Os 120 professores-indígenas, de 23 etnias, em formação nos cursos de Licenciatura em Pedagogia Intercultural e Licenciatura Intercultural da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) participaram, ao longo deste mês de maio, da etapa intermediária da Faculdade Intercultural Indígena (Faindi). Durante essa etapa, são os professores da Unemat que vão às aldeias com os acadêmicos, colocando em prática o exercício de ensinar.
Os cursos de graduação ofertados exclusivamente para a formação de acadêmicos indígenas, obedecem a uma metodologia diferenciada e são desenvolvidos em duas etapas: presencial e intermediária, esta também chamada de “tempo aldeia”.
A etapa intermediária foi realizada em cinco polos distintos: na aldeia Marãiwatsédé (localizada no município de Bom Jesus do Araguaia), na aldeia Kopenoty (em Matupá), Majtyri (Santa Terezinha), Rio Verde (Tangará da Serra) e Cravari (Brasnorte). Nessa etapa, os cursistas desenvolvem atividades orientadas, enquanto ministram aulas nas suas escolas indígenas.
Durante esse período, os estudantes realizam pesquisas, que podem estar associadas à investigação do trabalho de conclusão de curso (TCC) ou a componentes curriculares ofertados na etapa presencial, e ainda desenvolvem atividades de estágio. Todos são orientados por professores da Unemat.
Diferentes saberes
Os indígenas estudam todas as matérias comuns aos não indígenas e as específicas de seu povo. Nas aldeias, a oca, as salas de aula de alvenaria, a sombra das árvores, córregos e as matas são espaços socioeducativos para o aprendizado dos indígenas que cursam o Ensino Infantil, Fundamental e Médio.
A acadêmica Renata Sirajup Mendes Tamana, da etnia Kawaiwete, é professora na escola Juporijup, na aldeia Tatuí (município de Juara). Ela conta que, mesmo antes de entrar na universidade, já lecionava. “Aqui vou poder aprofundar mais os meus estudos. Com isso, vou estar ajudando a minha comunidade nas escolas, na preservação da língua materna”. Ela repassa o seu conhecimento e preserva suas raízes.
A língua materna, a língua portuguesa e a inglesa demonstram a pluralidade de aprendizados. Também se aprende na escola sobre o preparo de alimentos, a construção de ocas e a confecção de trajes, de acordo com cada etnia e com materiais disponíveis na natureza. “A gente aprende um pouco mais sobre a nossa cultura”, disse Irislene Joice Yurulu (10 anos), do povo Manoki, aluna de 5º ano na Escola de Ensino Fundamental e Básico Cravari.
O currículo é flexível e definido com ampla participação de todos os envolvidos no processo. Os cursos são desenvolvidos em articulação constante com o movimento indígena, tendo como valores centrais: discussão de território dos povos, valorização da identidade e cultura, diálogos interculturais entre diferentes conhecimentos, saberes, valores e princípios cosmológicos dos povos originários do Brasil.
Etapa presencial
Já a etapa intensiva de estudos presenciais acontecem no câmpus da Unemat em Barra do Bugres, em dois encontros anuais, períodos de férias e recessos escolares dos acadêmicos-indígenas. A próxima ocorrerá no período de 1º de julho a 10 de agosto.
Faculdade Indígena
A formação de professores indígenas, em nível de graduação, é uma prática consolidada na Unemat, que oferta cursos superiores específicos e diferenciados por meio da Faculdade Intercultural Indígena, desde 2001.
Referência nacional e na América Latina na condução intercultural de uma proposta pedagógica de ensino diferenciado e de valorização étnica, a Unemat já formou 450 professores e especializou 140 deles. Este ano, a Faculdade aprovou a oferta mestrado profissional em Ensino em Contexto Indígena Intercultural, voltado especificamente para os povos indígenas.