Feriadão
Por por Gabriel Novis Neves
14/11/2012 - 18:02
É um jeitinho brasileiro para não trabalhar. Isso só foi possível com o apoio incondicional do governo que, diga-se de passagem, detesta o trabalho.
Existe em Brasília uma super-repartição pública que consome alguns bilhões de reais por ano e onde o regime de “trabalho” faz tempo que é de apenas três dias por semana.
É o templo de gente que não é ‘qualquer um’ e de seus apaniguados.
Todos possuem uma rica biografia de sucesso empresarial, e seus gabinetes são ocupados pela fina flor dos seus competentes amigos.
Semana de três dias (terça, quarta e quinta) é mais do que suficiente para causar grandes males para este país.
Se somarmos a essa semaninha instituída pelos fazedores de leis as férias regimentais, teremos uma ligeira visão da causa do nosso atraso, especialmente, em educação.
Tudo que é bom para os nossos legisladores em Brasília é bom para o Brasil. Assim, assistimos à repetição deste fenômeno nas assembleias legislativas dos estados e em todas as câmaras de vereadores.
Mesmo com apenas três dias por semana para ficar na capital federal, tratando dos seus interesses pessoais, essa gente ainda consegue, semanalmente, produzir manchetes de escândalos não-republicanos publicados nos principais jornais e revistas, além da imensa rede social.
Devido ao excesso de arrecadação por que passa a nossa economia, o alvo predileto desses predadores oficiais é o cofre público, segundo parecer do senhor procurador-geral da República e entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF).
Se houvesse uma varredura ética nessa repartição aumentaria, em muito, os cálculos do ex-presidente da República que, quando no Congresso Nacional, calculou em trezentos, o número de picaretas. Agora, sem poder, vive o seu inferno astral.
Há um detalhe nos feriados prolongados de ordem médica. Eles fazem mal à saúde. Produzem a desregularização do relógio biológico das pessoas.
Acordamos e não temos a mínima ideia do dia, semana e mês em que nos encontramos.
Quando o organismo consegue restabelecer o equilíbrio, surge um novo feriadão, às vezes, totalmente inesperado e injustificável.
Em um país fértil em leis, sugiro a quem de direito a criação da Bolsa Feriadão, para as despesas não-programadas para esses longos períodos de lazer.
Tudo aprovado pelo Legislativo, homologado pelo Executivo e logo regulamentado.
Os economistas vivem calculando o que representa para o Brasil o custo de um feriadão.
Se outros estados têm enormes prejuízos na sua arrecadação, como o estado de São Paulo, isto não acontece por aqui.
Vivemos afogados pelo excesso de arrecadação, mesmo sendo um Estado produtor de alimentos e sem estradas adequadas para o escoamento da nossa principal riqueza que vem do agronegócio.
A falta de mão-de-obra qualificada e o estilo de governar, ajuntado ao desperdício do nosso dinheiro arrecadado pelos impostos cada vez mais sufocantes, fecham o ciclo do incompreensível.
Os repasses ao Legislativo, Judiciário e Tribunal de Contas foram a solução encontrada pelo governo para esvaziar os cofres do Tesouro estadual.
Em compensação, corta os repasses constitucionais, principalmente, para a nossa moribunda Saúde pública.
‘Rico não precisa da prefeitura’.
Então fechemos os hospitais, policlínicas e postos de Saúde, pois pobre não tem voz.
Feriadão é um período que nem cara possui. Na melhor das hipóteses, é uma mistura de sábado, domingo e preguiça.
Oficialmente, o seu prazo para terminar é por tempo indeterminado.
Ah!, feriadão!
Até o próximo!
*GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT