Especialistas em saúde defendem em audiência pública no Senado Federal melhor comunicação, mais ciência e vacina contra pandemia
O relator da Comissão Temporária Covid-19 do Senado, Wellington Fagundes (PL-MT) afirmou nesta segunda-feira, 19, que a desinformação é o maior problema do Brasil na pandemia, além da falta de vacinas. Segundo ele, o Governo Federal erra na forma de se comunicar com a população. As observações foram feitas durante reunião com especialistas convocada para debater protocolos de tratamento da doença.
“Até agora, nós estamos perdendo vidas exatamente por não ter uma informação correta e adequada” – acentuou o parlamentar. Ele lembrou que há duas semanas a Comissão Temporária se reuniu com o então secretário interino de Comunicação do Governo, almirante Flávio Rocha. “O Governo está pecando na comunicação” – ele acrescentou.
Autor do Projeto de Lei 1343/2021, que autoriza o uso dos laboratórios industriais do agro para produção de vacinas contra a Covid, Wellington ressaltou que a política de saúde brasileira é elaborada pelo Poder Executivo, mas segundo ele a execução das ações de combate ao coronavírus cabe aos estados, ao Distrito Federal e, principalmente, aos municípios. Para o senador mato-grossense, as medidas de isolamento impostas pelos estados para conter o vírus são necessárias, mas devem ser feitas com critério e bom senso.
Ao defender a necessidade de melhorar a comunicação com a população e fazer esclarecimentos, Wellington lamentou que os meios de comunicação estejam sendo usados erroneamente. “Eu penso que, mesmo neste momento, ainda continua faltando bom senso no cuidado com essa pandemia” – ele observou.
Representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Instituto Questão de Ciência (IQC) e de médicos intensivistas, que participaram da audiência da CT da Covid-19 do Senado, concordaram e apoiaram a cobrança feita pelo senador do PL de Mato Grosso. Para eles, a ciência aliada à medicina, a vacinação em massa e uma comunicação adequada são as principais saídas para a pandemia.
Tratamento Precoce
Convocada para debater procedimentos médicos aos que são alcançados pela Covid-19, os participantes da reunião da CT do Senado foram praticamente unânimes ao descartar o chamado tratamento precoce. Para a presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natália Pasternak, o uso do método contra o coronavírus tem componentes desmentidos pela ciência.
Segundo ela, existem evidências científicas, em mais de 30 estudos, de que medicamentos como ivermectina e hidroxicloroquina não funcionam. Natália lamentou o fato de médicos indicarem esses remédios, “numa tentativa desesperada de oferecer algo aos pacientes”.
O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Donizetti Giamberardino, alertou para o fato de que a prescrição inadequada de medicamentos pode levar os clínicos a responderem judicialmente. Ele disse que esses profissionais têm autonomia, mas não devem se exceder na indicação de exames e remédios excepcionais já que, segundo afirmou, “a medicina caminha ao lado de evidências científicas”.
Pacientes intubados
Hoje, de cada 10 pacientes intubados, 8 acabam morrendo. O médico intensivista Fabrício Silva explicou aos senadores que os métodos de sedação e analgesia não são algo simples e que médicos recém-formados ainda estão imaturos para tratar da situação. Segundo ele, as autoridades precisam entender as características de cada região do país, a fim de colaborar com a padronização do tratamento dos infectados com covid-19, “numa linha de cuidado que seja única, de norte a sul do país”.