Quando minha filha se abriu, dizendo que namora outras meninas, não havia percebido antes nenhum traço característico de homossexualidade. Talvez porque nunca tenha me preocupado com isso. Não foi uma conversa solta no ar e sim mais uma entre tantas que sempre tivemos. Também não me causou espanto. O que ela me dava era só mais uma informação sobre quem é e a diversidade sexual é fato. Como sempre ensinei que o melhor mesmo é a gente ser autêntica, não poderia ser diferente.
Porém, de imediato tive muito medo dela ser agredida na rua, de passar por qualquer tipo de humilhação, de ser, de alguma forma, discriminada. Isso ia machucar demais nós duas, ela diretamente, eu como mãe. Meu coração ficou aos pulos, de pensar que isso a deixaria em situação de vulnerabilidade, em uma sociedade hostil, que recrimina não somente a chamada comunidade LGBTQIA+, mas qualquer um que não se enquadre nas caixinhas impostas.
Por exemplo. Eu sou casada com um homem mais jovem. No início do relacionamento, isso foi um problema, não para nós. Aos poucos, fomos provando, mesmo sem precisar, que mais forte ali era o amor que a idade.
Outro exemplo, acredita-se que uma mulher gorda não possa ser feliz, bonita, nem sexy. Sendo assim, o desejo de emagrecer virou uma paranoia. Poderia citar várias gordinhas que quebram paradigmas, mas deixa para lá...
Ocorre que a orientação sexual da minha filha me estimulou a participar da organização Mães pela Diversidade MT. A ONG articula mães que, por amor aos filhos, participam, como apoiadoras, da luta LGBT. Nas paradas da diversidade, que já ocorrem em diversas cidades do mundo – e em Cuiabá tem – as mães abrem o desfile e a mensagem disso é tão bonita: vão na comissão de frente, para, com amor materno, quebrar o preconceito. Deixem nossos filhos em paz! São tão horríveis os casos de violência por homofobia. Matar por esse motivo? Que barbárie é essa!
Coordenadora do Mães pela Diversidade MT, a Josi Marconi, também é mãe de uma filha lésbica. Segundo ela, sempre soube, desde que ela era pequena, e isso não implicou em problema e sim muita orientação também. “A primeira vez que ela saiu com uma namorada, tinha uns 15 anos, eu que a levei ela ao shopping" - narra Josi, com o orgulho de quem sempre amou e apoiou.
Olha gente, é possível largar de preconceito e acolher. Nossos filhos, então, principalmente. Rejeitar por esse motivo me faz pensar que tem falha demais nesse amor aí, avalie, mude de postura.
Neste sábado, dia 29, é dia de cobrar visibilidade às lésbicas. E quem são elas? São mulheres, são muitas, mulheres que amam outras mulheres, são mulheres que amam, diz a campanha institucional da data. São professoras, médicas, donas de casa, jornalistas, manicures, empresárias, estudantes e muito mais. Algumas têm traços mais masculinos, outras extremamente femininos, isso não as define.
Pode parecer complicado, como as tantas letras LGBTQIA+, mas é simples assim. Com amor, com respeito, a gente muda essa cena ainda tão homofóbica.
Keka Werneck é jornalista em Cuiabá, editora do site Rdnews e integrante da organização Mães pela Diversidade MT. E-mail: keka@rdnews.com.br