de aula. Segundo dados exibidos na reportagem, com a falta de ventilação, estrutura básica e de saneamento, em 2018, 1/3 dos alunos desta escola abandonaram os estudos.
O menino Laurito disse, ao ser entrevistado, que falta motivação para ir à sala de aula nos contêineres. O menino mostra para equipe do Fantástico a estrutura sem lâmpada, sem ar condicionado e as condições insalubres que acaba convivendo.
“Eu não gosto muito de lá não. Lá nos contêineres é quase impossível sobreviver, é muito quente, tipo um forno gigante”, lamentou o menino.
A escola não tem refeitório, nem biblioteca, não tem banheiro com estrutura adequada. As crianças fazem necessidade no mato.
Para o médico pediatra, Arlan Azevedo, todo este cenário contribui para o mal desempenho do aluno. “Essas crianças que ficam nessas condições insalubres por tempo indeterminado teoricamente vai ter uma desempenho escolar diminuída, então isso tem uma marca que vai ficar para o resto da vida dela”, descreveu o médico.
Outro lugar em que a “escola de lata” chegou foi no Pantanal. Porém, como as salas não correspondem à fiação elétrica do local, os contêineres estão parados, sem utilidade. Na unidade, os alunos estudam improvisados em um local que abrigava uma “baia de cavalo”.
Segundo a reportagem, o Governo do Estado alugou 110 contêineres para nove escolas da capital e do interior. Em Cuiabá, na escola Estadual professora Hermelinda de Figueiredo os módulos de metal são usados para sala de aula para 160 alunos. Essa instalação foi feita após uma tempestade que destelhou metade da escola em outubro de 2017. Na época, a previsão era que a reforma duraria seis meses, mas quase um ano e meio depois, os buracos no teto ainda estão lá.
A empresa dos contêineres alega que o Governo não faz o pagamento desde julho do ano passado, por isso não faz nenhum tipo de manutenção. Sendo assim, o resultado é fiação exposta, ares condicionados caindo aos pedaços e chuvas dentro da sala de aula. A denúncia também está direcionada para a estrutura dos contêineres, com as paredes cobertas de PVC, tipo de plástico sem isolamento térmico. O teto tem placas de isopor, material considerado altamente inflamável.
Nenhum dos contêineres instalados nas escolas em Mato Grosso foi vistoriado pelo Corpo de Bombeiros.
O coronel da Reserva do Corpo de Bombeiros, Roger Martini, avisa do perigo e da falta de dispositivo de segurança nas imagens. “A gente vê vários riscos de insegurança ali, com relação a incêndio, a gente materiais combustíveis de toda ordem. A gente não vê dispositivo de segurança”.
A secretária de Estado de Educação, Marioneide Kliemaschewsk, informou que vai acionar os bombeiros para fazer a vistoria, e pedir para que sejam adotadas medidas para sanar as dificuldades nos contêineres. “Essa é uma ação que podemos adotar para garantir a segurança das crianças, estaremos encaminhando uma equipe técnica para averiguar essas situações e verifica dentro das possibilidades atual da secretaria que medidas paliativas nós podemos tomar”, assinala.