Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Atitudes da classe C
Por por Onofre Ribeiro*
30/04/2012 - 18:26

Aprendi com meu pai a arte de contextualizar as coisas, através dos seus intermináveis causos e das longas conversas noite adentro naquela distante Minas Gerais da minha infância e adolescência. Região fria, ao redor do fogo se conversava muito. Ele era um contextualizador nato. Lembro isso para contextualizar o tema do título deste artigo. Antes de 1994 a pirâmide social brasileira mostrava a classe A com 2% da população, a classe B com 6% e a C, D e E com 92%. Quer dizer: as classes A e B eram quem viajavam de avião, compravam carro novo, apartamentos e casas novas, colocavam os filhos na escola particular e frequentavam shopping centers. As classes C, D e E, não tinham muita chance de ascensão, porque seus salários eram baixos e porque enfrentavam uma inflação que corroía até 60% no fim do mês. Era só massa para as duas primeiras Logo, seu papel político era insignificante para a sociedade já que tinham pouca escolaridade, baixo poder de consumo, e poucas chances de ascensão. O Plano Real em 1994 acabou com a inflação e deu ao salário real poder de compra. Um real no começo do mês era um real no fim do mês! Veio a bolha de crescimento mundial, somada com a recomposição do salário mínimo acima da inflação e, pasmem, o sonho em 2002 era que alcançasse os 100 dólares. Hoje alcança perto de 350 dólares. Vieram os programas tipo bolsa-família e fortaleceram esse conjunto virtuoso. Aí, aqueles 6% da classe média chegam hoje a 54% e espera-se que cheguem a 60% da população em 2014. Isso é uma extraordinária revolução social. Por isso a nova classe média é cortejada pelo consumo. Mas há um setor que absolutamente ainda não a compreendeu: a política e os políticos. A nova classe média tem valores próprios muito curiosos. É despojada no vestir, viaja de avião usando chinelos e bermuda, mas tem telefones celulares, casa própria, computadores, veste-se de um modo particular, valoriza a educação como canal de progresso, tem ética diferenciada e, sobretudo, ainda não perdeu a solidariedade social, valores que a antiga classe B e a A perderem, completamente faz muito tempo. A nova classe C não quer perder os espaços conquistados, teme voltar atrás e trabalha para aviar-se no tempo. Por isso, não aceita mais a relação com os políticos baseada no clientelismo e na compra de votos. Não compreende completamente a corrupção porque quando era classes C, D e E, não estava politizada. Mas sabe que a corrupção estraga os recursos que vão lhe levar progresso. Contextualizado isso, volto ao assunto no próximo artigo, me lembrando sempre da capacidade do meu pai de contar longos causos sem perder o interesse da plateia. *Onofre Ribeiro é jornalista em MT.
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